Artigo originalmente publicado em 13/09/2017
A humanidade passou por muitas transformações ao longo do século XX. Algumas delas boas, outras nem tanto. Entre aquelas que marcaram profundamente a época, em uma extensão ainda impossível de ser dimensionada, estão as operações secretas das agências de inteligência dos países comunistas.
Muitos livros já foram escritos sobre as operações da Central Intelligence Agency (CIA) durante a Guerra Fria, sejam estudos acadêmicos ou ficção, mas o mesmo não pode ser dito da Komitet Gosudarstvennoy Bezopasnosti (KGB), o serviço secreto da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) — mesmo que muitos ex-agentes dos serviços de inteligência de países comunistas tenham falado abertamente sobre as atividades realizadas por essa agência (como, por exemplo, Vasili Mitrokhin, Yuri Bezmenov, Ion Mihai Pacepa e Ladislav Bittman), parece que suas palavras foram lançadas ao vento. É possível entender o atual momento histórico sem compreender o impacto das operações da KGB no Ocidente?
Tendo este contexto em perspectiva, revela-se a importância do trabalho realizado por Vladimír Petrilák e Mauro “Abranches” Kraenski, pesquisadores independentes que estão se debruçando sobre os arquivos da Státní Bezpečnost (StB). Eles vêm estudando as operações, no Brasil, desta antiga agência de inteligência da Tchecoslováquia.
Quiçá, no futuro, com o surgimento de mais pesquisas como esta, seja definitivamente respondida a pergunta derradeira da história brasileira no século XX: a tomada de poder pelos militares em 1964 foi consumada para frear o avanço da revolução comunista no Brasil ou foram as guerrilhas comunistas que surgiram para enfrentar a ditadura militar e trazer de volta a democracia? Enquanto esse dia não chega, aproveite a entrevista que Vladimír e Mauro concederam por e-mail para o Epoch Times.
Epoch Times: Acho que podemos começar conhecendo vocês dois um pouco, quem são Vladimír Petrilák e Mauro “Abranches” Kraenski? Falem-nos um pouco sobre o passado de vocês, sobre aquilo que os capacitou e os inspirou a iniciar esse trabalho?
Mauro Kraenski: Tudo começou com um post que li em um fórum brasileiro sobre história, onde alguém escreveu que o ‘Massacre de Katyn’, onde milhares de poloneses foram assassinados pelos soviéticos, havia sido obra dos alemães. Claro que todo mundo sabe sobre os horríveis crimes praticados pelos alemães nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, mas, neste caso, alguém estava repetindo uma propaganda soviética enganosa, de mais de 70 anos. Isso me deixou intrigado e curioso para saber o que as pessoas conhecem no Brasil sobre comunismo, falsificação da história, operações de desinformação, etc.
Navegando por páginas brasileiras na internet atrás de informações sobre o comunismo, foi possível perceber que (principalmente no que diz respeito à época dos acontecimentos relativos à Intervenção de 1964): enquanto havia várias menções, artigos e até exemplos de livros publicados sobre atividades da CIA no Brasil (sem entrar aqui no âmbito do grau de veracidade de todas essas informações), por outro lado, não encontrei praticamente nada sobre as atividades da KGB ou de outros serviços de inteligência de países do antigo bloco soviético em território brasileiro. Para ser justo, é preciso afirmar que encontrei apenas um professor brasileiro, chamado Olavo de Carvalho, que vive nos Estados Unidos, que comentava sobre as atividades da KGB no Brasil. Ou seja, percebia-se claramente (principalmente porque estamos lidando com o período da Guerra Fria) uma certa falta de simetria na maneira de tratar sobre este assunto.
Foi isso que me inspirou a iniciar uma pesquisa sobre o assunto. Depois de consultar o Arquivo dos Serviços de Segurança (Archiv Bezpečnostních Složek, ABS, em tcheco) — que integra o acervo do Instituto para o Estudo dos Regimes Totalitários (Ústav pro Studium Totalitních Režimu, USTR), sediado em Praga — e encontrar informações sobre atividades, no Brasil, do serviço de inteligência da polícia secreta comunista da Tchecoslováquia (StB) e sobre brasileiros implicados, a primeira coisa que fiz foi tentar encontrar algum cidadão tcheco que estivesse disposto a colaborar com estas pesquisas. Foi só então que conheci o colega Vladimír Petrilák. Não nos conhecíamos anteriormente. Foi através da decisão e da necessidade de realizar estas pesquisas que acabamos nos conhecendo. Claro que, além disso, existe, entre nós, uma certa afinidade de convicções no modo de ver questões relacionadas com história, comunismo, etc. Em outras palavras: podemos dizer que “jogamos no mesmo time”, o que não deixa de ser importante para poder realizar juntos este tipo de trabalho.
Em resumo: Vladimír Petrilák é cidadão tcheco, radicado atualmente na Polônia. Trabalha como tradutor e como colunista de política. Mauro “Abranches” Kraenski é brasileiro, atualmente radicado na Polônia. É tradutor e guia turístico. Já trabalhou para a televisão polonesa como produtor. Tem como hobby história e pesquisa.
ET: Como foi o início da pesquisa? Vocês utilizaram algum método específico ou a pesquisa ao arquivo do Instituto para o Estudo dos Regimes Totalitários foi realizada com o conhecido ‘tentativa-e-erro’?
MK: Até onde sabemos, inicialmente não usamos nenhum método existente, como base. Simplesmente, fomos fazendo, do nosso jeito, aquilo que era preciso fazer. Líamos artigos sobre políticos brasileiros, jornalistas, economistas, assistíamos a filmes documentários sobre a época — quero dizer, sobre os anos 1950, 1960 e 1970 — coletávamos nomes e depois usávamos o buscador on-line nas páginas do arquivo, serviço disponibilizado no website do instituto (onde escrevíamos os nomes destas pessoas para ver se apareciam nos resultados). Foi assim que encontramos os primeiros nomes que, segundo os documentos, eram de brasileiros que colaboraram com a StB. Buscávamos pastas (do arquivo do USTR) que poderiam, eventualmente, conter algo de interessante para nossas pesquisas, isto é, informações relacionadas com o Brasil ou com brasileiros.
Com o tempo, fomos aprendendo a lidar melhor com os números de registro do arquivo (ABS). Também, e isto foi essencial, fomos conhecendo funcionários e historiadores experientes do USTR, que nos deram muitas dicas, conselhos e nos ajudaram muito no que diz respeito a lidar com o tema complexo que são os documentos do ABS. No fim, a rotina era a de preencher e enviar formulários de pedidos de consulta ao arquivo, aguardar as respostas sobre se estavam disponibilizados, ir até Praga coletar os documentos, posteriormente estudá-los com calma e, em seguida, enviar novamente pedidos com os números de pastas, etc., num círculo constante.
Muitas vezes, encontrávamos, nas próprias pastas que estudávamos, informações e dicas sobre quais outras pastas consultar. Noutras vezes, funcionava como uma rede de conexões em que uma pasta leva à outra. Seja como for, independentemente da experiência e conhecimento adquiridos, ou das dicas e conselhos dos profissionais, não é possível descartar totalmente o método de tentativa-e-erro, pois, às vezes, é necessário arriscar e solicitar uma pasta que não temos certeza de se conterá algo importante, ou seja, “dar um tiro no escuro”. Como já tivemos a oportunidade de experienciar, de vez em quando você acerta o alvo, em outras vezes não.
Podemos afirmar que, desde o início das pesquisas até hoje, as maiores dificuldades foram tempo e recursos. É preciso mencionar que, quando aqui falamos em tempo e recursos, não nos referimos somente à questão de viajar até o arquivo, para coletar os documentos, mas também sobre o tempo necessário para estudá-los: ou você trabalha para “ganhar a vida” ou faz pesquisas. Então é preciso equilibrar as coisas, para poder continuar pesquisando.
ET: Qual a importância do estudo dos arquivos da StB para o Brasil? Qual o grau de confiabilidade que vocês dão a estes dados?
MK: Quanto ao grau de confiabilidade dos dados e informações contidos nos documentos, é suficiente lembrar que estamos falando de documentos da própria StB, ou seja, da polícia secreta comunista da República Socialista da Tchecoslováquia. Mais precisamente do I Departamento, que é o serviço de inteligência que atuava no exterior, neste caso, no Brasil. É difícil imaginar o porquê de um serviço de inteligência registrar, em seus documentos, informações, correspondências ou relatórios se não os tratasse totalmente a sério. Em outras palavras: por que um serviço de inteligência mentiria para si mesmo?
Além disso, existem muitas informações que pudemos verificar, como por exemplo os artigos de imprensa que, no âmbito das chamadas ‘operações ativas’ (aktivní opatření — A.O., em tcheco), traduzidas também como ‘medidas ativas’, foram planejados e realmente publicados em jornais da época. Também não podemos esquecer que, atualmente, os próprios tchecos (e quem teria mais autoridade senão os tchecos para avaliar estes documentos e dados?) reconhecem os documentos como autênticos e, inclusive, são suas atuais leis de verificação de antecedentes — fundamentadas nos dados constantes destes documentos — que impediram que antigos colaboradores da StB ocupassem funções públicas. Sendo assim, eles levam tudo isso muito a sério. Somam-se a isso vários trabalhos históricos que confirmam a autenticidade dos documentos da StB. Estes documentos são disponibilizados por instituições estatais, criadas por lei.
Quanto à importância, para o Brasil, dos estudos dos arquivos da StB, não é nosso papel avaliar o quanto isso é importante, mas, do nosso ponto de vista, esse estudo é muito interessante como fonte complementar. É importante lembrar que o serviço de inteligência tchecoslovaco penetrou muito bem o Brasil e, por isso, o seu conhecimento sobre esse tema, que era secreto e exclusivo, não deve ser ignorado.
A StB operava com dois tipos de materiais: pastas sobre ‘objetos’ e pastas ‘pessoais’. Penetrava e observava tanto objetos, como Parlamento, instituições diversas, etc., quanto o ambiente de jornalistas, pessoas importantes, etc. Também conduzia o trabalho de agentes, de vários ‘figurantes’ (pessoas pelas quais a StB se interessava e que, eventualmente, também podiam ser recrutadas ou usadas de alguma maneira), de contatos legais e ilegais, etc. Portanto, o conhecimento registrado nestas pastas é, sem dúvida, importante e ajuda a compreender melhor aqueles tempos.
ET: Seguindo adiante, a StB instalou a sua primeira rezidentura (escritório ou sucursal) no Brasil em 1952. Como foi esse início? A StB iniciou suas atividades no Brasil por conta própria ou era apenas a “ponta de lança” da KGB?
MK: O início foi difícil para a StB. O primeiro ‘residente’ (nome para designar um oficial da polícia secreta do I Departamento, responsável pelas atividades de inteligência em países estrangeiros), que usou os codinomes ‘Honza’ e, posteriormente, ‘Treml’, mal sabia o português quando chegou ao Brasil. Ocupou oficialmente o cargo de attaché (adido) no Brasil de assuntos de imprensa. Também ficou sozinho por dois anos na rezidentura — isto é, uma base da StB no exterior, que, no caso do Brasil, funcionava na Embaixada da República da Tchecoslováquia, no Rio de Janeiro. Mesmo que não fosse o seu objetivo principal, também tinha de servir em sua função oficial, de adido.
Ele chegou a reclamar que o aprendizado do idioma português, que recebeu ainda na Tchecoslováquia, foi insuficiente. Reclamou também dos recursos escassos que recebia da sede: insuficientes para que pudesse convidar pessoas a restaurantes, ou para mobiliar adequadamente a sua moradia e, assim, poder convidar as pessoas para que o visitassem. De que tudo isso criava dificuldades para conhecer novas pessoas, desenvolver relações com as mesmas, criar amizades, etc. E que isso dificultava o seu trabalho de adquirir contatos, algo fundamental no trabalho de inteligência.
Seja como for, mesmo com um início difícil, pouco a pouco o trabalho da rezidentura da StB no Brasil foi se desenvolvendo, e é preciso dizer que ‘Treml’, o primeiro residente, tendo permanecido no Brasil até agosto de 1955, mesmo que não tenha recrutado pessoalmente nenhum agente, preparou o terreno para a cooptação de dois figurantes (pessoas pelas quais a StB possui interesse), recrutados posteriormente. Além disso, foi capaz de estabelecer as bases para que o serviço de inteligência pudesse atuar.
Não encontramos nos documentos nenhuma ordem ou instrução direta da KGB para que a StB “abrisse” uma rezidentura no Brasil. É sabido que, na prática, a StB, assim como serviços de inteligência de outros países do bloco soviético, era subordinada à KGB, e que muitas de suas ações faziam parte das tarefas designadas por Moscou.
Cumpre lembrar ainda que, enquanto o Brasil havia rompido relações diplomáticas com a União Soviética em 1947, a Tchecoslováquia mantinha boas relações com o nosso país. Havia também imigrantes tchecos e eslovacos no Brasil, tendo um dos mais conhecidos, o empresário Jan Antonín Bat’a, chegado a construir várias fábricas e, inclusive, quatro cidades (Batatuba é uma delas). Então… estamos falando de diplomatas, representantes comerciais, engenheiros, técnicos, etc. O que não significa que todas essas pessoas trabalhavam para a StB, mas tudo isso criava, para os tchecos, possibilidades operacionais que os soviéticos não possuíam.
ET: No ideário contemporâneo brasileiro, as guerrilhas teriam surgido como expressão daqueles que lutavam pela democracia e dizer o contrário seria “paranoia da extrema-direita”. No presente estágio de suas pesquisas, o que elas nos revelam sobre esta questão? As guerrilhas surgiram para combater a ditadura ou o regime militar de 1964 surgiu porque os serviços de inteligência do bloco soviético tentavam, usando-se das guerrilhas, causar a guerra civil no Brasil? Teria sido este o objetivo da ‘A.O. Luta’?
MK: Segundo os documentos, o objetivo da A.O. Luta, ou ‘Operação Luta’, que foi iniciada no ano de 1961, era: no caso do surgimento de uma guerra civil no Brasil, a StB a canalizaria de acordo com os interesses da esquerda.
Segundo nossas pesquisas, a StB e a KGB não apoiaram diretamente a guerrilha após a intervenção militar, mas sabiam muito bem que Cuba o fazia e este país possuía o apoio ilimitado de Moscou.
Praga e Moscou apoiavam o PCB de Prestes, e o PCB, de acordo com o que nós sabemos, não aprovava a luta armada contra o regime. Contrariando o habitual, neste caso, a política informal de Moscou e de Praga estava de acordo com a política oficial.
ET: Em 1972, Adauto Alves dos Santos, integrante do PCB, revelou ao Jornal do Brasil o que sabia sobre as operações clandestinas do partido. Dentre outras coisas, afirmou que o partido comunista recebia financiamento da KGB, afirmação posteriormente comprovada com base nos documentos apresentados por Vladmir Bukovsky. Contudo, este fato de nossa história caiu no completo esquecimento. A pesquisa revelou alguma A.O. contra Adauto Alves dos Santos visando a desacreditá-lo? Vocês relacionariam esse esquecimento ao fato de a StB ter infiltrado e recrutado agentes em jornais, como o Última Hora?
MK: Não encontramos nenhuma informação nos documentos sobre alguma operação contra Adauto Alves dos Santos. A StB encerrou suas atividades ofensivas no Brasil em 1971 e, a partir daí, praticamente se ocupou somente da proteção de sua embaixada. Mas nós ainda não sabemos o que então a KGB vinha ou não fazendo.
ET: Na visão de vocês, qual foi o grau de penetração da StB em partidos políticos e pessoas influentes no Brasil?
MK: Segundo nossa opinião, podemos classificar o grau de penetração da StB em meio a pessoas influentes, diplomatas, funcionários com cargos importantes, jornalistas, etc. como perigoso o suficiente para ser capaz de realizar ações de política de influência ou outras, de acordo com seus objetivos.
ET: As informações que vocês revelaram até o momento atestam que a StB possuía grande interesse em fomentar o sentimento pró-Cuba na América Latina. O que vocês podem nos dizer sobre as A.Os. (operações) realizadas no Brasil em favor de Cuba?
MK: Antes de tudo, aqui é importante registrar que muitos documentos da StB foram destruídos, principalmente no que diz respeito às A.Os. Encontramos vários nomes de A.Os. com número de registro relacionado com a América Latina mas com suas pastas destruídas. Sendo assim, não se pode excluir a possibilidade de que, além da realização das A.Os. sobre as quais encontramos informações, também tenham sido realizadas pela StB, no Brasil, outras A.Os. em favor de Cuba.
Aqui vale a pena citar, principalmente, a ‘Operação Druzba’ (družba, em tcheco; ‘amizade’, em português). Foi uma grande operação de política de influência, instigada pelos soviéticos, para a qual a StB mobilizou não somente todas as suas rezidenturas na América Latina, como também as de outros países. Contou também com a participação dos serviços de inteligência cubano e soviético. A StB gastou milhões de cruzeiros e engajou vários de seus agentes e colaboradores brasileiros nesta operação.
Em sua primeira etapa, foi criada uma organização de apoio a Cuba que se chamou Frente Nacional de Apoio a Cuba (FNAC). Outra etapa foi a organização de um congresso com o objetivo de concentrar as forças pró-Cuba — trata-se do evento conhecido em nossa história como ‘Congresso Continental de Solidariedade a Cuba’. Esta conferência foi proibida de ser realizada na cidade do Rio de Janeiro pelo então governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda. Por isso, acabou ocorrendo na cidade de Niterói, no dia 26 de março de 1963.
Também foram realizadas outras operações, como por exemplo: através de artigos na imprensa.
ET: O que vocês podem nos dizer da infiltração e do recrutamento de agentes junto a pessoas do alto escalão do governo brasileiro? Como no gabinete dos ex-presidentes João Goulart, Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek.
MK: A StB precisou de um certo tempo para poder alcançar capacidade e eficácia operacionais. Podemos afirmar que, pelos meados dos anos 1957-1958, o serviço de inteligência tchecoslovaco começou a atingir resultados satisfatórios. A partir daí, até o ano de 1964, a sua eficácia só cresceu. Sendo assim, foram capazes de chegar até os círculos dos presidentes Quadros e Goulart. Quanto aos presidentes posteriores ao ano de 1964, a StB já não teve condições de repetir os mesmos sucessos.
ET: Vocês entraram em contato com algum ex-integrante do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI, o órgão de inteligência do regime militar) buscando confirmar alguma informação encontrada nos arquivos da StB?
MK: Tentamos encontrar diversas pessoas para tentar confirmar informações, mas não obtivemos muito êxito. Gostaríamos de aproveitar a oportunidade desta entrevista para informar que se, por acaso, algum integrante do extinto SNI quiser entrar em contato conosco, ficaríamos muito gratos, e isso seria de grande interesse para nós. O eventual contato pode ser feito através de nosso perfil no Facebook: StB no Brasil.
ET: Foi possível quantificar as A.Os. realizadas no Brasil no período anterior a 1964? O cenário estava favorável à StB?
MK: Nós não fizemos esta conta, mas, sem dúvida, o ambiente do período anterior a 1964 estava favorável para a execução de A.Os., as quais foram realizadas em uma quantidade relativamente alta. Neste ponto, a rezidentura da StB no Brasil se destacava dentre as demais rezidenturas na América Latina (México, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Uruguai, Venezuela, considerando a situação do ano de 1963).
ET: Após a intervenção militar de 1964, que rumo tomou a StB? Continuou com seu apoio a Cuba? Intensificou as A.Os. para fomentar o sentimento anti-EUA? Seu trabalho ficou gravemente comprometido?
MK: Aqui podemos afirmar que, segundo informações existentes nos documentos da própria StB, as condições para se realizar atividades de inteligência no Brasil, após a intervenção, ficaram bem mais difíceis e complicadas. Eles perderam, temporariamente, a possibilidade de se comunicar com vários de seus agentes e contatos. Com outros, a colaboração foi interrompida definitivamente. Inclusive, operações importantes em andamento foram interrompidas e prejudicadas.
A intervenção militar paralisou totalmente a ação ofensiva da StB por vários meses. Porém, não a eliminou definitivamente. A StB continuou atuando, mas o ambiente de trabalho para a StB, no Brasil, tornou-se bem mais hostil após a intervenção, e as coisas nunca mais foram como antes.
ET: Por fim, queremos agradecer pela oportunidade desta entrevista e encerrar com uma pergunta por cuja resposta nossos leitores já devem estar curiosos: vocês planejam lançar um livro sobre o trabalho que estão realizando com os arquivos da StB? Quais são os planos?
MK: Como o material que estudamos é bem vasto e complicado, o seu esclarecimento só é possível no formato de um livro. Este formato fornece a possibilidade de se apresentar o contexto e de se compreender os detalhes. Estamos trabalhando nisto e temos esperança de que surjam mais de um livro.
Convidamos a todos os interessados para que acompanhem o nosso perfil no Facebook, onde informaremos sobre as novidades.
Para se aprofundar no trabalho dos pesquisadores e contribuir financeiramente com a pesquisa, acesse o website www.StBnoBrasil.com
Entre para nosso canal do Telegram
Assista também: