Carta aberta de protesto publicada por ocasião da visita de Xi Jinping à Espanha

A perseguição do PCC contra o Falun Gong ainda está em andamento e praticantes continuam a ser mantidos em prisões do PCC

26/11/2018 15:45 Atualizado: 26/11/2018 15:45

Por Fenghua Zhao

Por ocasião da visita de Xi Jinping à Espanha, uma praticante chinesa do Falun Dafa que vive em Barcelona mandou uma carta à Sua Majestade a Rainha, Letizia Ortiz, e ao presidente da Espanha, Pedro Sánchez. Ela contou sua experiência pessoal e pediu ajuda para acabar com a perseguição do Partido Comunista Chinês contra o Falun Dafa, uma prática espiritual também conhecida como Falun Gong.

“Sou uma praticante chinesa do Falun Dafa. Vim para a Espanha em maio de 2006 e moro em Barcelona há 12 anos.

Hoje tomo a liberdade de escrever a você. Além de agradecer ao governo espanhol por me proporcionar proteção internacional por motivos de perseguição religiosa, gostaria de pedir que você preste atenção ao assédio e às ameaças do Comitê Político e Legal da China que minha família na China e eu na Espanha estamos enfrentando.

Por favor, ajude a parar a perseguição ao Falun Dafa que o Partido Comunista Chinês (PCC) estendeu até a Espanha. Permita-me citar uma passagem da Declaração Universal dos Direitos Humanos, publicada em Paris em 10 de dezembro de 1948, para iniciar minha apresentação.

No início do preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, lemos:

Considerando que a liberdade, a justiça e a paz no mundo se baseiam no reconhecimento da dignidade intrínseca e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana;

Considerando que a ignorância e o desprezo pelos direitos humanos levaram a atos ultrajantes de barbárie para a consciência da humanidade, e que foi proclamada, como a mais alta aspiração da humanidade, o advento de um mundo em que os seres humanos, libertos do medo e da miséria, desfrutem da liberdade de expressão e liberdade de crença.

No entanto, nos últimos 19 anos, o regime comunista chinês privou os praticantes do Falun Gong do direito à liberdade de crença e liberdade de expressão e forçou os praticantes a abandonar sua fé por meios violentos, como tortura e lavagem cerebral, perpetrando a violação sistemática dos direitos humanos. O que eu tenho experimentado recentemente mostra que o PCC está expandindo sua perseguição para aqueles que se levantam para expô-lo, incluindo os chineses que vivem no exterior em países democráticos.

Em 24 de setembro deste ano, os chineses celebraram o “Festival da Lua”, uma reunião das famílias chinesas. Não pude me reunir com minha família naquele dia. De fato, nos últimos 12 anos, não pude ver nenhum membro da minha família por causa da contínua perseguição do PCC ao Falun Dafa.

Justamente nesse dia, quando eu falava ao telefone com minha irmã que mora em Dalian, na China, fiquei sabendo que o Comitê Político e Legal chinês enviou algumas pessoas à casa de minha irmã em abril e meados de setembro deste ano, para perguntar sobre minha situação na Espanha e pressionar para que eu pare de participar das atividades do Falun Dafa na Espanha.

Evidentemente, o PCC está estendendo sua perseguição ao Falun Dafa além da China. O assédio do Comitê Político e Legal do Partido Comunista Chinês à família de minha irmã é uma ameaça à minha liberdade de crença e liberdade de expressão na Espanha.

Nos últimos 5.000 anos de história, antes de o PCC controlar a China, ele sempre foi um país que valorizava as crenças espirituais. O budismo, o taoísmo e o confucionismo se espalharam amplamente em seu território. No entanto, desde outubro de 1949, a cultura tradicional chinesa foi corroída pelo ateísmo marxista que o PCC promoveu e impôs como um pensamento único.

Depois de seu estabelecimento, o PCC lançou uma série de campanhas para transformar o pensamento na China, usando o ateísmo marxista para controlar o povo a fim de manter sua ditadura.

Embora eu também tenha sido doutrina no ateísmo quando estava na escola, meu coração conservava o desejo de buscar crenças espirituais. O dia 25 de janeiro de 1999 foi o mais afortunado da minha vida, porque desde aquele dia eu me tornei uma praticante do Falun Gong.

Falun Dafa, também conhecido como Falun Gong, é um caminho de cultivo ancestral que pertence à Escola Buda. Foi transferido de mestre para discípulo assim como muitas práticas da Escola Buda e foi dado ao público na China em maio de 1992 pelo Mestre Li Hongzhi.

Falun Dafa ensina os praticantes a promover a moralidade de acordo com os princípios da Verdade, Compaixão e Tolerância. Ao mesmo tempo, fortalece o corpo através de cinco séries de exercícios relaxantes. Em 1999, em apenas sete anos, atraiu quase 100 milhões de adeptos na China. No entanto, sua rápida disseminação provocou o medo e a inveja do ex-líder do PCC, Jiang Zemin.

Falun Dafa presta atenção às virtudes e comportamentos éticos que são justamente a essência da cultura tradicional chinesa, um tabu para o regime comunista chinês.

Em 20 de julho de 1999, o regime comunista chinês privou ilegalmente os praticantes do direito à liberdade de crença e lançou uma perseguição contra eles. Depois de ouvir essa notícia, em 22 de julho, fui a Pequim para apresentar uma petição para pedir às autoridades chinesas que parassem de perseguir o Falun Dafa. No caminho para Pequim, no aeroporto de Dalian, fui barrada pela polícia e detida ilegalmente no Centro de Detenção de Dalian.

No centro de detenção, a polícia queria que eu assinasse um documento afirmando que eu tinha abandonado a prática em troca de liberdade. Eu me recusei e por isso permaneci presa. A partir daí, eles me escravizaram em um campo de trabalhos forçados e me obrigaram a ver a falsa propaganda do PCC contra o Falun Gong todos os dias.

Dezenove dias depois de ter sido presa ilegalmente, a polícia chamou meus pais e meu ex-marido para me convencer a assinar a carta renunciando à minha fé. Meu pai chorou, minha mãe até se ajoelhou para pedir-me para assinar, mas eu pedi para que parassem. Eu lhes disse para irem para casa e confiarem, que eu sabia como proceder. Eu não assinei a carta. A fé é sagrada e não pode ser tratada com falsidade.

Uma colega do Falun Gong que estava encarcerada no mesmo local assinou a carta de renúncia e já estava pronta para ir para casa. No entanto, a polícia disse a ela que assinar a carta não era suficiente, que era necessário difamar o Falun Gong na televisão em troca de liberdade. Ela se recusou e, como resultado, permaneceu sob custódia.

Os praticantes do Falun Gong foram constantemente detidos e o centro de detenção estava superlotado. Depois de 34 dias, fui libertada. Desde então, eles vigiam todos os meus passos.

Embora a era da Internet tenha acelerado a disseminação de informações, devido ao bloqueio da Internet imposto pelo PCC para os chineses que vivem na China Continental, transmitir informações precisas não é apenas difícil, mas também perigoso.

Em 23 de fevereiro de 2003, quando eu estava almoçando em um restaurante com dois amigos que também eram praticantes, as autoridades chinesas me sequestraram pela segunda vez. Uma semana antes, um dos meus colegas do colegial enviou um email para o site do Falun Dafa, Minghui.ca, para avisar que o PCC estava procurando informações sobre os praticantes entre os vizinhos, em troca de 1.000 iuanes para cada praticante. Sua correspondência foi interceptada pela polícia e, mais tarde, ele foi sequestrado pelo grupo do “Gabinete 610” da polícia paramilitar chinesa, a Gestapo chinesa criada exclusivamente para perseguir o Falun Dafa. Ele ficou preso por quatro anos.

Depois da minha segunda prisão, fiz greve de fome em protesto contra a perseguição e pedi para ser libertada. A “alimentação forçada” é uma tortura brutal praticada para punir aqueles que fazem greves de fome. Vários homens me seguraram na cama da enfermaria do centro de detenção e, através de uma sonda nasogástrica, me forçaram a comer. Então eles me trancaram em uma sala de confinamento e me acorrentaram pelos pulsos e tornozelos; as correntes, ligadas umas às outras, eram tão curtas que não permitiam que eu me levantasse ou me deitasse completamente. Meu cabelo estava grudado em meu rosto por causa do sangue e vômito.

Dois dias depois parei com a greve de fome, não só por causa da dor que meu corpo estava sofrendo, o mais horrível foi que durante esses dois dias, no meio da noite, ouvíamos um barulho como o de uma grande porta de ferro que se abria e se fechava. Sem dormir e aterrorizada pela incerteza, eu não aguentava mais. Depois de abandonar a greve de fome, eles me mandaram de volta para a cela. As companheiras me disseram que estavam muito preocupadas comigo e que pensaram que nunca mais me veriam. (Pouco antes, uma praticante do Falun Gong havia morrido por causa das torturas da alimentação forçada).

Após 4 meses de detenção ilegal, a fraqueza muscular impedia que eu me movesse. A polícia me tirou do centro de detenção em uma maca. Uma van me levou para um hospital para fazer um exame físico de rotina antes de me enviarem para um campo de trabalhos forçados. No caminho para o hospital, dentro da van, a polícia me entregou um documento e mandou que eu assinasse, dizendo que eu havia sido condenada a três anos de reeducação por meio de trabalhos forçados. Eles seguraram minha mão fraca e assinaram meu nome. Eu não vi esse documento novamente, não houve nenhuma sentença ou processo judicial. Perguntei aos meus parentes depois de sair da prisão, mas ninguém nunca viu esse documento.

No campo de trabalho de Dalian, eles estavam preocupados com minha condição física e, temendo que eu morresse lá, se recusaram a me aceitar, então fui libertada. Depois de voltar para casa, continuei praticando o Falun Gong e realmente experimentei um milagre. Seis meses depois, meu corpo exausto já havia basicamente se recuperado.

A perseguição do PCC contra mim também estava ligada à minha família. Antes de ser sequestrada ilegalmente pela segunda vez, um dia, em abril de 2002, a polícia bateu à minha porta durante a noite. Eu não abri porque eles haviam acabado de sequestrar uma pessoa muito próxima a mim, também praticante. Para escapar da perseguição, deixei minha casa por quase um ano e me escondi em diferentes lugares até ser sequestrada pela segunda vez em fevereiro de 2003.

Durante esse tempo, a polícia foi à casa dos meus pais perguntar sobre o meu paradeiro, o que aumentou muito a preocupação da minha família. Naquele mesmo ano meus pais morreram.

A perseguição me separou da minha família, e meu marido se divorciou de mim em 2010. Minha segunda irmã morreu em junho de 2011. Eu já estava na lista negra do PCC e não podia voltar para a China para estar ao seu lado.

Em maio de 2006, vim para a Espanha em uma viagem de negócios. Dois meses depois, em julho de 2006, a polícia do PCC voltou à minha casa na China para tentar me sequestrar. Felizmente, eu já estava na Espanha, onde solicitei asilo e proteção internacional.

Antes do Festival da Lua deste ano (2018), os funcionários enviados pelo Comitê Político e Legal do PCC disseram à minha irmã mais velha que queriam “transformar meu pensamento” para que eu abandonasse a prática e não participasse das atividades do Falun Dafa.

Aqui eu gostaria de mencionar os nomes de dois companheiros do Falun Dafa perseguidos até a morte pela violenta “transformação” do PCC:

Zeng Xianmei, uma praticante do Falun Dafa que conheci quando fui detida pela primeira vez no Centro de Detenção de Dalian. Na manhã de 9 de agosto de 2001, Zeng Xianmei foi capturada pela polícia do PCC quando fazia o trabalho doméstico na casa de sua filha. A polícia a interrogou e impediu que sua família a visse até que ela morreu. Zeng Xianmei morreu na tarde de 14 de agosto de 2001, aos 63 anos de idade. Seu corpo estava coberto de cicatrizes.

Antes de o PCC perseguir o Falun Gong, Ding Zhenfang abriu uma livraria em Dalian para vender livros do Falun Gong. Ding Zhenfang foi ilegalmente detida pelo Partido Comunista Chinês muitas vezes por causa de sua persistência na prática. Ela foi perseguida até sua morte na Prisão Feminina Provincial de Liaoning, em 1º de agosto de 2011, aos 61 anos de idade.

A perseguição do PCC contra o Falun Gong ainda está em andamento e praticantes continuam a ser mantidos em prisões do PCC. Eles são submetidos a maus-tratos e escravidão porque insistem em suas próprias crenças e são forçados a se separar de suas famílias. Hoje, o PCC está até exportando sua perseguição maligna e estendendo-a àqueles que ousam se levantar e expor a verdade.

Falun Gong me deu paz interior

Quando enfrentei dificuldades, mesmo quando minha vida esteve ameaçada, senti-me otimista. No domingo passado, dia chuvoso em Barcelona, lembrei de uma história que me permitiu experimentar mais uma vez o poder da paz produzido pela fé.

Fui ao parque Ciudadella para praticar. Nos últimos 12 anos, passei quase todos os domingos de manhã neste parque. Meus companheiros e eu vamos lá para experimentar a paz e a beleza que o Falun Gong nos trouxe. Quando cheguei ao parque, de repente começou a chover muito. Alguns dos meus colegas foram embora. Eu e outros ficamos. Embora o céu estivesse muito escuro naquele momento, entre as nuvens escuras pude ver que um raio de sol brilhava sobre a terra. Nós nos abrigamos sob uma grande árvore e lemos o livro do Falun Dafa, “Zhuan Falun”, por um tempo. Sabíamos que a chuva acabaria logo e que poderíamos voltar a praticar como sempre. A chuva começou a enfraquecer. Após cerca de vinte minutos, o sol brilhou novamente e as nuvens escuras desapareceram. Terminamos os cinco exercícios sob o sol quente do outono, incluindo a meditação.

Creio que essa experiência foi uma revelação para mim. Embora às vezes haja nuvens, vento e chuva, nesse momento, entre nós e o sol, há apenas uma camada de nuvens escuras. Nós não podemos parar o que devemos fazer por causa de uma nuvem escura. Não podemos deixar nossa responsabilidade nas mãos da sociedade por causa de uma interferência.

Minha paz interior vem da minha fé. Eu acredito que o Sol ainda brilha sobre nossas cabeças mesmo quando está escuro, nós só estamos separados por uma nuvem. A crença correta é o poder que pode penetrar as nuvens escuras, pode nos ajudar a acreditar na luz antes que as nuvens se dispersem, para que possamos defender a justiça e lutar para seguir em frente com uma atitude pacífica. Meu entendimento é que todo esforço reduz o mal e estende a justiça.

Sua atenção ajudará a Espanha a libertar-se das ameaças e investidas do mal e a tornar nosso mundo um lugar melhor.

A crença reta traz paz. Por favor, ajude a parar a perseguição.

Obrigada pela sua paciência e por ouvir meu coração.

Saudações a você e sua família.”

Fenghua Zhao