Foro de São Paulo: socialismo, nostalgia e crime

O Foro culminou na "Declaração e plano de luta", que é apenas uma série de declarações em favor da liberdade de Lula, do presidente boliviano ou do fim do imperialismo

02/08/2019 18:46 Atualizado: 02/08/2019 18:46

Por Victor H. Becerra

A nova edição anual do Foro de São Paulo, a 25ª, começou suas sessões na quinta-feira, 25 de julho, em Caracas e terminou no domingo, sob o lema “Pela paz”. Esta reunião de militantes da esquerda mais recalcitrante ocorre anualmente em um país diferente. Recebe seu nome da cidade que realizou o primeiro encontro, em 1990, no Brasil.

Naquele ano, os criadores do Foro, Fidel Castro e Lula da Silva, seguindo a receita castrista, tentaram “multiplicar os eixos de confronto” para disfarçar o fracasso do comunismo contra o capitalismo e da revolução proletária após o Queda do Muro de Berlim e o fracasso da União Soviética.

Para tanto, buscaram incorporar no discurso da esquerda questões de grupos sociais, setoriais, funcionais e territoriais, como feminismo, indigenismo, ambientalismo, regionalismo, defesa de gênero, grupos de estudantes e todos os temas possíveis para confrontar a democracia liberal, que foi então chamado de “neoliberalismo”.

Quase 30 anos depois, o Foro é hoje um mero lembrete das glórias do passado: com líderes mortos, como Hugo Chávez e Fidel Castro ou então presos, como é o caso de Lula da Silva. Rafael Correa está legalmente impedido. Cristina Kirchner foi processada. Pepe Mujica está sendo investigado. Poucos são seus líderes que não estão sendo investigados, como Evo Morales ou Daniel Ortega, mas apenas porque eles mantêm o poder e a capacidade de manipular juízes e promotores.

Hugo Chávez (esq.) da Venezuela e Raúl Castro de Cuba se abraçam enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (abaixo) sorri durante a Cúpula do Mercosul, em Sauípe, Brasil, em 16 de dezembro de 2008 (EVARISTO SA / AFP / Getty Images)
Hugo Chávez (esq.) da Venezuela e Raúl Castro de Cuba se abraçam enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (abaixo) sorri durante a Cúpula do Mercosul, em Sauípe, Brasil, em 16 de dezembro de 2008 (EVARISTO SA / AFP / Getty Images)

Quando o Foro foi realizado pela primeira vez, apenas um de seus membros membros estava no poder, nesse caso, em Cuba. Duas décadas depois, em 2008 e 2009, a reunião se tornou o ponto de encontro dos líderes da Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Nicarágua e Venezuela, entre outros. Durante esse período, a construtora Odebrecht, nas mãos do governo Lula, e o petróleo venezuelano do regime de Caracas, financiaram o sucesso dos projetos políticos de esquerda promovidos pelo Foro de São Paulo. Nesse mesmo período, somente Colômbia, Honduras e Guatemala não eram governados por um partido membro do Foro.

Hoje, ao contrário, o petróleo caro e a corrupção promovida pela Odebrecht acabaram, então o Foro é apenas um canal de propaganda para governos como os da Bolívia, Cuba, Nicarágua e Venezuela. Pode-se dizer, talvez frivolamente, que é um mero clube de nostalgia, se não fosse uma nostalgia alimentada por sangue, como vemos diariamente na Venezuela ou na Nicarágua, ou por ilegalidades e repressão, como vemos na Bolívia e em Cuba. Um clube sem muitas possibilidades de voltar à sua fase estelar, a menos que, como suspeitavam, os fundos de narcotráfico de que o regime venezuelano é o principal beneficiário, passem a ser usados para financiar os novos projetos políticos do Foro.

Portanto, o Foro de São Paulo é mais um sindicato criminoso do que um projeto político, uma máfia política real e criminosa, e não uma militância partidária-ideológica. Nesse sentido, a declaração de não-gratohecha pela oposição venezuelana ganha legitimidade. Ou que os estudantes venezuelanos o descreveram como o “Foro da morte”, especialmente na situação crítica na Venezuela.

O Foro culminou na “Declaração e plano de luta”, que é apenas uma série de declarações em favor da liberdade de Lula, do presidente boliviano ou do fim do imperialismo. Redobrar os esforços para promover o modelo de revolução estabelecido em Cuba, mas por meios eleitorais, como fez o falecido Hugo Chávez na Venezuela. Pela união dos povos “em sua luta permanente para continuar defendendo as revoluções e continuar construindo o que temos que construir”. A luta contra o patriarcado, o racismo, a xenofobia e a criminalização da migração e contra qualquer forma de discriminação baseada na orientação religiosa, étnica ou sexual também foi assinada na declaração.

Enfim: uma encenação teatral para simular que o Foro é um bastião de apoio da ditadura venezuelana perante a comunidade internacional. Um “bastião” com delegados pagos, acomodados, que viveram quatro dias à custa da fome do povo venezuelano. Com uma ideologia sem respostas aos desafios atuais ou arrependimentos por todos os seus crimes, passados e presentes. E com líderes questionados e ilegítimos por um longo tempo. Um Foro, então, de crime, anacronismo e falta de vergonha, que não pode ser um exemplo para ninguém na América Latina.

Finalmente, do México, participaram representantes do oficialista Morena e seu aliado Partido Trabalhista, além do “opositor” Partido da Revolução Democrática (os movimentos que dentro do PRD querem “modernizar” esse partido, não vão retirar sua participação no Foro?) Deve-se notar que o apoio clamoroso que o governo mexicano e sua aliança partidária estão dando à ditadura venezuelana, custou alguns milhões de dólares: é assim que a diplomacia mexicana tornou-se barata e complacente.

Este artigo foi publicado originalmente em PanAm Post

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