Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
A recente condenação de um médico chinês e a misteriosa morte de um denunciante expuseram ainda mais o grande esquema de extração forçada de órgãos, sancionado pelo Estado na China, de acordo com analistas.
Liu Xiangfeng, cirurgião de um dos principais hospitais chineses, acusado de corrupção e de remover órgãos saudáveis de pacientes, foi condenado a 17 anos de prisão.
Enquanto isso, os pais do denunciante — que morreu em circunstâncias suspeitas após reunir provas contra Liu e o hospital — estão escondidos desde 3 de novembro, pouco antes de a polícia tentar prendê-los, segundo uma fonte familiarizada com o caso relatou ao Epoch Times.
Os pais haviam publicado nas redes sociais alegações de que o hospital comercializava órgãos e designava estudantes de medicina para encontrar doadores pediátricos. Eles também afirmaram que seu filho pode ter sido assassinado por tentar denunciar o esquema.
Sentença
Liu, de 50 anos, era vice-médico-chefe do Segundo Hospital Xiangya da Universidade Central do Sul. Entre 2017 e 2018, ele estudou no Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, conforme indicava seu perfil no site do hospital, agora excluído.
Liu foi investigado e apelidado de “médico do diabo” pela mídia chinesa após denúncias anônimas ganharem repercussão nas redes sociais em 2022. Ele foi acusado de diversas irregularidades, incluindo realizar cirurgias desnecessárias em pacientes com condições leves, bem como em pacientes sem chances de sobrevivência, além de remover órgãos saudáveis de pacientes para fins lucrativos.
Em 31 de outubro, um tribunal chinês condenou Liu a 17 anos de prisão por crimes como lesão corporal intencional, suborno e apropriação indébita ocupacional. Ele também foi multado em 420.000 yuans (cerca de US$ 58.200).
De acordo com o comunicado do tribunal, Liu e um colega, condenado a sete anos de prisão, “exageraram as condições dos pacientes e fabricaram sintomas” para realizar cirurgias desnecessárias em seis pacientes, cobrando taxas adicionais. Isso resultou em lesões graves em cinco pacientes e leves em um. O tribunal não forneceu detalhes sobre as lesões.
Morte do denunciante
Novas alegações foram recentemente apresentadas contra Liu e o Segundo Hospital Xiangya, feitas pelos pais do denunciante falecido, Luo Shuaiyu.
Segundo relatos policiais, Luo morreu ao cair do dormitório do hospital em 8 de maio.
Luo era estudante de mestrado e trabalhava como estagiário no departamento de transplantes renais do hospital.
Em 19 de outubro, os pais de Luo divulgaram um vídeo alegando que seu filho foi assassinado por denunciar o esquema de extração e tráfico de órgãos no hospital. Desde então, o pai de Luo fez transmissões ao vivo no Douyin, a versão chinesa do TikTok, falando sobre as evidências que Luo havia coletado. No entanto, a conta dele foi esvaziada em 2 de novembro.
De acordo com as alegações publicadas pela família de Luo online e materiais fornecidos à edição chinesa do Epoch Times por uma fonte que conversou com o pai de Luo, a família suspeitou de irregularidades na morte de Luo, mas foi forçada a assinar um documento afirmando que sua morte foi um “suicídio”.
A família recuperou o celular e o computador de Luo do dormitório, restaurou os dados e encontrou mais de 1.000 evidências coletadas por Luo, incluindo capturas de tela e gravações de voz, relacionadas à suposta extração e comércio de órgãos realizados por Liu em conluio com outros.
A família de Luo alegou que, ao longo dos anos, o Segundo Hospital Xiangya usou as contas WeChat de estudantes, incluindo a de Luo, para “transferir até 40 milhões de yuans [cerca de US$ 5,5 milhões] de lucros de transplantes de órgãos ilícitos” para a enfermeira-chefe do departamento de transplantes renais.
O pai de Luo também relatou conversas que teve com seu filho, nas quais Luo sugeriu que médicos do hospital estavam removendo órgãos de pacientes sem seu conhecimento ou consentimento.
Uma gravação telefônica entre um “representante” do hospital e Luo, então recém-empregado, teria levado à morte do estagiário, segundo o pai.
Na gravação, é possível ouvir o interlocutor pedindo a Luo que encontrasse 12 doadores pediátricos, incluindo seis crianças entre 3 e 5 anos e seis entre 6 e 9 anos, sendo necessário que cada grupo incluísse três meninos e três meninas.
O objetivo do projeto de três anos seria “estudar o transplante de rins de doadores infantis e coletar dados experimentais para um artigo científico”, segundo o pai de Luo.
O pai afirmou que Luo recusou a tarefa e pode ter sido assassinado por isso.
De acordo com a fonte que conversou com o pai de Luo, no dia anterior à sua morte, Luo foi novamente pressionado por seu orientador para localizar os 12 doadores infantis, ao que Luo respondeu com ameaças de denunciá-lo.
O Epoch Times não conseguiu verificar de forma independente as alegações.
Extração de órgãos sancionada pelo Estado
De acordo com especialistas em China, o caso de Liu é apenas um desdobramento do esquema industrial de extração de órgãos no país.
Tang Jingyuan, comentarista de atualidades radicado nos Estados Unidos e médico, afirmou que a descrição dos crimes de Liu pelo tribunal obscureceu a questão central: o “roubo de órgãos saudáveis de pacientes” para venda lucrativa.
“Na verdade, isso expôs um dos crimes mais horrendos do Partido Comunista Chinês, que é a indústria negra de extração de órgãos de pessoas vivas, da qual [o caso de Liu] é parte”, disse ele ao Epoch Times.
O Segundo Hospital Xiangya possui um dos maiores centros de transplante da China e é supostamente um participante importante no esquema sancionado pelo Estado de extração forçada de órgãos de praticantes do Falun Gong, segundo o grupo de direitos humanos World Organization to Investigate the Persecution of Falun Gong (WOIPFG).
O Falun Gong, também conhecido como Falun Dafa, é uma prática espiritual baseada nos princípios de verdade, compaixão e tolerância. O grupo tem sido perseguido pelo PCCh desde 1999. Milhões de praticantes foram detidos, torturados ou mortos, de acordo com o Falun Dafa Information Center.
Em 2019, o Tribunal da China, sediado em Londres, concluiu que o regime chinês cometeu tortura e crimes contra a humanidade ao realizar extração forçada de órgãos de prisioneiros de consciência, sendo os praticantes do Falun Gong o principal grupo de vítimas assassinadas por seus órgãos. Evidências também apontam para a extração forçada de órgãos de muçulmanos uigures e outras minorias étnicas nos últimos anos.
Segundo o WOIPFG, o número de transplantes de órgãos no Segundo Hospital Xiangya aumentou drasticamente desde 2002, enquanto sua equipe de coordenação de doações humanas existia apenas “no papel”, sugerindo que o hospital faz parte do comércio de órgãos sancionado pelo PCCh.
Devido ao histórico das autoridades chinesas de encobrir informações, é difícil verificar a participação de médicos específicos na extração forçada de órgãos. O WOIPFG alegou em sua série de relatórios investigativos sobre o assunto que “todas as instalações de transplante na China hoje participaram da extração de órgãos de pessoas vivas”.
Wu Shaoping, advogado de direitos humanos radicado nos EUA, afirmou ao Epoch Times que as circunstâncias em torno da morte de Luo indicam a realidade “extremamente assustadora” de viver sob um regime comunista.
“Essas coisas não podem ser feitas apenas pelos hospitais”, disse Wu. “Elas precisariam envolver funcionários do PCCh ou até mesmo departamentos governamentais inteiros que protejam os interesses dos envolvidos nas cadeias de suprimento de órgãos.”
Lily Zhou, Zhang Ying, Jiang Zuoyi, Gao Hui, Ning Haizhong e Yi Ru contribuíram para este artigo.
As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times