Perseguição à prática de meditação na China continua inabalável, com mais de 900 praticantes condenados por sua fé em 2018

Embora a constituição da China garanta a liberdade de crença, os praticantes do Falun Gong e outras religiões minoritárias continuam sendo assediados e punidos arbitrariamente pelas autoridades locais

14/02/2019 21:21 Atualizado: 14/02/2019 21:22

Por Nicole Hao

Em 2018, o regime chinês condenou 933 chineses porque eles praticam o Falun Gong, uma prática espiritual proibida e severamente perseguida pelas autoridades desde 1999.

O Falun Gong, também conhecido como Falun Dafa, foi promovido e elogiado pelo Partido Comunista Chinês depois que milhões de chineses melhoraram sua saúde física e mental por conta da prática. Mas, temendo que sua popularidade minasse a autoridade do Partido, em julho de 1999, o então líder do PCC, Jiang Zemin, lançou uma perseguição nacional, mobilizando todo o aparato de segurança do país para localizar, prender e deter adeptos do Falun Gong.

Desde então, centenas de milhares foram detidos por sua fé em cadeias, prisões, campos de trabalho forçado e centros de lavagem cerebral, onde são freqüentemente torturados fisicamente e psicologicamente, na tentativa de forçar os adeptos a desistir de sua fé.

Embora a constituição da China garanta a liberdade de crença, os praticantes do Falun Gong e outras religiões minoritárias continuam sendo assediados e punidos arbitrariamente pelas autoridades locais. A acusação mais comum atribuída aos adeptos é a expressão vaga “infringir a aplicação da lei”.

A perseguição continua inabalável hoje. Professores, acadêmicos, empresários, engenheiros seniores, médicos e juízes estavam entre os praticantes do Falun Gong de 27 províncias que foram condenadas pelos tribunais chineses em 2018, sendo a sentença mais longa de 14 anos, segundo as últimas informações coletadas pelo Minghui.org, um site norte-americano que rastreia a perseguição ao Falun Gong na China.

Os praticantes foram multados em um total de 2,463 milhões de yuans (US$ 370.000) por razões arbitrárias relacionadas à sua fé.

Guo Zhenxiang, 82 anos, da cidade de Zhaoyuan, província de Shandong, foi vítima dessa perseguição e assassinada em 11 de janeiro de 2019, várias horas depois de ser detida em uma delegacia de polícia.

O Minghui.org informou em 17 de janeiro que a família de Guo disse que ela estava muito saudável nos últimos 20 anos, e se sentia muito bem quando saiu de casa no início da manhã. Mas às 10h em 11 de janeiro, a polícia ligou para a família e disse que Guo havia morrido por doença.

A família disse que a polícia se recusou a deixá-los ver o corpo de Guo no início, e finalmente lhes disse que a delegacia já havia enviado o corpo para uma casa funerária.

O Minghui.org informou em 3 de fevereiro que a família de Guo contratou dois advogados, que finalmente puderam ver o corpo de Guo. Eles descobriram que a cabeça de Guo tinha estase de sangue e contestaram o relato da polícia sobre sua morte.

Quando os advogados pediram o vídeo do processo de interrogatório de Guo, a polícia recusou e disse que Guo caiu sozinha e morreu. Eles também negaram que inicialmente disseram que Guo havia morrido de uma doença.

Pelo menos 4.236 praticantes do Falun Gong foram perseguidos até a morte na China desde julho de 1999, segundo o Minghui.org, embora especialistas em direitos humanos acreditem que o número real seja provavelmente muito maior devido à dificuldade de obter informações confidenciais fora da China.

Múltiplas detenções

Yang Xiyuan, de 83 anos, reside no distrito de Wujin, na cidade de Changzhou, província de Jiangsu, no leste da China. Ele é o mais velho entre os adeptos que foram detidos em 2018, segundo o Minghui.org.

Yang é um agricultor. Ele se tornou mais saudável e mais sábio depois de praticar o Falun Gong nos anos 90. Após o regime chinês iniciar sua perseguição, Yang continuou a praticar.

Mas em 2005, Yang foi preso e sentenciado a sete anos de prisão, segundo o Minghui.org. Após a sua libertação em 2012, Yang voltou para casa e continuou a praticar.

Em 9 de julho de 2017, Yang foi detido e revistado por agentes de segurança nacional. Depois que encontraram material do Falun Gong na bolsa de Yang, ele foi detido novamente. Os agentes e a polícia local também invadiram a casa de Yang e confiscaram objetos pessoais valiosos, de acordo com um relatório do Minghui.org em maio de 2018.

Em 4 de janeiro de 2018, o tribunal distrital de Wujin condenou Yang à prisão por dois anos sem notificar a sua família. Yang está agora detido em uma prisão na cidade de Suzhou.

Detecção de alta tecnologia

Kong Jie, 63, uma química Ph.D. e funcionária da Northwest Normal University, foi condenada a dois anos de prisão e multada em 3.000 yuans (US$ 445) em maio de 2018 pelo tribunal distrital de Fengtai, em Pequim, informou o Minghui.org em 5 de janeiro de 2019.

Kong foi presa na Estação Ferroviária Oeste de Pequim quando ela tentou pegar o trem de volta para sua cidade natal, no noroeste da província de Gansu, juntamente com seu marido, em 31 de agosto de 2017, de acordo com o Minghui.org. A polícia a parou e digitalizou seu cartão de identificação. O sistema de computação mostrou que Kong era uma praticante do Falun Gong. A polícia começou a confiscar livros, um laptop, um disco rígido externo e dinheiro de sua bolsa. Então, eles invadiram a casa dela, onde levaram o celular, os DVDs e o disco rígido do computador.

Kong foi detida anteriormente três vezes. Em 2005, ela foi condenada a três anos em campo de trabalho. Em 2010, ela foi condenada a 30 meses em campo de trabalho forçado. Então, em 2016, a polícia tentou sequestrá-la de sua casa e quebrou o braço no processo. Eles finalmente a libertaram, mas não lhe deram nenhum tratamento.

O Minghui.org entrevistou a família e amigos de Kong, que disseram que Kong foi torturada, abusada, espancada e passou por lavagem cerebral durante suas detenções anteriores.