Cientistas norte-americanos da Universidade Northwestern, em Illinois, e da Universidade do Novo México, no estado homônimo, fizeram uma descoberta surpreendente: existe um “oceano gigante” escondido sob a crosta da Terra, especificamente a 640 km abaixo da América do Norte.
A revelação, ocorrida em abril e publicada na revista Science em junho, indica que o reservatório de água tem um volume três vezes maior do que o de todos os oceanos da superfície da Terra juntos.
O imenso oceano foi localizado durante as pesquisas para desvendar as origens da água no planeta, lideradas pelo geofísico da Northwestern, Steve Jacobsen, e pelo sismólogo da Novo México, Brandon Schmandt.
O corpo de água subterrâneo está encapsulado dentro do ringwoodite, uma rocha da família da olivina (um mineral composto por átomos de silício e oxigênio), marcada por sua coloração azul vibrante, e localizado entre 410 e 660 quilômetros abaixo da superfície.
Para localizar o oceano oculto, foi montada uma rede de 2.000 sismógrafos em todo os Estados Unidos. Esses instrumentos realizaram uma análise minuciosa das ondas sísmicas geradas por mais de 500 terremotos. À medida que essas ondas se deslocavam pelas profundezas da Terra, incluindo seu núcleo, elas desaceleravam ao encontrar rochas úmidas, indicando a presença desse vasto reservatório de água.
Um novo paradigma
O tamanho deste sistema submerso muda o paradigma das teorias que consideram os impactos de cometas como a principal fonte do ciclo da água na Terra. Agora, os cientistas reavaliam a possibilidade de que os oceanos tenham surgido lentamente de seu interior ao longo do tempo, migrando entre os grãos de rocha.
A água pode ter sido levada a grandes profundidades pela tectônica de placas, resultando em um derretimento parcial das rochas do manto.
“Isso constitui uma evidência significativa que apoia a noção de que a água da Terra se originou internamente”, disse Jacobsen.
O pesquisador destacou que sem esse reservatório a água estaria predominantemente na superfície da Terra, com apenas os picos das montanhas visíveis.
“Processos geológicos na superfície da Terra, como terremotos ou erupções vulcânicas, são uma expressão do que acontece dentro do planeta, fora da nossa vista”, afirmou Jacobsen.
“Acredito que finalmente estamos vendo evidências de um ciclo de água que envolve toda a Terra, o que pode ajudar a explicar a vasta quantidade de água líquida na superfície do nosso planeta habitável”, disse o geofísico. “Os cientistas têm buscado essa água profunda faltante há décadas.”