Facebook afirma não estar espionando ligações de telefone, mas pessoas não estão convencidas

06/11/2017 21:38 Atualizado: 13/03/2018 08:35

Você já deve ter visto manchetes como: “Facebook está ouvindo secretamente suas conversas?” A resposta é não, desde que você confie no Facebook. A questão é que muitas pessoas não confiam.

Questões sobre o acesso do Facebook aos microfones nos telefones dos usuários surgiram na mídia pelo menos desde o ano passado. Elas foram baseadas principalmente em relatos anedóticos. Alguém disse ou discutiu sobre algo no telefone e, pouco depois, o Facebook ou o Instagram (que é de propriedade do Facebook) mostraram um anúncio com base nas palavras-chave da conversa.

Muitas dessas histórias são ainda mais convincentes por envolverem produtos que de outra forma seriam irrelevantes para as pessoas envolvidas.

Um casal, por exemplo, fez um experimento conversando sobre alimentos para gatos em torno de um telefone por algumas horas. Eles não tinham qualquer gato e o assunto nunca tinha sido conversado ou pesquisado por eles online.

“Dois dias depois, os anúncios em nosso Facebook mudaram completamente para comida de gato por alguns dias”, disse o homem num vídeo do YouTube que eles produziram para documentar o experimento.

Ele escreveu que também testou outras palavras-chave e viu sempre a mesma situação se repetir.

O Facebook negou o uso de espionagem para fins publicitários.

“Alguns artigos recentes sugeriram que estaríamos ouvindo as conversas das pessoas para exibir publicidade relevante”, afirmou a empresa num comunicado no ano passado. “Isso não é verdade.”

“Nós só acessamos seu microfone se você deu permissão ao nosso aplicativo e se você estiver usando ativamente um recurso específico que requer áudio”, afirmou o comunicado.

Mas a negação fez pouco para convencer a multidão já convencida do contrário.

PJ Vogt e Alex Goldman do podcast “Reply All” exploraram a questão em seu episódio de 2 de novembro.

Goldman falou com um homem com várias histórias de conversas que se transformaram em anúncios online. Ele também conversou com um representante do Facebook, com um ex-desenvolvedor de segmentação de anúncios do Facebook (Antonio Garcia Martinez), com Julia Angwin, uma repórter da ProPublica, e outros.

O que ele descobriu convenceu-o de que a segmentação de anúncios do Facebook é invasiva o suficiente, mesmo sem espionagem. O Facebook não só monitora o que seus usuários fazem em seu sítio da rede, mas também rastreia seus comportamentos em outros sítios e reúne informações sobre seus usuários a partir de outras empresas.

Goldman descobriu que a segmentação de anúncios no Facebook poderia ser tão sofisticada que pode parecer que eles estão ouvindo as conversas das pessoas, mesmo que não estejam.

Ele pediu no Twitter que as pessoas que acreditavam que estavam sendo espionadas pelo Facebook que o telefonassem. Ele disse que convenceu pelo menos uma das pessoas que ligaram que o Facebook não estava espionando.

Mas não conseguiu convencer cinco outros que telefonaram e com os quais ele teve tempo de falar.

A mensagem de Goldman no Twitter recebeu uma resposta de Rob Goldman (sem parentesco), vice-presidente de anúncios do Facebook.

“Eu administro os anúncios de produtos no Facebook. Nós não, e nunca, usamos seu microfone para anúncios. Isso simplesmente não é verdade”, escreveu ele.

Isso também inclui o Instagram, confirmou ele numa mensagem posterior.

O porta-voz do Facebook e Instagram, Adam Isserlis, também entrou na conversa, sugerindo que as mentes dos próprios usuários estavam lhes pregando peças (devido ao fenômeno Baader-Meinhof). Especificamente, que as pessoas começam a notar, com base nos tópicos de suas conversas, anúncios que de outra forma elas teriam ignorado.

No entanto, sua explicação não se mostrou convincente à grande maioria que respondeu à mensagem, muitos inclusive compartilharam suas experiências sobre tópicos de conversações que se infiltraram estranhamente nos anúncios recebidos.

Uma possível explicação seria que não é o Facebook que espiona, mas outro aplicativo ou um provedor de serviços que fornece dados ao Facebook.

O Epoch Times perguntou ao Facebook se é possível que ele tenha recebido dados de terceiros com base em conversas gravadas por meio de microfones de celular.

“Nada de novo a adicionar além da nossa publicação [de 2016], explicando que não escutamos as conversas das pessoas para lhes mostrar anúncios”, respondeu Rochelle Nadhiri, a porta-voz do Facebook.

Para os usuários preocupados com a coleta de dados de publicidade intrusiva, há maneiras de mitigar isso.

Pode-se, por exemplo, negar o acesso ao Facebook e outros aplicativos ao seu microfone de celular (para o iPhone, os controles estão na categoria de Privacidade nas configurações e depois na opção Microfone).

Pode-se, até certo ponto, controlar as informações que o Facebook usa para segmentar os anúncios, indo no perfil, depois em configurações e, então, em categoria de anúncios.

A Digital Advertising Alliance oferece um aplicativo móvel que “fornece transparência com mais de 30 empresas participantes (e crescendo) e permite limitar a coleta de dados de aplicativos cruzados para anúncios baseados em interesses”.

O Facebook também fornece uma lista de seus provedores de dados de terceiros, juntamente com links para sítios da rede que explicam como optar por excluir os dados sendo usados ​​ou compartilhados para publicidade direcionada por cada empresa.

Ainda assim, essas opções apenas limitam, mas não impedem, as empresas de coletar e usar os dados pessoais dos usuários.