Pesquisadores ainda buscam por Atlântida e outras cidades lendárias

Por Elissa Michele Zacher
04/04/2023 16:07 Atualizado: 04/04/2023 16:08

A lendária cidade perdida de Atlântida realmente existe? A resposta é que nós ainda não sabemos. No entanto, pesquisadores podem ter descoberto outra conhecida cidade antiga.

No “Timeu” e “Crítias”, Platão menciona a cidade de Atlântida como um local de grande riqueza e avanço tecnológico, e que desapareceu sob as ondas num dia fatídico.

“Muitos e grandes foram os feitos da vossa cidade que são motivo de admiração nos registros que deles aqui ficaram. Mas, entre todos eles, destaca-se um em grandeza e beleza; os nossos escritos referem como a vossa cidade um dia extinguiu uma potência que marchava insolente em toda a Europa e na Ásia, tendo partido do Oceano Atlântico. Em tempos, este mar podia ser atravessado, pois havia uma ilha junto ao estreito a que vós chamais colunas de Héracles – como vós dizeis; ilha essa que era maior do que a Líbia e a Ásia juntas, a partir da qual havia um acesso para os homens daquele tempo irem às outras ilhas, e destas ilhas iam diretamente para todo o território continental que se encontrava diante delas e rodeava o verdadeiro oceano. De facto, aquilo que está aquém do estreito de que falamos parece um porto com uma entrada apertada. No lado de lá é que está o verdadeiro mar e é a terra que o rodeia por completo que deve ser chamada com absoluta exatidão ‘continente’. Nesta ilha, a Atlântida, havia uma enorme confederação de reis com uma autoridade admirável, que dominava toda a ilha, bem como várias outras ilhas e algumas partes do continente; (…)”, Platão, Timeu 24e-25a (tradução Rodolfo Pais Nunes Lopes)

“Posteriormente, por causa de um sismo incomensurável e de um dilúvio que sobreveio num só dia e numa noite terríveis, toda a vossa classe guerreira foi de uma só vez engolida pela terra, e a ilha da Atlântida desapareceu da mesma maneira, afundada no mar. É por isso que nesse local o oceano é intransitável e imperscrutável, em virtude da lama que aí existe em grande quantidade e da pouca profundidade motivada pela ilha que submergiu.”, Platão, Timeu 25c-d (tradução Rodolfo Pais Nunes Lopes)

A Atlântida, transformada em lugar mitológico, não é a única comunidade antiga que desapareceu numa noite. Em 373 a.C., numa noite de inverno, as cidades de Helike e Boura, no sul da Grécia, no Peloponeso, foram engolidas por um terremoto. Helike, um dos principais centros de culto do Deus Poseidon, foi submersa pelo Golfo de Corinto. No segundo milênio a.C., a erupção do vulcão Thera (Santorini) dizimou as avançadas culturas minóicas em Akrotiri, em Santorini, e na ilha de Creta.

Estes lugares ficavam no Mediterrâneo. Platão diz claramente que a Atlântida se localizava fora das “Colunas de Hércules”, nas águas do Atlântico. É geralmente aceito que a coluna ou pilar do norte é o Rochedo de Gibraltar. O pilar do sul é provavelmente Jebel Musa, no Marrocos. Platão disse que a Atlântida era uma ilha situada em frente ao estreito das “Colunas de Hércules” e que “num só dia e numa noite […] desapareceu […] afundada no mar”, alegadamente em torno de 9.000 a.C.

Recentemente, uma equipe de pesquisadores do Conselho Superior de Estudos Científicos da Espanha começou a examinar uma área pantanosa do Parque Nacional de Doñana, na Andaluzia, sul da Espanha, em busca de evidências da existência de uma aldeia de 3.000 anos de idade, e que, segundo acreditam, poderia ajudar a identificar Tartessos. A hipótese dos pesquisadores é que a moderna cidade de Huelva se originou da antiga aldeia de Tartessos. Os estudiosos gregos Aristóteles e Pausanias diziam que Tartessos era o nome de um rio na Espanha que fluía dos Pirineus até as Colunas de Hércules, onde havia uma cidade do mesmo nome. Segundo esta visão, Tartessos designava uma civilização que vivia no sul da Península Ibérica, e cuja capital localizava-se no coração do atual Parque Nacional de Doñana. As evidências da cultura Tartessiana foram escavadas no lado oposto da área pantanosa que fica próxima à foz do rio Guadalquivir. Fotos aéreas sugerem a existência de grandes formas circulares e retangulares naquela área. Os pesquisadores estão construindo mapas digitais a partir de fotografias subaquáticas e imagens subterrâneas feitas por radar para o levantamento detalhado das áreas estudadas.

Segundo os relatos históricos, Tartessos teria existido entre os séculos 11 e 7 a.C. no sul da Espanha, e se tornado rica por meio do comércio de ouro e prata das minas locais. A cidade e a civilização desapareceram dos registros por volta de 500 a.C. Segundo consta, Tartessos teria sido governada por reis e teria a sua própria língua e cultura, possivelmente de origem Celta. Alguns estudiosos afirmam que a cultura Tartessiana já possuía, na época de sua existência, algo em torno de 6.000 anos de idade.

Esta área tem sido apontada por outros como sendo a sede da Atlântida. Platão escreveu que a Atlântida era uma ilha com cinco “estádios” (925 m) de diâmetro, cercada por anéis concêntricos, alguns de terra e outros de água. O Dr. Rainer Kuehne, que tem procurado a lendária civilização perdida, disse em 2004 que fotos aéreas tiradas por Werner Wickboldt mostram círculos concêntricos e duas grandes estruturas no Parque Nacional de Doñana. Ele sugere que as duas “estruturas” enterradas sob o lodaçal do parque são o templo atlanteano dedicado a Poseidon e Cleito, descritos por Platão. Kuehne também opina que Platão, cujo relato se baseia, pelo menos em parte, em fontes egípcias, pode ter confundido os termos ilha e litoral. Segundo Kuehne, a Atlântida localizava-se na faixa costeira, e não numa ilha. Esta hipótese se ajusta melhor às descrições do próprio Platão sobre a existência de planícies e montanhas próximas. Além disto, esta área na Espanha é rica em cobre, estanho e outros metais, se harmonizando com os relatos sobre o desenvolvimento da metalurgia, pela qual a Atlântica também ficou conhecida.

O professor Richard Freund da Universidade de Hartford acredita que este potencial sítio arqueológico no Parque Nacional de Doñana não remete apenas a Tartessos, mas também a Atlântida. Em sua opinião, a Atlantida/Tartessos foi aniquiladas por um tsunami. Ele e Kuehne apareceram no especial da National Geographic: “Finding Atlantis” (Em busca da Atlântida).

No documentário, um dos pesquisadores exibe uma pequena estatueta de Astarte (Afrodite) para a câmera, afirmando ser proveniente da região. Com o seu capacete redondo, a estatueta se parece com a Senhora de Elche, uma peça icônica de arte ibérica do século IV a.C., proveniente da cidade de Elche (ou Elx), leste da Espanha.

Elche era uma colônia fundada por gregos de Helike e posteriormente tomada pela população de Cartago (colônia Fenícia). Os Tartessianos foram parceiros comerciais dos fenícios, que tinham uma colônia nas proximidades de Gadir (atual Cádiz). Por isto, não se sabe se a estatueta foi feita na Atlântida/Tartessos ou se foi trazida como consequência do comércio com os fenícios de Gadir a partir de 800 a.C. Para esclarecer a questão, seria necessário verificar a proveniência da argila empregada em sua confecção e estabelecer a idade da estatueta por termoluminescência, além de verificar se a sua aparência corresponde com outras estatuetas de Astarte em datas comparáveis. Sabe-se ainda que a estatueta tem semelhança também com pequenas figuras votivas de Astarte provenientes de Israel. Tudo o que a estatueta prova é que ela existiu na Atlanta/Tartessos devido à coexistência com os fenícios.

A resposta pode ser positiva, de acordo com as “imagens de resistividade” da estrutura retangular sob a lama no Parque Nacional de Doñana. Os testes de resistividade aparecem como imagens em claro e escuro que indicam grandes quantidades de matéria sólida no subsolo, como uma parede de pedra, ou terra escavada, como uma trincheira. O “retângulo” na imagem parece bastante sólido. Mas não se sabe por que ele é a única “estrutura” sólida. Quanto aos círculos concêntricos descritos por Platão, talvez eles possam ser identificados no lado sul, mas não há maneira de ter certeza sem que sejam realizadas escavações. Contudo, as escavações no parque seriam proibitivamente caras, além de potencialmente perigosas, uma vez que os depósitos de terra sobre as “estruturas” podem ter mais de 6 metros de profundidade.

Alguns questionam se as pedras observadas debaixo d’água durante o mergulho na costa da Doñana são evidências de estruturas feitas pelo Homem. Por exemplo, os estudos das alegadas âncoras chinesas, feitas de pedra, encontradas na costa da Califórnia ainda são inconclusivos, e o debate sobre o caso continua. A teoria de que tsunamis sucessivos tenham causado o deslocamento de grandes rochas ao longo da costa local é inteiramente plausível.

Freund também menciona os grandes depósitos de metano que emanam do parque. Obviamente, havia grandes quantidades de matéria orgânica ali, antes que a lama fosse depositada por um evento abrupto. A matéria orgânica soterrada produz o gás metano ao entrar em decomposição, mas a que seres vivos aquela matéria originalmente pertencia é algo sobre o que somente se pode especular. Freund sugere que apenas um tsunami poderia ter coberto a área de forma tão rápida, soterrado pessoas, plantas e animais, embora qualquer tipo de inundação ou acúmulo relativamente rápido de terra possam também oferecer uma explicação.

Cancho Roano é reconhecido como um sítio Tartessiano que pode ter sido um palácio ou um lugar para rituais. O sítio, que data do século VI a.C. até cerca de 370 a.C., certamente mostra sinais de atividades religiosas, com inquestionáveis altares tendo sido escavados. O edifício quadrado era orientado para o leste e cercado por um fosso e muralhas. Freund teoriza que Cancho Roano é um memorial, que homenageia a cidade perdida de Atlântida, o que explicaria o fosso. Ele também diz que um petróglifo (figura gravada na rocha) encontrado numa estela de entrada (monumento de pedra) mostra um homem que parece estar guardando algo feito de círculos concêntricos. Outros estudiosos dizem que a imagem retrata um “guerreiro e protetor” comum. Em todo o sudoeste da Espanha encontram-se imagens dos três círculos concêntricos em estelas (monólitos) de pedra, que se acreditam ser monumentos funerários. Acredita-se que os círculos representam um escudo de madeira, coberto com pele ou bronze.

O Parque Nacional de Doñana foi sem dúvida Tartessos, mas se Tartessos é a Atlântida é algo que nunca saberemos. Se as datas indicadas por Platão, a respeito de Atlântida, forem mesmo aproximadamente corretas, então a Atlântida e Tartessos estão distantes por um lapso temporal de pelo menos 8.000 anos. Segundo Platão, a Atlântida tinha “docas com teto de pedra, talhados em rocha vermelha, branca e preta”. Esta descrição corresponde a uma planície interior no Marrocos, que os berberes se referem como a “ilha de Atlântida”.

Elissa Michele Zacher é uma escritora britânica, com publicações na Apt, uma revista literária on-line, The Northeast Poetry Journal, e na Freedom Press, entre outras. Sua poesia e artigos são baseados em suas viagens, família, e observações. Atualmente, ela está vivendo em Ottawa, Canadá