Por Luis Dufaur, Verde: a nova cor do comunismo
A sociologia marxista inoculou no cerne do espírito moderno a inconformidade, o horror e a revolta contra a dor. E em primeiro lugar, uma revolta contra a dor humana.
É claro que é bom diminuir a dor tanto quando possível por meio da medicina ou outro recurso cabível.
Num segundo grau, com o pretexto de combater a dor, apareceram materialistas que para evitar a dor postularam o pecado, até nas suas formas mais cruéis. Algo típico é a limitação da natalidade para evitar a dor.
Pelo pecado de Eva a mulher gera na dor. Deus disse “darás à luz teus filhos com dor”. Toda atenuação é boa obtida moralmente pela medicina, mas sempre fica um fundo de dor.
Os mesmos materialistas não ficam só aí. Dando mais um passo, eles avançam até o ponto de se revoltar contra a dor animal pelo que ela tem de parecido com a dor humana.
De exagero em exagero, eles acabam aplicando ao animal o slogan da revolução anarquista de Maio de 1968: “é proibido proibir”.
Quer dizer, deixar que o animal faça o que seus instintos comandam e que o homem não lhe ponha limite algum. Por quê? Para que o bicho, mesmo danoso, não sofra dor nenhuma da parte do homem.
Então o homem, a quem se diz dar liberdade sem limites, fica proibido de proibir os animais, mesmo os mais perigosos. O javali destrói as culturas, mata homens, etc.? Ninguém deve proibir, é sua natureza…
Aparece assim a anarquia onde deveria haver a ordem, e de outro lado, a tirania onde deveria haver a liberdade.
Na utopia comunista não haverá governo de um homem sobre outro homem, de um pai sobre um filho, de um mestre sobre um aluno, de um patrão sobre o operário.
No cerne dessa liberdade desregrada aparece uma tirania filosófica e policial que impedirá o homem de usar o animal para matar sua própria fome.
De um inocente detido num cárcere se diz: “coitado, é uma injustiça”, e está perfeito.
Mas é desequilibrado dizer: “pobre passarinho, preso nessa gaiola, eu me indigno, pobre passarinho teria direito à sua liberdade, se eu pudesse eu abriria essa gaiola…”.
O passarinho não percebe de modo algum a gaiola, e não é sensato falar dele como se fosse um homem inocente detido sem justa causa.
Não faz sentido ter a mesma compaixão pelo animal como se tem com o homem.
Alguém objetará: “mas dr. Plínio, há pouco o senhor elogiava os rapazes que dão comida aos passarinhos e se deliciava com os passarinhos comendo uma geleia!”
A resposta é: isto é muito diferente: eu posso fazer bem a um animal, posso lhe fazer cessar a dor, mas é apenas por essa espécie de bondade que significa manter as coisas criadas por Deus na ordem posta por Deus.
Não é que eu vá querer o passarinho como quereria uma criança. Evidente.
A Declaração Universal dos Direitos dos Animais apresentada na UNESCO prossegue:
Todo animal escolhido pelo homem para companheiro tem direito a uma duração de vida correspondente à sua longevidade natural.
É um charabiá: o homem tem um cachorro e então é obrigado a dar condições para que o cachorro viva a duração natural de um cão.
E se o homem não tem o dinheiro para isso? Ele é obrigado a se privar para atender o cachorro? Se solta o cachorro, é crime.
Sabem qual é o resultado? Nenhum homem mais vai querer ter cachorro.
E quem perde com isso ainda são os cachorros. Porque uma coisa é querer ter um cachorro em casa, outra coisa é admitir uma espécie de filho com polícia “verde” atrás.
Admite o cachorro e atrás dele entra a polícia ambientalista para ver se está tratando bem do cachorro. Para não ter polícia, não quero cachorro. A polícia que elimine seus cachorros.
Todo animal utilizado em trabalho tem direito a uma limitação razoável da duração de trabalho e de uma intensidade desse trabalho com alimentação reparadora e repouso…
Oito horas de serviço… Eu estou certo de que quando os senhores se levantaram hoje, não imaginavam ouvir um absurdo desses.
Com esses critérios, haverá uma regulamentação para canários, para animais de carga, para tudo. E o bicho passa a ser o pesadelo do homem.
Isso dá no que eles querem: a proclamação da independência do bicho em relação ao homem. Revolução Francesa na ordem da vida. Está lógico, está claro.
A experimentação animal que envolver sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de experimentação médica, científica, comercial ou de qualquer outra modalidade.
Há inúmeras doenças que se curam porque os laboratórios fizeram experiências prévias, prudenciais, em animais. O animal assim é utilizado para salvar a vida do homem.
Mas segundo a declaração apresentada na UNESCO, isso passa a ser proibido. Acaba-se com as cobaias, se acaba com qualquer experimentação animal. O homem que sofra como quiser, a cobaia tem o direito dela à vida.
Quando a coisa chega a esse ponto, qualquer resquício de bom senso deixa de existir.
Todo ato que implique morte desnecessária de um animal, constitui biocídio, isto é, crime contra a vida.
Artigo 12. Todo ato que implique a morte de um grande número de animais selvagens, constitui genocídio, isto é, crime contra a espécie.
Então, matar um grande número de animais selvagens ou matar um grande número de homens, é um crime do mesmo gênero.
13. O animal morto deve ser tratado com respeito.
Crema-se hoje o homem; e o animal tem que ser tratado com respeito.
As crianças abortadas são jogadas na lata de lixo e ninguém providencia nada; o animal precisa ser tratado com respeito.
Quem jogar um gato no lixo vai para a cadeia; quem jogar o filho no lixo não sofre nada.
Essa declaração bastante abstrata tem desenvolvimentos concretos promovidos pelas famosas ONGs – organizações não-governamentais.
Uma delas chegou a formular umas novas Tábuas da Lei com 10 mandamentos verdes:
É uma paródia blasfema apresentar 10 mandamentos como se fossem os 10 mandamentos da Lei de Deus.
1. Ama a Deus sobre todas as coisas e a natureza como a ti mesmo.
2. Não defenderás a natureza em vão com palavras, mas por teus atos.
3. Guardarás as florestas virgens, pois tua vida depende delas.
Então, os desbravadores dos sertões, os bandeirantes, foram grandes celerados. Compreende-se perfeitamente a antipatia visceral do ambientalismo e comuno-tribalismo contra o agronegócio.
5. Não matarás.
O “não matarás” aqui é genérico. Não se refere especificamente aos homens. Não matarás nada do que é vivo, animais e plantas inclusive.
Então, nasce uma pergunta: um dia, do que viverá o homem?
6. Não pecarás contra a pureza do ar, deixando que a indústria suje o que a criança respira.
Cada vez que um homem expira emite CO2 para o ar. E, portanto, inclusive a respiração de uma criancinha, estraga o planeta.
7. Não furtarás da terra sua camada de húmus, raspando-a com o trator, condenando o solo à esterilidade.
8. Não levantarás falso testemunho dizendo que o lucro e o progresso justificam teus crimes.
9. Não desejarás para o teu proveito que as fontes e os rios se envenenem com o lixo industrial.
Quer dizer, o lucro e o progresso não justificam que o homem atue sobre a natureza.
10. Não cobiçarás objetos e adornos para cuja fabricação é preciso destruir a paisagem; a terra também pertence aos que ainda estão por nascer.
Tenho uma pergunta: micróbio é ou não é animal? E o antibiótico, o que é?
E quando a gente, para exterminar os germens da doença num ambiente, manda jogar sprays que esterilizam o ambiente? Isso é ou não é crime?
Para concluir: se o homem não utiliza a planta e o animal, onde vai acabar?
Há duas saídas possíveis: primeiro o homem se alimentar de pastilhas minerais. Isso dá numa civilização monstruosa, em que o homem só come pela manhã uma pastilha e depois mais outra. Todas feitas exclusivamente de minerais.
A outra possibilidade está na linha do tribalismo: é o homem utilizar cada vez menos das coisas da natureza. E, levado por uma religião meio hipnotizante, chegar à extinção gradual do gênero humano.
O nascimento vai se tornando cada vez mais raro, as pessoas mais débeis, até que de decadência em decadência se chegue ao fim do gênero humano.
Assim se efetivaria o pior dos genocídios! Por que?
Para poupar os animais e as plantas, os homens se suicidaram.
Morreram do que? Do pecado de ateísmo, do pecado de igualitarismo.
A declaração publicada na UNESCO proclama uma religião nova que entra: a da extinção do homem.
(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos resumidos de palestra pronunciada em 8.11.78. Sem revisão do autor)
Luis Dufaur é escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs