Saquinhos de chá comerciais liberam milhões de microplásticos durante uso

Por Agência de Notícias
30/12/2024 19:00 Atualizado: 30/12/2024 19:00

Uma pesquisa realizada pela Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e com a participação de especialistas do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental de Leipzig, na Alemanha, detalhou como os saquinhos de chá comerciais à base de polímeros (macromoléculas compostas por uma ou várias unidades químicas) liberam milhões de nano e microplásticos durante a infusão.

O estudo mostra, pela primeira vez, a capacidade dessas partículas de serem incorporadas às células intestinais humanas, que podem então alcançar a corrente sanguínea e se espalhar por todo o corpo.

A poluição por resíduos plásticos representa um desafio ambiental crítico, com implicações cada vez maiores para o bem-estar e a saúde das gerações futuras.

As embalagens de alimentos são uma das principais fontes de contaminação por microplásticos e nanoplásticos (MNPLs), e a inalação e a ingestão são as principais vias de exposição humana.

Nesse contexto, um estudo do Grupo de Mutagênese do Departamento de Genética e Microbiologia da UAB (nordeste da Espanha) obteve e caracterizou com sucesso micro e nanoplásticos derivados de vários tipos de saquinhos de chá disponíveis no mercado.

Os pesquisadores observaram que o uso desses saquinhos de chá para preparar chá libera grandes quantidades de partículas de tamanho nanométrico e estruturas de nanofilamentos, o que é uma importante fonte de exposição a MNPLs.

Os saquinhos de chá usados na pesquisa foram feitos de polímeros de nylon-6, polipropileno e celulose.

Os resultados do trabalho mostram que, quando fabricados, o polipropileno libera aproximadamente 1,2 bilhão de partículas por mililitro, com um tamanho médio de 136,7 nanômetros, e a celulose libera cerca de 135 milhões de partículas por mililitro, com um tamanho médio de 244 nanômetros.

Da mesma forma, o nylon-6 libera 8,18 milhões de partículas por mililitro, com um tamanho médio de 138,4 nanômetros.

O trabalho dos pesquisadores exigiu o uso de várias técnicas analíticas avançadas, como microscopia eletrônica de varredura (SEM), microscopia eletrônica de transmissão (TEM) e espectroscopia de infravermelho (ATR-FTIR), entre outras.

“Conseguimos caracterizar esses poluentes de forma inovadora com um conjunto de técnicas de ponta, o que é uma ferramenta muito importante para avançar na pesquisa sobre os possíveis impactos na saúde humana”, disse a pesquisadora da UAB, Alba García.

As partículas foram coradas e expostas pela primeira vez a diferentes tipos de células intestinais humanas para avaliar sua interação e possível incorporação celular.

Os experimentos de interação biológica mostraram que as células intestinais produtoras de muco são as que apresentaram a maior absorção de micro e nanoplásticos e, além disso, as partículas foram introduzidas até mesmo no núcleo que abriga o material genético.

O resultado sugere um papel fundamental para o muco intestinal na absorção desses poluentes e destaca a necessidade de mais pesquisas sobre os efeitos que a exposição crônica pode ter sobre a saúde humana.

“Como o uso de plástico em embalagens de alimentos continua a aumentar, é vital abordar a contaminação por MNPLs para garantir a segurança alimentar e proteger a saúde pública”, disseram os pesquisadores.

O estudo foi realizado como parte do projeto European Plastic Heal, coordenado pela professora Alba Hernández, do Departamento de Genética e Microbiologia da UAB.

Durante o processo, os pesquisadores do Grupo de Mutagênese da UAB Alba García, Ricard Marcos e Gooya Banaei, primeiro autor do artigo de pesquisa, também participaram do processo e contaram com a colaboração de vários especialistas do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental em Leipzig (Alemanha).