Nobel de Medicina vai para descobridores do microRNA, mecanismo vital para controlar genes

Por Agência de Notícias
07/10/2024 17:41 Atualizado: 07/10/2024 17:41

O Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia foi concedido nesta segunda-feira (07) aos americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun pela descoberta do microRNA, uma nova classe de moléculas minúsculas que constituem um mecanismo essencial para o controle dos genes.

A descoberta dos cientistas revelou um princípio “completamente novo” de regulação de genes que é fundamental para o desenvolvimento e o funcionamento de organismos multicelulares, incluindo os humanos, cujo genoma codifica mais de mil microRNAs, informou em sua fundamentação a Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska, em Estocolmo.

“Queremos enfatizar a importância da compreensão das funções básicas, que é sempre o primeiro passo para a utilização desse conhecimento”, disse Gunilla Karlsson, presidente do Comitê do Nobel de Medicina, em entrevista coletiva, ao explicar a relevância do prêmio.

Karlsson destacou que atualmente há muitos testes baseados nas descobertas dos cientistas premiados para desenvolver tratamentos para câncer ou doenças cardiovasculares.

O Comitê do Nobel lembrou que a informação genética passa do DNA para o RNA mensageiro (mRNA) por meio de um processo de transcrição e, a partir daí, para o mecanismo celular de produção de proteínas, onde os mRNAs são transformados para que as proteínas se desenvolvam de acordo com as instruções genéticas armazenadas no DNA.

Fatores de transcrição

Já na década de 1960, foi demonstrado que proteínas especializadas, conhecidas como fatores de transcrição, podem se ligar a regiões específicas do DNA e controlar o fluxo de informações genéticas, determinando qual mRNA é produzido.

Desde então, milhares de fatores de transcrição foram identificados, e por muito tempo acreditou-se que os princípios fundamentais da regulação gênica haviam sido resolvidos.

Como estudantes de doutorado no final da década de 1980, Ambros e Ruvkun começaram a estudar um verme nematoide de um milímetro de comprimento chamado Caenorhabditis elegans, que possui muitos dos tipos de células especializadas encontradas em animais mais complexos.

Seu foco principal eram os genes que controlam a ativação de diferentes programas genéticos para que as células se desenvolvam no momento certo, e eles se concentraram em duas linhagens mutantes de vermes (lin-4 e lin-14).

Posteriormente, Ambros descobriu que o gene lin-4 produzia uma molécula de RNA excepcionalmente pequena que não possuía um código para a produção de proteínas e que isso era responsável pela inibição do lin-14.

Em paralelo, Ruvkun provou que não era a produção de mRNA do lin-14 que era inibida pelo lin-4, mas que a regulação ocorria mais tarde, quando a produção de proteínas cessava.

Os dois compararam suas descobertas e realizaram novos experimentos que lhes permitiram revelar um novo nível de regulação de genes, publicando suas descobertas em 1993.

A princípio, esse mecanismo incomum foi considerado irrelevante para os seres humanos, até que o grupo de pesquisa de Ruvkun publicou, em 2000, outro microRNA codificado pelo gene lin-7, presente em todo o reino animal, abrindo caminho para a descoberta subsequente de centenas de microRNAs diferentes e uma nova dimensão da regulação gênica.

Para Olle Kampe, vice-presidente do Comitê Nobel de Medicina e Fisiologia, esse é “um dos grandes prêmios Nobel porque é um mecanismo fisiológico completamente novo que ninguém esperava e mostra que a curiosidade é muito importante na pesquisa”.

Graças a essa pesquisa, “temos uma compreensão muito melhor de como as células funcionam”. Na maioria dos tumores, as “redes de microRNA são perturbadas, de modo que o tumor se aproveita disso”, declarou Kampe, que espera que haja aplicações no futuro.

Kampe enfatizou a importância de compreender as funções básicas, que “é sempre o primeiro passo para a utilização desse conhecimento”.

Professores de Massachusetts e Harvard

Victor Ambros (Hanover, EUA, 1953) formou-se em biologia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde obteve seu doutorado, e atualmente leciona na Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts.

Gary Ruvkun (Berkeley, 1952) estudou biologia em Harvard, depois aprofundou seus estudos no MIT e leciona Genética na Harvard Medical School.

Os dois sucedem a húngara Katalin Karikó e o americano Drew Weissman, que receberam o Prêmio Nobel em 2023 por lançarem as bases para o desenvolvimento de vacinas de RNA mensageiro contra a covid-19 e outras doenças infecciosas.

O secretário do Comitê do Nobel, Thomas Perlmann, disse que deu a notícia a Ruvkun por telefone. Nos EUA, era noite e ele estava dormindo, mas quando viu do que se tratava, “ficou animado e feliz”, e até sua esposa pegou o telefone.

Ambros, no entanto, não conseguiu ouvir o anúncio diretamente de Perlmann, pois quando este telefonou para ele, a ligação foi para o correio de voz. “Deixei uma mensagem em seu celular e espero que ele me ligue de volta em breve”, disse Perlmann.

Os ganhadores dividirão os 11 milhões de coroas suecas (US$ 1,1 milhão), quantia com a qual todos os prêmios Nobel são agraciados neste ano.

O prêmio de Medicina e Fisiologia, que como sempre abre a rodada de vencedores do Nobel, será seguido nos próximos dias, nessa ordem, pelos prêmios de Química, Física, Literatura, Paz e Economia.