Opinião: não, nós não esgotamos os recursos da Terra

O capitalismo torna o planeta mais verde e limpo, enquanto o socialismo o destrói

03/08/2018 11:21 Atualizado: 03/08/2018 11:21

Por Jonathan Newman, Instituto Mises

Segundo a Global Footprint Network (organização não governamental de pesquisa de recursos naturais e mudanças climáticas), os seres humanos já terão usado todos os recursos naturais da Terra para este ano a partir de agosto. O chamado “Dia de Sobrecarga da Terra” tem avançado pelo calendário desde o dia 29 de dezembro de 1970 até 1º de agosto de 2018.

Quanto mais consumimos além da estimativa de capacidade da Terra para regenerar recursos, mais próxima a data: “O Dia da Sobrecarga da Terra foi calculado comparando-se o consumo total anual da humanidade (Pegada Ecológica) com a capacidade da Terra de regenerar os recursos naturais renováveis nesse ano (biocapacidade)”, diz a organização em seu site.

A data significa que nós consumimos cerca de 60% da capacidade de produção anual de recursos da Terra em 48 anos desde 1970. Isso soa como uma dívida gigantesca, a ser paga indo-se de bicicleta para o trabalho, tornando-se vegano, impondo limites populacionais rigorosos e retornando às condições de vida pré-industriais sempre que possível.

Comentaristas em vários sites da internet onde foi divulgado o Dia de Sobrecarga da Terra culpam esmagadoramente o capitalismo e a superpopulação como causas-raiz do nosso “excesso de consumo” de recursos. As empresas privadas não têm incentivo para preservar os recursos — a ganância as leva a explorar a Terra para lucrar hoje sem considerar o amanhã. A falta de controle de natalidade e de educação sexual proporcionada pelo governo devido a políticos misóginos permite que as taxas de natalidade em algumas partes do mundo permaneçam altas, o que exerce pressão indevida sobre os nossos escassos recursos, segundo os comentários.

O problema com essa suposição é que nem a teoria econômica nem os indicadores globais de bem estar humano a confirmam.

O que diz a teoria econômica sobre o uso de recursos

Em primeiro lugar, a teoria econômica afirma que os empresários estão preocupados com a disponibilidade futura de recursos produtivos. Os empresários não estão no negócio de ganhar dinheiro hoje em dia; eles estão interessados em obter benefícios ao longo do tempo e utilizarão seus recursos em conformidade. Na verdade, um dos paradigmas mais esquecidos do lucro é que um empresário só pode vencer a concorrência e obter mais lucro se ele utilizar menos recursos para produzir mais, seja através da inovação tecnológica ou da acumulação de capital.

E mesmo que alguns recursos estejam esgotados, isso significa apenas que os empresários atendem às demandas dos consumidores quando os consumidores querem que elas sejam satisfeitas. É um erro culpar os produtores pelo esgotamento dos recursos porque eles estão sujeitos aos consumidores. Eles fornecerão o produto desejado e o consumidor decidirá que equilíbrio de bens ele quer desfrutar. Preservar e desfrutar a natureza é também um “bem” que muitos consumidores hoje em dia valorizam muito.

Portanto, os consumidores também estão interessados na preservação dos recursos. A forma como equilibramos o uso dos recursos hoje e amanhã depende da taxa de preferência temporária de cada um, a preferência que damos ao consumo presente sobre o consumo futuro.

Somos mais propensos a economizar e manter recursos quando esperamos que o consumo futuro seja maior ou melhor. É por isso que não comemos todas as uvas hoje, mas usamos algumas para fazer vinho para o consumo futuro. É também a razão pela qual os agricultores têm o cuidado de fazer rodízio de culturas e não sobrecarregar as suas terras para torná-las as mais produtivas possíveis durante o maior tempo possível.

Portanto, as melhores políticas de preservação de recursos são a propriedade privada e permitir que os empresários usem e experimentem novas tecnologias que possam reduzir os custos (usando menos recursos) e aumentar a produção (fazendo com que a rentabilidade futura seja maior). A produtividade não representa uma perda de recursos da Terra, mas sim um grande incentivo para que empresários e consumidores economizem e invistam no futuro.

Na verdade, o poderoso incentivo da propriedade privada é demonstrado pela “tragédia dos comuns”. Assim como os agricultores, os proprietários privados de terras e recursos produtivos arriscam a própria pele ao assumir a responsabilidade pela manutenção dos seus recursos. Já os “latifundiários” de terras e recursos públicos não, razão pela qual os bens ou recursos sob gestão pública dos quais ninguém é dono (como o oceano) são muitas vezes utilizados em excesso.

E não esqueçamos da interferência do governo no mercado. A interferência governamental mais importante que incentiva o desperdício, embora raramente citado, é a política monetária expansiva. Ambientes inflacionários levam todos a consumir mais do que normalmente consumiriam, porque guardar dinheiro enquanto os preços sobem é uma atitude que causa prejuízo.

A expansão de crédito também faz com que os empresários desperdicem recursos produtivos, perseguindo linhas de produção equivocadas — pense nas mansões vazias devido à bolha imobiliária causada pela Reserva Federal que eclodiu em 2007-2008. É claro, há muitos outros exemplos. É interessante notar que as sociedades mais esbanjadoras, que esgotaram mais recursos e causaram danos irreparáveis ao meio ambiente, foram as economias comunistas ou socialistas controladas pelo Estado. No entanto, sempre esperamos que o governo resolva os problemas ambientais.

A teoria econômica é bastante clara sobre o que realmente leva ao consumo excessivo e ao mau investimento dos recursos atuais. Mas e os dados? Devemos temer a superpopulação ou o declínio dos recursos naturais?

Resumindo, não. Todos os indicadores existentes de bem-estar humano mostram que o mundo está muito melhor com 7,6 bilhões de pessoas em 2018 do que com metade no início da década de 1970. A população da Terra duplicou, mas a proporção da população vivendo em extrema pobreza teve uma redução de cerca de 60% em 1970 para menos de 10% hoje.

A taxa de analfabetismo caiu de 44% para 14% desde 1970. O número de pessoas sem acesso a fontes de água tratada caiu pela metade desde 1990. A expectativa de vida média mundial aumentou mais de 12 anos desde 1973, de acordo com o site OurWorldInData.org.

Então, os seres humanos estão muito melhor, mas e a Terra? Nós prosperamos às custas do nosso planeta?

A terra está se tornando um planeta deserto?

Não. A Terra tornou-se 14% mais verde entre 1986 e 2016, de acordo com um estudo da Universidade de Boston. A produção de peixes de aquicultura supera largamente a pesca selvagem, que estagnou desde a década de 1980. A produção de cereais triplicou desde a década de 1960, ultrapassando de longe o aumento populacional, embora a terra utilizada para a produção de cereais continue praticamente a mesma.

Em 2017, a empresa de energia BP (British Petroleum é uma empresa multinacional sediada no Reino Unido que opera no setor de energia, sobretudo de petróleo e gás) estimou que tínhamos mais de 1,6 bilhão de barris de reservas de petróleo comprovadas. Eles calculam que seja suficiente para 50 anos, mas essa estimativa é baseada na manutenção dos níveis de produção de 2017, quando era mais do que razoável esperar que a demanda caísse e que a produção fosse mais eficiente. Além disso, podemos esperar que novas tecnologias disponibilizem reservas petrolíferas que não tenham sido previamente testadas ou que eram inacessíveis. Falando da energia, a produção líquida de eletricidade das fontes nucleares aumentou 3.473% entre 1970 e 2013, de acordo com dados do Earth Policy Institute.

Para ilustrar, o já falecido economista de livre mercado Julian Simon uma vez desafiou um defensor da escola de pensamento “os recursos estão se esgotando”, o biólogo Paul Ehrlich, a fazer uma aposta em 1980. Ehrlich havia previsto que cobre, cromo, níquel, estanho e tungstênio se esgotariam em 1990, causando aumentos significativos no preço, pois a demanda permaneceria estável. Simon disse que seus preços seriam ajustados à inflação já que a oferta se manteria. Como sabemos, 28 anos depois, todos estes metais ainda existem e não é necessário dizer que Simon ganhou a aposta.

Conclusão

Somos mais ricos e produtivos do que nunca e parece que estamos mantendo e até mesmo expandindo a capacidade da Terra de atender às nossas necessidades.

Talvez a única causa de alarme seja que existam tantas pessoas pessimistas sobre a população mundial e nossos recursos naturais, apesar do progresso surpreendente que fizemos nos últimos 50 anos. Os pessimistas exigem que os governos interfiram, mas as intervenções são desnecessárias e prejudiciais ao progresso que tornou possível à economia de mercado criar uma sociedade mais verde e mais limpa.

Jonathan Newman é professor assistente de Economia e Finanças no Bryan College. Ele obteve seu doutorado pela Universidade de Auburn e é membro do Instituto Mises. Este artigo foi publicado pela primeira vez por Mises.org

Os pontos de vista expressos neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do Epoch Times