Geoglifo da orca é redescoberto no Peru

08/12/2017 20:33 Atualizado: 12/03/2018 11:08

Arqueólogos fizeram um busca baseados numa foto de 50 anos e redescobriram um geoglifo de mais de dois mil anos de uma orca, ou baleia assassina, numa região remota do Peru.

Johny Isla, chefe do Ministério da Cultura do Peru na província de Ica, estava pesquisando registros antigos de expedições geoglíficas no Instituto Arqueológico Alemão de Bonn em algum momento em torno de 2013, quando ele viu uma única foto de um geoglifo de orca, fotografada por uma expedição alemã na década de 1960.

A expedição alemã investigava os vales de Nazca e Palpa, onde os antigos geoglifos abundam. A localização do geoglifo específico foi listada, mas o local indicado estava incorreto.

Isla descobriu cerca de mil geoglifos na região de Nazca na década de 1990, mas nunca viu um como esse. Não é um dos maiores, o glifo da orca tem apenas cerca de 60 metros de comprimento, enquanto algumas das figuras de Nazca têm mais de 400 metros de comprimento, mas ele é um dos mais antigos e é o único descoberto até agora que retrata uma orca.

Isla começou a procurar o geoglifo perdido quando voltou para o Peru. Demorou alguns meses frustrantes de busca para encontrar a localização correta, mas em janeiro de 2015 ele localizou o geoglifo no vale de Palpa, a cerca de 400 quilômetros a sul da capital peruana de Lima. O geoglifo estava numa região desértica remota; nem os moradores locais estavam cientes disso.

“Não foi fácil encontrá-lo porque os dados [de localização e descrição] não estavam corretos e eu quase perdi a esperança”, disse Isla a LiveScience. “No entanto, eu expandi a área de pesquisa e finalmente o encontrei alguns meses depois.”

Linhas de Nazca, geoglifos - Turistas posam para fotos ao lado de um sinal em Nazca, 450 km ao sul de Lima, no Peru, em 12 de dezembro de 2014 (Martin Bernetti/AFP/Getty Images)
Turistas posam para fotos ao lado de um sinal em Nazca, 450 km ao sul de Lima, no Peru, em 12 de dezembro de 2014 (Martin Bernetti/AFP/Getty Images)

Um dos mais antigos

O geoglifo da orca pode ser um dos mais antigos já descobertos. Algumas partes foram gravadas na terra, uma técnica chamada “relevo” ou “relevo negativo”. Outras partes foram construídas a partir de pedras empilhadas.

A técnica de relevo foi usada pela cultura Nazca que criou cerca de 1.500 geoglifos gigantes entre 100 a.C. e 800 d.C.

O empilhamento de pedras foi uma técnica usada pela cultura Paracas mais antiga, que floresceu na área entre 800 a.C. e 200 a.C. Parece provável que os escultores de Nazca encontraram uma imagem da cultura Paracas mais antiga e a recompuseram.

Isla e uma equipe de seis arqueólogos começaram a limpar e restaurar a arte antiga em março de 2017 e terminaram em abril. A figura na encosta estava em grande deterioração; a gravidade tinha deslocado pedras e água sobre o glifo, erodindo suas porções elevadas e enchendo de água e detritos os seus relevos.

“Sendo delineado numa inclinação, é mais fácil sofrer danos do que as figuras que estão em áreas planas, como as da província de Pampa em Nazca”, explicou a LiveScience.

Os testes de solo indicam que o geoglifo provavelmente foi construído pela primeira vez em torno de 200 a.C. Um dos arqueólogos do grupo de restauração de Isla, Markus Reindel, do Instituto Arqueológico Alemão, disse ao jornal alemão Welt que, devido ao estilo de construção da figura e à localização numa encosta, provavelmente era um dos geoglifos mais antigos da região.

Linhas de Nazca, geoglifos - Uma tigela de Nazca com desenhos de peixe (en.wikipedia.org)
Uma tigela de Nazca com desenhos de peixe (en.wikipedia.org)

Por que uma orca?

Pesquisadores da Comissão de Arqueologia das Culturas Não-Europeias (KAAK) do Instituto Arqueológico Alemão e do Instituto Andino de Estudos Arqueológicos (INDEA) debateram o significado do geoglifo durante anos antes de determinar que ele representava uma orca, uma criatura marinha com poderosas associações espirituais para os peruanos antigos, e também mostrava uma “cabeça de troféu”.

Os arqueólogos decidiram que a figura provavelmente tinha um significado espiritual para seus criadores.

Isso condiz com a civilização de Paracas, que era uma teocracia, ou governada por uma classe de sacerdotes.

‘Traficantes de terras’

Este artefato antigo recém-descoberto poderia desaparecer novamente, infelizmente. O Peru tem uma lei, a Lei 840, popularmente conhecida como “Lei da Selva”, que permite que empresas madeiras e agrícolas apropriem-se de terras que não estão sendo usadas comercialmente. Isso inclui enormes extensões de terras tribais, inclusive as áreas em que o geoglifo da orca está localizado.

O Ministério da Cultura do Peru quer tomar posse da terra em que o glifo da orca se situa e criar serviços de visitação e promover o turismo. A batalha legal ainda não foi resolvida.

“Tanto em Nazca quanto em Palpa, o patrimônio arqueológico, especialmente os geoglifos, está ameaçado pelo avanço urbano e pela expansão da fronteira agrícola”, disse Isla à LiveScience.

“Isto ocorreu nas terras próximas ao geoglifo da orca, onde atualmente existe propriedade privada que ocupa parte da zona arqueológica.”

NTD Television