Percepção primária: a vida secreta das plantas – Parte 2

Por Ben Bendig
27/05/2023 14:37 Atualizado: 27/05/2023 14:43

Cleve Backster publicou em 2003 o livro “Percepção primária: Biocomunicação com plantas, alimentos vivos e células humanas”, o primeiro relato detalhado de seu trabalho. Neste livro, o autor detalha todas as diferentes coisas que monitorou como: plantas, bactérias, ovos e até células animais do sangue de vacas e de humanos.

“Há tantas implicações aqui, que me surpreende que as pessoas na comunidade científica simplesmente não se entusiasmem”, diz Cleve enquanto sorri.

Ele enfrentou décadas de desprezo por parte da comunidade acadêmica, apesar de ter apresentado suas descobertas em muitas conferências e a muitos cientistas por todo o mundo. Contudo, sua atitude não esmoreceu, ele é um homem convicto de que descobriu algo importante e está decidido a não se deixar abalar pela fragilidade humana em aceitar novas ideias.

“Além do mais, tudo o que escrevo no livro é verdadeiro”, diz Cleve bem humorado.

“Fui extremamente cuidadoso com isso, tudo o que se encontra no livro foi comprovado com base em fatos. Eu não queria que as pessoas usassem um pequeno pormenor técnico que não fosse preciso, e então dissesse, bem, o resto de seu trabalho não é preciso.”

Cleve tem seguido esta mesma abordagem no que diz respeito a teorizar sobre a razão da existência dos fenômenos que constatou. Evitando teorizar a respeito de coisas que possam ser vistas como incorretas, ele espera evitar cenários em que pessoas refutem seus dados como se fossem meras especulações.

Potenciais explicações do campo da física

Apesar de Backster não publicar teorias sobre a percepção primária, uma das pistas mais promissoras para sua compreensão dentro das teorias já existentes é um fenômeno na física quântica conhecido como “não-localidade”.

A não-localidade é algo que foi previsto pela física quântica e que Einstein chamou de “ação misteriosa à distância”, a ideia é que partículas possam estar ligadas entre si através do espaço, ou à distância.

Já foi demonstrado em experimentos que quando um par de fótons (partícula luminosa) são emitidos de um átomo estimulado, e muda-se a polaridade de um deles (ao passá-lo através de um filtro), a polaridade do outro também muda. E esta mudança ocorre num tempo menor do que a luz levaria para percorrer a distância entre as duas partículas.

Quando fótons demonstram este comportamento, é dito que estão interligados. Portanto, até onde vai a não-localidade? Aplica-se apenas a pequenas partículas? Ou podem sistemas maiores estar também interligados? E se formas de vida pudessem estar interligadas, que manifestações isso produziria?

Se a não-localidade se manifesta ao nível da vida e da mente, então a designada percepção primária pode ser precisamente uma evidência da não-localidade. As investigações de Backster demonstram a transmissão de um sinal que não é afetado pela distância ou por material interveniente que bloquearia ondas eletromagnéticas.

Recepção do público

Apesar do grande interesse popular nas descobertas de Backster durante a década de 70, a comunidade científica ainda não acolheu a ideia. Uma razão nítida foi a falha em reproduzir o primeiro experimento publicado de Backster, fato que foi publicado no proeminente periódico Science em 1975.

No entanto, de acordo com o livro de Backster, os cientistas e outros que tentaram e falharam não seguiram todos os controles científicos da investigação original.

Um controle particularmente importante que Backster descobriu ser necessário, é que não se pode observar a resposta da planta ou qualquer outro ser vivo em estudo, enquanto a resposta está ocorrendo, observar simultaneamente bloqueia o progresso da resposta.

Quando lidando com um fenômeno tão singular como é a percepção primária, não observar todos os controles que o investigador original identificou necessários para produzir o efeito é um erro e desleixo do método científico.

Contudo, a hipótese de que a observação do objeto em estudo possa inibir os resultados foi ignorada por não fazer sentido de acordo com os paradigmas da ciência, de modo que ao tentar replicar a investigação não foi atribuída importância a estes controles.

Diz-se que os biólogos botânicos são um grupo particularmente conservador e alguns proeminentes cientistas na época rejeitaram que as plantas pudessem exibir qualquer tipo de atividade elétrica e muito menos capacidades perceptivas.

“Quando falo com estes indivíduos [os céticos], as implicações são profundas e é realmente um teste para eles escolher entre ter uma conduta de verdadeiro cientista e explorar a questão, ou preferir simplesmente se manter longe disto”, diz Backster.

“Você não tem este problema [de ceticismo resoluto] com alguém que não está na posição de defender o corpo do conhecimento científico estabelecido”, diz ele.

No entanto, a presença de atividade elétrica nas plantas está sendo progressivamente reconhecida. Cientistas do campo da neurobiologia vegetal descobriram que plantas exibem sinais muito semelhantes à atividade neural em animais. Contudo, estes não são os mesmos sinais que Backster tem investigado.

Apesar de Backster não possuir Ph.D., sua atitude e investigações revelam que ele se encontra muito mais no espírito da verdadeira ciência do que os que rejeitam seu trabalho sem refletir.

Na realidade, estas descobertas já foram replicadas por outros, incluindo o cientista russo Alexander Brubov e Marcel Vogel, que se encontrava na IBM no momento de seus estudos, como relatado no livro “A vida secreta das plantas”. O autor deste artigo também elaborou sua tese final de curso sobre este tópico, mostrando resultados significantes na sensibilidade das plantas à interação humana.

Incentivando outros investigadores

Backster tem sempre apoiado outras pessoas que desejam investigar por si mesmas. E desde que os controles sejam observados, os sinais se manifestam; o autor deste artigo observou-os em primeira mão no laboratório de Backster em San Diego, bem como em suas próprias investigações, assim como em gravações de vídeo das experiências realizadas por Backster.

“Para as pessoas que pretendem se envolver e se familiarizar com a possibilidade deste fenômeno, elas têm de manter a espontaneidade da experiência”, explica ele.

Backster recomenda gravar o que acontece na sala com uma câmera, e usar outra câmera para captar as leituras do aparelho de medição.

“Em seguida, veja as gravações desde o início e ficará espantado com a sincronicidade dos acontecimentos, desde que mantenha a espontaneidade da experiência.”

Após descrever a percepção primária, Backster espera que a curiosidade das pessoas as leve a investigar o assunto com honestidade.

“Isto deveria ser um forte indício de que há algo mais a descobrir, cabe agora a eles estruturar um método possível de ser repetido”, diz ele. “Há um grande conflito entre espontaneidade e repetibilidade.”

A maior parte das vezes, a ciência confirma a existência de um novo fenômeno quando consegue por diversas vezes replicar os mesmos resultados sob as mesmas circunstâncias. No entanto, quando o objeto de estudo está relacionado com a consciência e fenômenos mentais esta abordagem pode não ser adequada.

Por exemplo, só porque alguém não ri de uma piada pela quarta vez que a ouve não significa que a mesma não seja engraçada. A questão é que alguns tipos de fenômenos não são passíveis de manifestar este tipo de repetição.

“Portanto, de uma maneira ou de outra, a comunidade científica tem de resolver esta questão e não usar isso como uma desculpa, como se algo não pudesse ser provado”, diz Backster.

Planos após publicação do livro

No momento, Backster está à procura de alguém que possa dar continuidade a sua pesquisa no campo da percepção primária ou que o ajude em investigações futuras.

“O ponto em que me encontro é o seguinte, suporto este laboratório de investigação já há 27 anos”, diz ele, “mas me encontro num ponto em que não é possível fazer tudo sozinho”.

“Tenho de obter fundos suficientes para conseguir pelo menos um assistente que possa me ajudar, porque ter de pensar em todas estas coisas e achar meios de financiar a pesquisa”, ele ri, “além de conduzir as experiências propriamente ditas, e lidar com todas as consequências depois, torna-se demasiado para uma pessoa só.”

Depois de 40 anos sem muito apoio concreto para sua pesquisa, Backster afirma “às vezes dá a sensação de que muitos dos outros grupos científicos mais estabelecidos simplesmente desejam que uma pessoa desista pelo cansaço ou que fique sem dinheiro para financiar a pesquisa e se vá embora. Mas eu não sou dado a isso”, diz ele rindo.

“Eu não quero ir embora. Fico realmente ofendido com a ideia de que algo tão óbvio e tão facilmente observável como este fenômeno possa ser deliberadamente rejeitado por pessoas que se afirmam cientistas, isso simplesmente não cabe na definição de cientista.”

Backster criou a Fundação Backster de Pesquisa Inc. em 1965 como uma fundação de pesquisa sem fins lucrativos para ajudar a financiar seu trabalho. A fundação é sólida e os donativos são dedutíveis. No entanto, o financiamento não tem sido abundante com o passar das décadas.

“É uma coisa muito competitiva no que diz respeito ao dinheiro”, explica ele. “Já dei palestras muitas vezes para diversos grupos científicos, [a importância destes assuntos] deveria ser evidente pelo menos o suficiente para as pessoas perguntarem se é necessário algum apoio.”

“Começo a pensar que é bastante ingênuo pensar que as pessoas oferecerão ajuda espontaneamente, porque se você mesmo não pedir dinheiro, você simplesmente não receberá.” Backster e seu editor investigaram possíveis subvenções, mas é uma possibilidade difícil quando não se tem ligações com uma instituição acadêmica.

Backster tem também o desejo de desenvolver um aparelho portátil e barato, que possa amplificar estes sinais para que mais pessoas possam dar início a suas investigações. Ele gostaria, especialmente, que estudantes e jovens pudessem ter o beneficio de utilizar tais equipamentos.

“Penso que muitas coisas que seriam descobertas, seriam consideradas incríveis”, diz ele.

“Todos os seres vivos emitem estes sinais sutis, são sinais de microvolts. Através da amplificação destes, e então a comparação dos registos, digamos, recordando num computador estes sinais e o que está ocorrendo no ambiente, eu penso que as pessoas iriam achar muito, muito interessante.”

“Seria muito surpreendente haver um número indeterminado de causas e efeitos para uma situação; em que enormes reações pudessem ser vistas e quando você pudesse ver o que realmente causou aquilo, as pessoas ficariam espantadas!”

Cleve Backster morreu em 2013, mas sua contribuição e legado verdadeiramente científico jamais será esquecido. Assim como os grandes gênios da humanidade, ele foi além de axiomas e do que podia ser visto ou comprovado, demonstrando como sabemos tão pouco sobre a vida e o universo.