Por Mar Vila Pruneda, Agência EFE
A sonda solar Parker, primeira astronave que transitará pela coroa do Sol, terminou as últimas revisões técnicas e está pronta para iniciar neste sábado (11) uma missão que ajudará a esclarecer os mistérios que esconde o astro rei, para o qual partirá de Cabo Canaveral, nos Estados Unidos, e deve chegar em novembro.
Um foguete Delta IV Heavy da companhia United Launch Alliance decolará às 3h33 locais de sábado (4h33 em Brasília) da base aérea de Cabo Canaveral da Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa, na sigla em inglês) com a sonda a bordo.
Com prognósticos meteorológicos favoráveis de 70% e após ter resolvido os problemas que fizeram as datas de lançamento mudarem duas vezes, a Nasa confirmou que tem tudo pronto para o início de uma missão que ela qualificou de “histórica”.
A sonda recolherá informação mais perto do Sol do que jamais foi feito por uma astronave até agora e permitirá descobrir porque a atmosfera do astro rei está a mais de 1 milhão de graus célsius de temperatura, enquanto a própria superfície solar está a 6 mil graus.
Isto, em princípio, não parece ter lógica, já que, “normalmente, se há uma fonte de calor e nos afastamos dela, o ambiente esfria. Mas no Sol acontece o contrário”, explicou à Agência EFE o astrofísico espanhol David Lario, pesquisador da universidade John Hopkins, criadora da sonda.
Após anos de pesquisas, a equipe de cientistas descobriu uma forma de fazer com que a sonda resista a um calor equivalente a 500 vezes o que experimentamos na Terra e, assim, realizar observações “in situ”.
Trata-se de um escudo térmico que suportará temperaturas de 1.400 graus e manterá os instrumentos do interior da aeronave a uma temperatura de 30°C.
“Esta missão é um tremendo desafio de engenharia e ciência. As informações que resultarem do experimento vão revolucionar nosso entendimento do Sol”, garantiu Juan Felipe Ruiz, engenheiro mecânico da sonda Parker, em entrevista coletiva anterior ao lançamento.
A sonda tem dimensões pequenas, com 65 quilos e três metros de altura, e chegará a uma distância de 6 milhões de quilômetros do Sol, o que equivaleria a quatro centímetros da estrela se a Terra estivesse a um metro dela.
Além disso, a sonda alcançará os 700 mil quilômetros por hora, a velocidade mais alta até agora em comparação com qualquer outra nave já construída pelo homem, que equivale a viajar entre Nova York e Tóquio em um minuto e que permitirá que a sonda consiga alcançar o Sol em novembro.
A sonda, que completará 24 órbitas ao redor do Sol e se aproximará progressivamente do astro com a ajuda da gravidade do planeta Vênus, chegará a seu ponto mais próximo da estrela em 2025, quando poderá recolher informações mais valiosas.
A sonda teve um custo de US$ 1,5 bilhão e levará pela primeira vez o nome de uma pessoa viva, o físico americano Eugene Parker, de 91 anos, que desenvolveu nos anos 1950 a teoria dos ventos solares.
“É muito emocionante que finalmente possamos olhar para uma região do espaço que nunca antes tinha sido explorada. Tenho certeza de que haverá algumas surpresas. Sempre há”, disse o próprio Parker ao jornal da universidade de Chicago, da qual é professor emérito.
As dinâmicas turbulentas do Sol atingem diretamente a Terra em forma de tempestades solares que podem afetar os satélites, além de dificultar outras missões espaciais e as redes elétricas do próprio planeta.
“Agora poderemos reduzir o tempo e o erro das previsões das tempestades solares”, diz Yaireska Collado, física da Nasa.
Além de prever as erupções solares que chegam à Terra em poucos minutos, o estudo do Sol ajudará a “entender as outras estrelas que existem no universo”, através da análise detalhada das partículas que o astro rei expulsa, além de seu campo magnético e elétrico.
Stuart Bale, criador de um dos quatro instrumentos principais presentes na sonda, assegurou que os primeiros dados obtidos serão “revolucionários”.
“Primeiro, serão apenas um montão de números, mas a equipe receberá todos esses números e fará visualizações. Será surpreendente”, garantiu o pesquisador da Nasa.
Embora a duração oficial da missão seja até 2025, a sonda estenderá sua vida ao redor do Sol pelo tempo que seu combustível durar.
Este dependerá das correções que o artefato tenha que fazer para manter o seu escudo sempre alinhado com o Sol e, portanto, evitar que a aeronave derreta.