Nascidos sob perseguição na China, sobreviventes relembram a dor e pedem ação em vigília em Washington

Os praticantes do Falun Gong privados de uma infância normal na China esperam fazer a sua parte para trazer um futuro melhor.

Por Eva Fu
14/07/2024 22:43 Atualizado: 15/07/2024 13:56
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.

WASHINGTON—Li Hongxiang não sabe como é a vida familiar normal—ele foi privado disso logo após o nascimento.

Ele tinha 36 dias de vida quando as autoridades chinesas prenderam seu pai. A próxima vez que se reencontraram, ele tinha 10 anos.

Após prenderem seu pai e avós, a polícia espancou sua mãe, que ainda estava no pós-parto, exigindo saber quem ajudou a colocar uma faixa em sua cidade natal, Shenyang, que dizia “Falun Dafa é Bom”. Ela embrulhou o bebê e fugiu de casa.

Durante a maior parte desses 10 anos, os dois se mudaram de lugar em lugar. Depois de uma visita ao seu pai na prisão em 2005, a polícia rastreou sua mãe e impôs a ela uma pena de prisão de três anos. Ele tinha quatro anos.

Eles não cometeram nenhum crime. O que os tornou alvo foi sua fé no Falun Gong, uma disciplina de meditação que ensina os valores de verdade, compaixão e tolerância. A família Li, assim como um número estimado de 70 milhões a 100 milhões de outros praticantes na China comunista, se viu encurralada por uma campanha de perseguição do regime chinês. 

Prisões arbitrárias, trabalhos forçados, tortura brutal, extração forçada de órgãos. Um número incalculável de praticantes, jovens e idosos, sofreram ou morreram por isso no último quarto de século. Em 11 de julho, no National Mall em Washington, o Sr. Li e milhares de outros se reuniram para realizar uma vigília em homenagem as vítimas e sobreviventes.

A poucos passos de onde ele estava, na beira do gramado, filas e filas de pessoas sentadas silenciosamente, as luzes cintilantes das velas iluminando seus rostos e as camisas amarelas brilhantes.

O Partido Comunista Chinês “não tem respeito pela vida das pessoas”, ele disse ao *Epoch Times*.

Nascido um ano após o início da perseguição, o Sr. Li viu sua família ser “completamente destruída” pelo regime. Aos 10 anos, seu pai saiu da prisão como um mero esqueleto, com apenas três dentes, tuberculose e quase 36 quilos mais magro. Ele faleceu um ano depois.

Mas a dor não foi só dele—o jovem de 23 anos disse que conhece muitas famílias que passaram por provações semelhantes.

“Eu vivi e vi demais,” ele disse ao *Epoch Times*.

Li Hongxiang participa de um comício e uma marcha pedindo o fim da perseguição de 25 anos do Partido Comunista Chinês à prática espiritual em Washington, em 11 de julho de 2024. (Madalina Vasiliu/Epoch Times)

Uma promessa de não esquecer

De tanto que ele disse se sentir quase “entorpecido” pelo sofrimento. Com 1,85 metro, o Sr. Li parece ter armazenado todas aquelas memórias sombrias dentro de si. Seus braços se tensionaram quando ele posou para uma foto. Ele aprendeu a aceitar as coisas como elas são, disse ele.

O Sr. Li não conseguia relaxar durante os feriados na China. Porque esses eram os dias em que a polícia batia na porta de sua casa pressionando-os a abandonar sua fé, dias em que ele simplesmente esperava que “nada acontecesse hoje”.

Desde que fugiu para a Tailândia aos 13 anos e mais tarde se estabeleceu na América, ele tem observado famílias felizes juntas todos os dias. Ele poderia ter sido uma delas. Mas como elas conseguem isso é algo que ele agora luta para entender—ele não cresceu com isso. O regime matou essa possibilidade.

Onde as palavras falham, o Sr. Li parece compensar com ação. Na vigília e em um comício anterior, ele transportava equipamentos, ajudava a organizá-los e limpava o local.

Uma foto sem data de Li Hongxiang com sua bisavó na China. (Cortesia de Minghui.org)

Ele participou de todos os eventos anuais no National Mall.

“Eu constantemente me lembro de não esquecer,” ele disse.

Parte disso é para homenagear as vidas perdidas, incluindo a de seu pai.

“As pessoas que foram perseguidas até a morte precisam ser lembradas,” ele disse. “Porque elas experimentaram o que muitos de nós talvez não experimentemos em nossa vida.”

“Nós não merecemos tal perseguição”

Mas ele não é o único a crescer na sombra do terror estatal.

Zhang Huaqi, que é alguns meses mais velha, foi igualmente separada de seu pai no ano de seu nascimento. Fazer faixas do Falun Gong foi a infração mencionada no documento de sentença de um ano.

Durante os primeiros 16 anos de sua vida, até sua fuga para os Estados Unidos, a Sra. Zhang não ousou falar sobre sua fé para os outros. Seus pais e avós enfrentavam riscos de prisão a qualquer momento, e ela temia ser ostracizada na escola por ter uma crença que o regime demonizou tão completamente.

Zhang Huaqi, após participar de um comício e uma marcha pedindo o fim da perseguição de 25 anos do Partido Comunista Chinês à prática espiritual em Washington, em 11 de julho de 2024. (Madalina Vasiliu/Epoch Times)

No ensino médio, ela lembra de estar desconfortável na sala de aula, ouvindo o professor repetir a mesma propaganda de ódio que seu livro didático sobre um incidente de autoimolação na Praça Tiananmen, que o governo dizia envolver o Falun Gong — mas posteriormente foi comprovado que o evento na realidade tinha sido cuidadosamente encenado e não era real.

Culpa e tristeza a atingiram ao mesmo tempo que seus colegas de classe estavam se manifestando, “acreditando nas mentiras”.

“Eu sabia qual era a verdade, mas não ousei me levantar,” ela disse ao *Epoch Times*.

O possível custo era caro. Com o incentivo aberto de Pequim, alguém poderia denunciá-la e levar o caso às autoridades escolares ou à polícia, todos sob ordens de eliminar a fé.

Quando ela tinha oito anos, uma onda de prisões antes das Olimpíadas de 2008 em Pequim levou à prisão de sua mãe.

Durante uma visita à prisão, ela viu sua mãe com o rosto magro, seu longo cabelo cortado até as orelhas.

Documentos de sentença chineses dos pais de Zhang Huaqi, Chen Jingyu e Zhang Ming, por sua crença no Falun Gong na China. (Cortesia de Chen Jingyu)

Se passaram mais oito anos antes que a Sra. Zhang conhecesse a perspectiva completa daquele um ano de prisão de sua mãe: as quase 10 horas de trabalho diárias de sua mãe fazendo bonecas de pano destinadas ao Japão, a cola que irritava seus olhos, guardas que gritavam com os trabalhadores mais lentos, e horários de refeição que não duravam mais que alguns minutos.

“Os praticantes do Falun Gong são todas pessoas boas,” disse a Sra. Zhang. “Nós não fizemos nada de errado, e não merecemos tal perseguição.”

Se pronunciar agora, com as liberdades que encontraram na América, era uma maneira de tentar fazer a diferença para aqueles que ainda estão na China.

“Eu não posso mudar o passado,” disse o Sr. Li. “O que posso fazer é ajudar onde sou necessário—fazer a minha parte.”

Praticantes do Falun Gong se reúnem para uma vigília à luz de velas em memória dos praticantes do Falun Gong que foram perseguidos até a morte na China pelo Partido Comunista Chinês no National Mall em Washington, em 11 de julho de 2024. (Madalina Vasiliu/Epoch Times)

 

Praticantes do Falun Gong participam de uma vigília à luz de velas em memória dos praticantes do Falun Gong que faleceram durante 25 anos de perseguição contínua pelo Partido Comunista Chinês na China no National Mall em Washington, em 11 de julho de 2024. (Larry Dye/Epoch Times)
Praticantes do Falun Gong participam de uma vigília à luz de velas em memória dos praticantes do Falun Gong que faleceram durante 25 anos de perseguição contínua pelo Partido Comunista Chinês na China no National Mall em Washington, em 11 de julho de 2024. (Larry Dye/Epoch Times)
Praticantes do Falun Gong se reúnem para uma vigília à luz de velas em memória dos praticantes do Falun Gong que foram perseguidos até a morte na China pelo Partido Comunista Chinês no National Mall em Washington, em 11 de julho de 2024. (Madalina Vasiliu/Epoch Times)
Praticantes do Falun Gong se reúnem para uma vigília à luz de velas em memória dos praticantes do Falun Gong que foram perseguidos até a morte na China pelo Partido Comunista Chinês no National Mall em Washington, em 11 de julho de 2024. (Madalina Vasiliu/Epoch Times)
Praticantes do Falun Gong se reúnem para uma vigília à luz de velas em memória dos praticantes do Falun Gong que foram perseguidos até a morte na China pelo Partido Comunista Chinês no National Mall em Washington, em 11 de julho de 2024. (Madalina Vasiliu/Epoch Times)
Praticantes do Falun Gong se reúnem para uma vigília à luz de velas em memória dos praticantes do Falun Gong que foram perseguidos até a morte na China pelo Partido Comunista Chinês no National Mall em Washington, em 11 de julho de 2024. (Madalina Vasiliu/Epoch Times)