Em 1980, quase 20 anos depois de ter sido enterrado por sua família no cemitério de sua aldeia, Clairvius Narcisse solicitou um exame no hospital de Deschapelle, no Haiti.
Sua família sabia que seu túmulo havia sido violado pouco depois de sua morte, mas eles não sabiam que um Bokor (feiticeiro vodu) local tinha roubado seu corpo e transformado-o em um zumbi.
O etnobotânico formado em Harvard, Dr. Wade Davis, explicou o caso em uma entrevista à emissora nacional do Canadá, CBC, em 1986.
Uma combinação de drogas podem ser usadas para transformar alguém em zumbi. A tetrodotoxina, uma neurotoxina 160 mil vezes mais forte que a cocaína, é esfregada na pele, em uma ferida. Esta substância deixa a pessoa em estado de coma, que às vezes é confundido com a morte. Quando um Bokor transforma alguém em zumbi, esta substância é utilizada, seguido de um alucinógeno, Datura Stramonium, vulgarmente conhecida como zabumba.
Narcisse foi primeiro envenenado pela tetrodotoxina pelo Bokor. Os médicos disseram que ele estava morto, mas sua mente ainda estava ativa. O Bokor então usou a erva alucinógena e manteve Narcisse por anos em um estado servil, trabalhando em uma plantação, sem controle sobre suas próprias faculdades. Quando o Bokor morreu, Narcisse se afastou e acabou chegando de volta à sua cidade natal, com uma historia horrível para contar.
Em 1980, os cientistas Dr. Lamarque Douyon e o Dr. Nathan Klein declararam o caso de Narcisse como o primeiro caso confirmado de zumbi-ismo. Alguns anos mais tarde, Davis foi enviado ao Haiti para investigar as substâncias da planta utilizada para produzir zumbis.
Ele disse que não estava predisposto a acreditar: “Eu nunca teria pensado que zumbis poderiam existir”. No entanto, ao estudar tetrodotoxina e a cultura haitiana, Davis passou a acreditar.
A crença cultural em zumbis é normal, segundo ele. Este também é um assunto sensível; as crenças vodu haitianas, e em particular a crença em zumbis, foi dita como sendo mal compreendida, contribuindo para um equívoco da sociedade haitiana. Zumbis são uma pequena crença no vodu, e não fazem parte das suas práticas principais.
Davis explicou que o efeito das drogas é, em parte, um efeito placebo, dependente da crença em zumbis.
No Japão, as pessoas muitas vezes eram envenenadas com tetrodotoxina pela ingestão de baiacu. Chefs especializados devem preparar cuidadosamente o peixe para não liberar a toxina que ele contém. No entanto, o envenenamento, às vezes fatal, ocorre anualmente.
“As vitimas do peixe no Japão não se tornam zumbis, elas se tornam vítimas de veneno”, disse Davis. “No Haiti, no entanto, um zumbi é um conjunto de crenças”.
Sob o efeito de alucinógenos, o pensamento e crença de uma pessoa pode ter um efeito especialmente forte em sua percepção. Alguns haitianos acreditam em zumbis, e assim, quando estão nessa situação, especialmente sob o efeito de drogas alucinógenas, eles podem se tornar zumbis.
Davis disse que casos de zumbis são muito raros, mas é uma forma de persuasão em uma comunidade. Ele disse que é uma sanção social contra aqueles que transgridem as normas ou leis da comunidade. Como pena capital, segundo ele, o conceito de que alguém pode ser transformado em um zumbi por quebrar as regras é um dissuasor eficaz, mesmo que muitas vezes não seja utilizado.
Muitos cientistas têm rejeitado a pesquisa de Davis, mas o historiador de arte africana da Universidade de Yale, Robert Farris Thompson, o defendeu. Um artigo da Universidade de Michigan, intitulado “Haiti e a verdade sobre zumbis”, cita a introdução de Thompson ao livro de Davis “Passagem da Escuridão”: “Eu nunca teria sido guiado na direção certa, ensinado a entender o fenômeno de zumbi como uma séria sanção social de grande importância, se eu não tivesse entrado em contato com a pesquisa destilada neste livro de Wade Davis”.
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