Gravura de 8 mil anos mostra pessoas caçando com ajuda de cães

21/11/2017 01:49 Atualizado: 13/03/2018 08:32

Gravuras em rochas descobertas na Península Arábica podem ser as imagens mais antigas de cães já encontradas, e elas mostram os animais com coleiras.

As gravuras de estimados 8 mil anos mostram um homem caçando com arco e flecha com uma matilha de cães o rodeando. Dois dos cães parecem estar presos por coleiras à cintura do caçador.

O achado indica que os cães foram domesticados em pelo menos 6.000 a.C., milhares de anos antes do que se pensava, de acordo com a revista Science. Antes dessas descobertas, as primeiras representações de cães com coleiras vieram de uma pintura mural no Egito que teria cerca de 5.500 anos.

“É algo verdadeiramente espantoso”, disse Melinda Zeder, arqueóloga do Instituto Smithsonian do Museu Nacional de História Natural em Washington, D.C., à revista Science. “Essa é a única demonstração real que temos de humanos usando cães antigos para caçar.”

Duas arqueólogas, Maria Guagnin e Angela Perri, do Instituto Max Planck da Alemanha, catalogaram cerca de 1400 gravuras em penhascos de arenito em Shuwaymis e Jubbah, no Noroeste da Arábia Saudita. As gravuras demarcariam a entrada ou reentrada de seres humanos na região há cerca de 10 mil anos. Cerca de 8 mil anos atrás, as gravuras mostram uma mudança para o pastoreio, as penhascos mostram cenas de gado, ovelhas e cabras.

Logo acima das gravuras de animais de fazenda, há uma série de cenas de caça. As imagens mostram cães atacando presas animais como o íbex e gazelas. Em outros, os cães são mostrados presos com coleiras a caçadores humanos.

Um funcionário do Museu Britânico mostra um cão de barro ou argila da Assíria antiga no Museu de Xangai, na China, 12 de junho de 2006 (China Photos/Getty Images)
Um funcionário do Museu Britânico mostra um cão de barro ou argila da Assíria antiga no Museu de Xangai, na China, 12 de junho de 2006 (China Photos/Getty Images)

As imagens de cães mais antigas?

Os pesquisadores não conseguiram determinar a idade precisa das imagens. Eles só podem estimar a idade com base na erosão e pela sequência das imagens que mostra o histórico das pessoas que as criaram.

A melhor estimativa dos estudiosos é que as esculturas têm entre 8-9 mil anos, o que as tornaria as gravuras mais antigas de cães já descobertas, mil anos mais antigas do que algumas imagens de cães em cerâmica iraniana, até então as imagens mais antigas encontradas.

“A arte canina tem pelo menos 8-9 mil anos”, disse Guagnin à Science.

A arqueóloga Melinda Zeder ainda não está convencida sobre a idade das imagens, porque “o registro arqueológico nesta região é realmente irregular”, disse ela à Science.

Paul Tacon, um arqueólogo da Universidade Griffith em Gold Coast, Austrália, disse à Science: “Datar arte rupestre é muitas vezes estimar hipoteticamente.” Mas, com base em quase quatro décadas estudando essas imagens ao redor do mundo, ele disse que “sua cronologia é sólida”.

Os cães nas gravuras se assemelham a raça moderna canaã (Wikimedia.org/Wikipedia Commons)
Os cães nas gravuras se assemelham a raça moderna canaã (Wikimedia.org/Wikipedia Commons)

Um vídeo do YouTube de tempos antigos

“Quando Maria veio até mim com as imagens de arte rupestre e me perguntou se significariam alguma coisa, eu quase perdi a cabeça”, disse Angela Perri, uma especialista em restos ósseos de cães antigos. Perri argumentou que os primeiros cães eram fundamentais na caça humana. “Um milhão de ossos não me dirão o que essas imagens estão me dizendo”, disse ela à Science. “Isso é o mais próximo que você chegará de um vídeo do YouTube.”

Outra das deduções emocionantes da dupla foi que os cães foram treinados para desempenhar papéis diferentes na caçada. Isso poderia significar que o treinamento superou o comportamento normal da matilha, os humanos domesticaram os cães na medida em que os humanos eram vistos como líderes da matilha.

Guagnin e Perri publicaram suas descobertas no artigo “Evidência pré-neolítica da estratégia de caça assistida por cães na Arábia”, no periódico Journal of Antropological Archaeology.

Os cães retratados, dizem elas, são semelhantes à atual raça canaã, mas é impossível dizer neste momento se a raça foi importada para a península arábica de outro lugar ou se foi uma raça doméstica desenvolvida independentemente a partir dos lobos árabes. Os cães podem parecer semelhantes porque evoluíram em ecossistemas semelhantes.

Acredita-se que os humanos domesticaram cães entre 15 e 30 mil anos atrás.

Republicado da NTD.tv