Programa espacial dos EUA tem como objetivo combater ameaças estratégicas e inovar

Principal desafio para os Estados Unidos nesta corrida é o regime chinês

27/03/2018 17:32 Atualizado: 27/03/2018 17:32

Por Anastasia Gubin, Epoch Times

O presidente Donald Trump disse em 13 de março que o espaço se tornou um possível campo de guerra, e que para enfrentar esta ameaça, os militares dos Estados Unidos vão precisar de uma “Força Espacial”.

Ao falar para as tropas na Estação Aérea do Corpo de Fuzileiros Navais de Miramar, em San Diego, ele afirmou: “minha nova estratégia nacional para o espaço é que esta reconhece que o espaço é um possível campo de guerra, assim como a terra, o ar e o mar. Isso significa que poderemos ganhar uma Força Espacial. ”

Suas declarações encontraram eco nas preocupações que surgiram ao longo de décadas na comunidade militar e de defesa do país: a tecnologia moderna e o poder militar dos Estados Unidos dependem em grande parte de satélites vulneráveis, e os adversários estão pressionando para dominar o espaço militarmente.

“A China quer controlar o sistema Terra-Lua. Se fizer isso, poderá impor um pedágio sobre as ambições da economia espacial do Ocidente “, disse Richard Fisher, membro sênior do Centro Internacional de Avaliação e Estratégia.

“É muita sorte que o presidente Trump tenha colocado neste momento esse amplo entendimento e o desejo de posicionar os Estados Unidos e as democracias estrategicamente, de modo que China e Rússia não neguem os benefícios futuros do espaço a nosso povo”, disse Fisher.

Donald Trump anunciou em 11 de dezembro que sua política aeroespacial não servirá apenas para fincar uma bandeira norte-americana na Lua, mas que será focada mais na exploração e presença permanente (crédito: Alex Wong/Getty Images//NASA)
Donald Trump anunciou em 11 de dezembro que sua política aeroespacial não servirá apenas para fincar uma bandeira norte-americana na Lua, mas que será focada mais na exploração e presença permanente (crédito: Alex Wong/Getty Images//NASA)

A próxima corrida espacial tem duas facetas, uma militar e outra econômica. E o avanço no domínio do espaço sideral pode criar formas de tecnologia em ambos os campos, como visto na corrida lunar dos anos 1950 e 1960, o que levou à “revolução do silício” e a muitas outras tecnologias que conhecemos hoje.

“É um fato histórico que a corrida para a Lua serviu de ímpeto para muitas empresas comerciais que incentivaram novas indústrias nos Estados Unidos”, disse Fisher. “No entanto, a administração Trump está adotando um objetivo muito maior com a ideia de “Força Espacial “.

Durante uma mesa redonda em junho passado, Trump mencionou o problema de que os Estados Unidos podem perder sua liderança quanto à tecnologia global e disse que sua administração iria procurar ajudar a mudar esta situação.

“Há 50 anos atrás, nosso governo impulsionou a inovação que inspirou o mundo e colocou os norte-americanos na Lua”, disse Trump durante uma conversa com o Conselho de Tecnologia Norte-americana. “Hoje em dia, muitas de nossas agências dependem de uma tecnologia dolorosamente obsoleta, mas temos as melhores pessoas da área tecnológica que o mundo já viu aqui conosco nesta sala”.

Donald Trump anunciou em 11 de dezembro que sua política aeroespacial não servirá apenas para fincar uma bandeira norte-americana na Lua, mas que será focada mais na exploração e presença permanente (NASA)
Donald Trump anunciou em 11 de dezembro que sua política aeroespacial não servirá apenas para fincar uma bandeira norte-americana na Lua, mas que será focada mais na exploração e presença permanente (NASA)

“O governo precisa colocar-se em dia com a revolução tecnológica”, disse ele. “Os Estados Unidos devem ser os líderes mundiais em tecnologia governamental, da mesma forma como o somos em todos os outros aspectos, e vamos alcançar novamente uma grande vantagem na tecnologia, uma indústria tão importante.”

“Minha administração está adotando um novo espírito de inovação que irá melhorar a vida de todos os norte-americanos”, acrescentou.

A nova corrida espacial

Segundo Fisher, “a China está forçando o mundo a reviver uma fase da corrida armamentista global que foi extinta no final dos anos 1950”, e isso está levando a uma nova corrida espacial, que poderá ter implicações importantes para a inovação e a defesa.

Durante a última corrida espacial, disse Fisher, “os soviéticos queriam conseguir dominar militarmente a órbita baixa da Terra, e atacar os satélites norte-americanos, que eram melhores do que os seus próprios. Ao dominar a órbita baixa da Terra, eles obteriam a capacidade de dominar os conflitos no planeta.

“Esta é uma das ambições que a China tem revivido desde o início dos anos 1990, quando começou a desenvolver os seus interceptadores de mísseis terrestres antissatélite e seus lasers terrestres antissatélite”, disse ele.

“Sua verdadeira motivação é o desejo do Partido Comunista de defender a existência da sua ditadura política, obtendo o domínio estratégico global, alcançando uma posição de poder tanto na Terra como no espaço, para impedir qualquer outro poder de ameaçar sua posição de poder”.

À medida que os Estados Unidos se preparam para entrar em uma nova corrida espacial, haverá algumas diferenças importantes em relação às anteriores.

Ao contrário da corrida espacial do passado, os novos programas de viagens espaciais e comerciais serão liderados por empresas privadas, e as Forças Armadas norte-americanas também serão capazes de dar um impulso mais forte em direção ao espaço.

Fisher disse que, para Trump, é “primeiro de tudo, para criar um novo regime regulatório que permita aos novos participantes no setor espacial buscar o seu sucesso”, e acrescentou que isso tem “uma tremenda importância estratégica” para os Estados Unidos e para o resto do mundo, onde estas empresas privadas “têm as bases legais para poderem alcançar as suas ambições no espaço”.

“Esta nova corrida espacial, se quisermos, será a corrida para criar a economia espacial”, disse Fisher, que acrescentou que, à medida que a situação progride, “a corrida para criar a economia espacial vai implicar em quem será o primeiro a obter benefícios reais das atividades no espaço “.

Ele acrescentou: “O setor de produção de satélites provou ser muito rentável para as indústrias terrestres durante décadas e isso se manterá. Mas quem será o primeiro a mostrar que a Lua pode ser uma fonte de lucro? Quem será o primeiro a mostrar que pode-se obter benefícios em Marte?

Agências espaciais desenvolvem protocolos para não poluir Marte com substâncias da Terra e vice-versa: nosso planeta com possíveis compostos ou organismos marcianos trazidos do Planeta Vermelho (George Frey/Getty Images)
Agências espaciais desenvolvem protocolos para não poluir Marte com substâncias da Terra e vice-versa: nosso planeta com possíveis compostos ou organismos marcianos trazidos do Planeta Vermelho (George Frey/Getty Images)

O principal desafio para os Estados Unidos nesta corrida é o regime chinês, que está impulsionando um modelo alternativo para as indústrias espaciais, onde existe apenas uma linha tênue entre a indústria privada e as empresas estatais, e onde as empresas espaciais são estritamente reguladas para servir os interesses do Estado.

Na China, disse Fisher, cada indústria espacial da iniciativa privada tem em seu núcleo no Partido Comunista Chinês, e que obriga, através de regulamentos e leis, que “toda empresa do setor privado tem que controlar sua tecnologia, qualquer que seja, e fazer sua contribuição para a defesa da ditadura do Partido Comunista Chinês”.

O regime chinês anunciou planos para iniciar operações de mineração na Lua e também divulgou conceitos como painéis solares orbitais que podem transmitir energia para a superfície da Terra, usando a tecnologia laser. Os planos suscitaram preocupações sobre segurança na comunidade internacional, quanto à hipótese de a China conseguir transformar essas operações em uma arma, o que colocaria em perigo os satélites estratégicos dos Estados Unidos e permitir que a China nacionalize partes da Lua.

“A projeção chinesa no espaço é, em primeiro lugar, uma projeção militar”, disse Fisher.

“Quando a China chegar à Lua, possivelmente no início de 2030, ela não irá só para a Lua”, o Exército Popular de Libertação estará indo para a Lua. O país asiático dará utilidade dupla para a Lua”.

A administração de Trump está usando um modelo diferente, baseado na redução da burocracia e abrindo caminho para que as empresas tenham espaço para inovar e desenvolver.

Nos Estados Unidos, disse Fisher, “a nova corrida espacial está sendo liderada por empresas que procuram lucro, e esse é um conjunto de condições muito diferente.”

À medida que a corrida espacial progride, completou Fisher, “é concebível que as empresas do setor privado possam criar uma infraestrutura a partir da Terra até a Lua e Marte, tornando politicamente atrativo para China e Rússia lançar-se à conquista do espaço sideral.”