Por Agência EFE
A sonda Cassini terminou sua missão de 20 anos entrando na atmosfera de Saturno, mas, até o último momento, esteve coletando dados que serviram para proporcionar mais informações sobre a composição dos anéis que cercam o planeta e qual a influência dos mesmos sobre sua atmosfera, de acordo com um estudo publicado nesta quinta-feira (4) pela revista especializada “Science”.
Os dados coletados por Cassini, que se desintegrou na atmosfera de Saturno em setembro do ano passado, revelam que a composição química de seus anéis é “muito mais complexa” do que se acreditava até agora, segundo um comunicado da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, uma das que participaram do estudo.
Além disso, as informações recolhidas pela sonda indicam que o anel mais interno de Saturno, o chamado D, “está lançando grãos de pó” para a atmosfera superior (ionosfera) do planeta e o faz a uma velocidade extraordinária, ao fazer girar cerca de 10 mil quilos de material por segundo.
Os pesquisadores consideram que este fenômeno, mantido durante longos períodos de tempo, “pode mudar o conteúdo de carbono e oxigênio da atmosfera do planeta”, segundo a nota.
O professor da Universidade Kansas e um dos autores do estudo Thomas Cravens, afirmou que duas coisas o surpreenderam: “a complexidade química do que é expulso dos anéis”, pois, até aqui, acreditava-se que seria quase tudo água, e a “quantidade e qualidade desses materiais”.
O espectrômetro de massas neutras (INMS, na sigla em inglês) da Cassini descobriu que os anéis de Saturno são compostos de água, amoníaco, monóxido de carbono, nitrogênio molecular e dióxido de carbono.
O relatório descreve o que há no espaço entre o anel mais interno de Saturno e a atmosfera superior do planeta, no qual encontraram coisas que já esperavam, como água.
Mas o INMS também encontrou metano e pequenas quantidades de dióxido de carbono, duas coisas que os especialistas não esperavam.
No entanto, os anéis mais internos estão “bastante contaminados, aparentemente com material orgânico capturado em gelo”, acrescentou Cravens.
Uma grande quantidade desses elementos está sendo lançada à ionosfera do planeta pelo anel mais interno, cujo giro é mais rápido que o da atmosfera de Saturno.
“Observamos que isso acontece, mas não entendemos totalmente o porquê”, afirmou o especialista, que explicou que o material expulso “estava alterando a parte mais externa da atmosfera de Saturno na região equatorial”.
Os novos resultados apresentados por Cassini “lançam uma nova luz” sobre os mecanismos subjacentes no Sistema Solar e em outros sistemas e seus exoplanetas, além de “proporcionarem um número infinito de novas perguntas científicas”, considerou Cravens.
O fato de o anel D expulsar para a ionosfera do planeta uma quantidade de material maior que a esperada faz com que os astrônomos pensem agora que a expectativa de vida desse anel pode ser mais curta do que tinham estimado.
“Sabemos que há matéria saindo dos anéis de forma pelo menos dez vezes mais rápida do que pensávamos. Se (esse material) não tiver reposição, os anéis não vão durar”, considerou o especialista, para quem pode haver um ciclo no qual estes aparecem e desaparecem.