Se mexermos no caldeirão das hipóteses científicas contemporâneas, e considerarmos qual delas tem embasado mais a linha entre o tangível e o divino, veríamos que a hipótese de Gaia: A Mãe Terra, estaria no topo. No entanto, ao longo das últimas quatro décadas, a ideia de uma “Terra viva” continua a coletar provas concretas a seu favor, e cientistas de diversas áreas têm se tornado cada vez mais atraídos por ela.
O que é a Hipótese de Gaia? Nomeada após a Deusa Grega da Terra, esta teoria considera nosso planeta como uma entidade viva, que respira e se auto regula. Veja, por exemplo, no ar que respiramos. O oxigênio é um elemento indispensável para praticamente todos os organismos vivos, da bactéria aos humanos. Este gás compõe, há milênios, 21% da atmosfera terrestre, devido a certos organismos vivos que o liberam continuamente. O oxigênio, que é um elemento muito reativo, tem o potencial de se combinar com outros gases e minerais da atmosfera e crosta terrestre, desaparecendo completamente em sua forma liberada.
Porém, apesar desta situação instável, a atmosfera da Terra permanece sendo um constante defensor da vida. Esta é uma das observações que o químico James Lovelock descreveu em uma conferência científica realizada em Princeton, em 1969. Desafiando o conceito de que a natureza seja um mero jogo de azar, Lovelock postulou que a Terra pode muito bem funcionar como um gigantesco organismo vivo, organizando todas as formas de matéria como orgânico e inorgânico, com o objetivo de criar um ambiente sustentável para a vida. Apesar dos seus feitos passados (como o de ter descoberto o mais notável e pioneiro instrumento sensitivo para a nave espacial Viking em sua exploração à marte) a ideia de Lovelock de uma Terra viva sofreu duras criticas de seus colegas.
Outro ponto que Lovelock levantou foi a invariável concentração da salinidade na água do mar, que permanece no nível ideal para a existência de vida. A ciência descobriu que as águas dos rios jogam constantemente sais minerais no mar, mas quando a agua do mar evapora para formar nuvens, ela não leva consigo o sal. Se seguirmos um sentido lógico, iríamos concluir que a concentração de sal nos oceanos aumentariam com o passar do tempo. No entanto, isso não acontece. A concentração de sal mantém-se inalterada durante séculos. Segundo os que suportam a Teoria de Gaia, isto se dá pela capacidade de um ser colossal manter o equilíbrio interno, um fenômeno que coincide cientificamente com a homeostase (embora geralmente aplicada a organismos celulares).
Alguns acreditam que as respostas para este fenômeno peculiar podem ser encontradas na formação de minas de sal: com o tempo a água forma uma baía que depois é cercada por terra. A água de dentro (da baía) evapora e somente o sal fica. Esta porção de terra, então, fica coberta de pó e barro, que é eventualmente convertida em rocha sólida, evitando que no futuro um possível rio leve o sal embora. Poderia este mecanismo regular tão casualmente a concentração de sal, de modo que a água nunca fique inabitável para os peixes e outras criaturas marítimas? De acordo com os defensores da Teoria de Gaia, isso não é apenas o resultado de circunstâncias acidentais, mas sim um processo controlado pela própria Mãe Terra.
Um exemplo mais recente que apoia a existência de Gaia veio de uma descoberta feita por cientistas da Universidade de Hong Kong, dirigida por Jiu Liao. Durante seus estudos sobre a costa do mar, este grupo de investigadores observou que as marés pareciam fazer o chão costeiro “respirar” quando o ar e a umidade eram intercalados pela pressão da água no fundo do mar. Esta respiração pode ser notada nos casos mais óbvios, como bolhas de ar que surgem no chão costeiro. As marés parecem influenciar um movimento rítmico no fundo do oceano, causando algo idêntico à respiração, mas com uma frequência bem menor, devido, é claro, ao enorme tamanho da Terra.
As evidências da Terra viva não acabam aí: relatos contemporâneos feitos por cientistas do observatório de Mauna Loa, no Havaí, demonstraram que a concentração de dióxido de carbono, de 1955 para 1995, tem variado em um padrão rítmico. Com as evidências coletadas através de estações geográficas, alguns interpretam esta variação como inalação e exalação terrestre.
A Teoria de Gaia vai contra a predominante noção de que as condições para a vida têm sido mantidas por milhares de anos devido, unicamente, ao acaso, onde processos isolados trabalham independentemente e acabam criando esta situação tênue. A crença da Terra como um ser vivo é uma ideia que ganhou mais céticos do que seguidores, mas as mentes estão mudando e evidências continuam a surgir.
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