Protetores solares vêm danificando a vida marinha

07/11/2015 01:00 Atualizado: 15/06/2019 01:06

Por Marina Dalila, Epoch Times

Protetores solares podem ser mais danosos ao meio ambiente do que se  imagina. Os cientistas verificaram que quantidades mínimas do produto podem ser prejudiciais a um número alarmante de criaturas marinhas, que poderão ser afetadas direta e indiretamente. Eles afirmaram que as nanopartículas (material 100 mil vezes menor do que um fio de cabelo) de metais presentes em protetores solares, pastas de dentes e tintas que cobrem o exterior de barcos têm sido altamente nocivas à biodiversidade marinha. 


Um estudo publicado em abril, no jornal Environmental Science and Toxicology, demonstrou que minúsculas partículas de cobre e zinco podem desativar mecanismos de defesa de embriões do ouriço-do-mar. Os referidos metais foram responsáveis por interromper os mecanismos de autolimpeza desses animais em relação a certas substâncias tóxicas absorvidas por eles. Isso fez com que os embriões do ouriço com perfil mais suscetível ficassem expostos a danos causados por outros compostos tóxicos. Eles também observaram que alguns embriões nunca cresceram para virarem larvas. Isso ocorreu porque ao serem expostos a essas substâncias, eles se tornaram imediatamente incapazes de se alimentar e morreram. 

 

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Muito além do cobre e do zinco 


Parece mesmo que as nanopartículas nocivas englobam, na realidade, um grande grupo de substâncias. Os resultados adicionam-se à evidência crescente de que vários outros nanomateriais podem afetar plantas e animais de forma inesperada. Além do nano-zinco e do nano-cobre, outras nanopartículas, tais como dióxido de titânio (TiO2), também amplamente utilizado em protetores solares, podem prejudicar vermes marinhos minúsculos, crustáceos, algas, peixes, mexilhões e outras criaturas do mar.

 
As nanopartículas de TiO2 agem como filtros da luz ultravioleta em protetores solares, mas são muitas vezes revestidas com sílica ou alumínio para evitar reações indesejáveis na pele. No entanto, em água, este revestimento de sílica pode dissolver-se, libertando o TiO2  e permitindo-lhe reagir com a luz solar e oxigênio, resultando em numerosos compostos como o peróxido de hidrogênio (H2O2) por exemplo. Embora este composto seja um conhecido antisséptico (água oxigenada), níveis elevados do mesmo podem inibir o crescimento do fitoplâncton, que são pequenas plantas que formam a base de muitas cadeias alimentares dos oceanos.

 
O Dr. Craig Downs, diretor-executivo do Haereticus Environmental Laboratory em Clifford, na Virgínia – Estados Unidos – explorou diferentes componentes que vão de pesticidas a protetores solares, que podem estressar a vida dos corais, e fez um alerta em relação ao TiO2: “O resíduo do protetor solar era facilmente visível, um brilho iridescente na superfície da água”, disse Downs. Ele encontrou grandes mudanças nos embriões de coral, tanto durante o tempo de vida desses organismos quanto depois de mortos.

 

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Recife de corais ameaçados 

Os corais estão sendo seriamente ameaçados: vêm sofrendo diversos tipos de agressões por poluentes que vão além das causadas pelo titânio. Um outro estudo publicado por uma equipe de cientistas, em outubro deste ano, no jornal Archives of Environmental Contamination and Toxicology, demonstrou que a oxibenzona, uma substância química comumente encontrada em protetores solares e cosméticos, representa uma ameaça ecológica e para a própria existência dos corais e seus recifes. A oxibenzona é atualmente encontrada em mais de 3.500 tipos de protetores solares comercializados mundialmente.

Este estudo demonstrou que a oxibenzona é altamente tóxica para os corais jovens, tendo sido observadas quatro tipos de toxicidades. A primeira é a indução do branqueamento dos corais, evento associado à mortalidade em massa dos recifes de corais. O branqueamento dos corais é uma doença associada com temperaturas altas nas superfícies dos oceanos que são desencadeadas por  fenômenos climáticos como o El Ninho.  A oxibenzona aumenta a suceptibilidade de branqueamento do coral diante de baixas temperaturas. A segunda toxicidade se refere à danificação do DNA dos corais: desta forma, os corais não conseguem se reproduzir e quando conseguem dão origem a uma geração de corais deformada. Como consequência, a população de corais tem entrado em declínio. A terceira toxicidade se refere a uma alteração endócrina da plânula (forma larval do coral), de forma que ela não consegue se encaixar apropriadamente em seu próprio exoesqueleto levando-a à morte. A quarta se refere à uma deformação brutal da plânula que se torna impedida de nadar, além de tornar sua boca cinco vezes maior do que o normal.

Diante desta grave ameaça, o Dr. Craig Downs, lider e autor deste estudo, disse: “O uso da oxibenzona em produtos precisa ser seriamente revisto em ilhas e áreas onde a conservação dos recifes de corais estão em situações críticas. Qualquer esforço para reduzir a poluição pela oxibenzona poderá significar na sobrevivência de um recife por mais um verão, ou ainda ser a chance de recuperação de recifes afetados.”

 

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