Durante nove dias consecutivos, um estrondo estranho foi detectado ao redor do mundo. O fenômeno ocorreu em meados de 2023. Para entender o enigma, foi necessária uma colaboração internacional que envolveu 68 cientistas de 15 países. Nesta quinta-feira (12), o fenômeno inédito foi desvendado pelos pesquisadores e o estudo foi publicado na revista Science.
O sinal sísmico misterioso apareceu em estações científicas, mas não se parecia com os traços típicos de um terremoto ou de uma explosão vulcânica, apesar da magnitude.
No terceiro dia, quando o tremor lento continuou a reverberar, cientistas de várias nacionalidades começaram a se reunir para discutir o que poderia estar causando o ruído no subsolo. O sinal foi batizado de “Objeto Sísmico Não Identificado” (OSNI).
Saiba o que aconteceu
Em resumo, a conclusão foi de que o evento foi causado por um mega-tsunami de 200 metros de altura, um dos mais altos da história recente.
As ondas oscilaram de um lado para o outro no fiorde Dickson, na Groenlândia, desencadeando vibrações que se propagaram ao redor do planeta.
Entretanto, em uma explicação mais detalhada, os pesquisadores começam pela atmosfera. De acordo com os cientistas, à medida que as concentrações de gases de efeito estufa aumentam devido às mudanças climáticas, esses gases, que retêm calor, aceleram o derretimento do gelo, especialmente ao redor dos polos da Terra.
Em 16 de setembro de 2023, esse calor extra derreteu uma geleira no leste da Groenlândia a tal ponto que ela não conseguiu mais suportar a rocha da montanha acima, resultando em um deslizamento maciço de 150 metros de espessura, criando o mega-tsunami.
“A causa raiz disso está nas mudanças climáticas”, afirmou a sismóloga e co-autora do estudo, Alice Gabriel.
Para determinar o fator do fenômeno, os pesquisadores combinaram várias fontes de informação. Utilizaram mapas detalhados do fundo do mar que estavam classificados como confidenciais ou restritos, mantidos pelo exército dinamarquês, e uma rede global de sensores sísmicos projetada para detectar terremotos.
Vídeos de drones mostrando destroços arrastados para cima em uma face rochosa remota no leste da Groenlândia, além de outras evidências, também foram analisados para desvendar a estranha sequência de eventos.
“Ninguém jamais tinha visto isso”, disse o geólogo do Serviço Geológico da Dinamarca e Groenlândia, Kristian Svennevig.
Um ano de mistério e muitas hipóteses
Após nove dias, as vibrações misteriosas pararam, mas a pergunta continuou a reverberar na mente dos cientistas por exatamente um ano.
Ao longo desses 12 meses, mais de 8 mil mensagens foram trocadas entre cerca de 70 pessoas.
Nos primeiros eventos do estrondo, alguns estudiosos da colaboração internacional chegaram a considerar a possibilidade de que os instrumentos sísmicos que registravam o sinal estivessem quebrados. No entanto, essa hipótese foi rapidamente descartada.
A teoria de um novo vulcão surgindo também foi aventada e, em seguida, invalidada.
Diante do mistério, um cientista brincou dizendo que a possibilidade de ter sido uma festa de alienígenas também estava descartada.