Esse artigo é o quinto de uma série de cinco artigos sobre experiências de quase morte.
Eben Alexander era um típico neurocirurgião. Ele foi um firme crente do reducionismo científico, pensava que todos os pensamentos se originavam do cérebro. Mas isso mudou em 2008, quando ele de deparou com um caso de experiência de quase morte (EQM).
Mesmo sendo algo completamente oposto a suas opiniões anteriores, ele não poderia desmentir ou evitar o caso, afinal, eram suas próprias experiências, e ele tinha de enfrentá-las e procurar uma explicação.
Por ter contraído meningite bacteriana aguda, que danifica o neocórtex, a parte do cérebro que se acredita responsável por funções cognitivas complexas, como o pensamento consciente, Alexander entrou em coma e passou seis dias num respirador. A chance de sobrevivência era muito pequena, e menor ainda a possibilidade de plena recuperação.
Os níveis normais de glicose no líquido cefalorraquidiano de um ser humano estão entre 60 e 80 mg/dl (miligrama por decilitro), e a infecção meningocócica é considerada grave quando o nível cai para 20 mg/dl. Mas o nível de glicose do líquido cefalorraquidiano de Alexander chegou a 1 mg/dl, o que tornava impossível o funcionamento de seu cérebro.
No entanto, durante o tempo em que esteve em coma, Alexander teve experiências vividas envolvendo múltiplos sentidos, como visão, audição e olfato. Ele disse que não poderia descrever o quão incrível foi.
“O que aconteceu no coma profundo foi absolutamente impressionante”, disse Alexander, numa entrevista.
“A situação toda parece ser muito mais real do que nossa vida terrena, e as modalidades sensoriais eram muito estranhas, porque quando eu estava me lembrando de tudo isso e tentando escrevê-las, um monte de coisas auditivas e visuais, que normalmente vemos ou ouvimos separadamente, estavam todas misturadas.”
Por exemplo, ele “viu” uma bela melodia que se manifestava como cores na frente dele, e lembrou-se de arcos luminosos de ouro e prata, como arcos transparentes de energia, percebidos por ele como sons.
“Comparando com estar aqui sentado, falando ao telefone ou trabalhando em meu computador, foi muito… muito mais real, muito rico; foi como estar vivo pela primeira vez”, disse Alexander. “Foi realmente incrível.”
“Meu cérebro agora, eu acho que se recuperou muito bem, não pode fazer nada perto do que meu cérebro estava fazendo enquanto eu estava em coma profundo”, disse Alexander, na conferência Associação Internacional de Estudos de Quase Morte (IANDS, no original em inglês) de 2011.
“Como um cérebro que está morrendo fica muito mais poderoso e capaz de lidar com essas cargas enormes de informações instantaneamente e colocá-las todas juntas?”
“Para mim, o problema era como explicar a hiper-realidade. Como posso explicar uma experiência tão rica, uma experiência interativa, com tal vivacidade, com componentes auditivos e visuais, quando as partes do meu cérebro humano, que normalmente lidam com todos esses componentes, foram infectadas com meningite e não estavam funcionando. E, especialmente, como a mente seria capaz de experimentar a consciência e lidar com tarefas tão complexas?”, disse Alexander, numa entrevista.
Meses após o coma, Alexander pensou em sua EQM e tentou explicá-la do ponto de vista da neurociência. Ele encontrou sete hipóteses, mas mais tarde descobriu que nenhuma era capaz de explicar totalmente o que aconteceu.
“A explicação padrão da neurociência […] não aborda absolutamente os elementos reais dessa poderosa experiência”, disse ele.
“Minha conclusão é que a experiência foi muito real e tinha de acontecer fora do meu cérebro, e isso tinha de acontecer fora deste universo físico. […] Há um elemento de nossa consciência que não depende do cérebro e é isso que foi posto em liberdade, para mim, e fui naquela jornada.”
“Qualquer cientista que duvide da realidade de tão extraordinárias experiências de quase morte deveria começa por explicar o mecanismo fundamental da consciência. A evidência para a realidade de muitos fenômenos relacionados, como a visão e influência à distância, e fenômenos fora-do-corpo, é esmagadora. A visão reducionista materialista da realidade física, na sua forma atual, não explicará completamente a consciência”, disse ele.
Desde então, Alexander tem olhado para a mecânica quântica, uma vez que parece oferecer alguma compreensão sobre o fenômeno da consciência, e, por conseguinte, sobre as EQMs.
“Quando o enigma da interpretação de suas primeiras experiências veio à luz mais de 80 anos atrás para os fundadores da mecânica quântica, como Albert Einstein, Niels Bohr, Erwin Schrödinger, Werner Heisenberg e Max Planck, eles sabiam que seus experimentos revelavam um mistério profundo. Era um mistério porque lidava com a interseção da realidade e da consciência. E hoje é um mistério ainda maior, conforme revelado por experimentos cada vez mais refinados”, disse ele.
Experimentos em mecânica quântica descobriram que é impossível medir com precisão a posição e o momentum de um fóton ou elétron (ou outras partículas subatômicas) simultaneamente. Estas entidades se comportam como ondas ou partículas, dependendo da escolha de um observador consciente sobre como medi-las. O resultado da medição exata parece ser escolhido arbitrariamente a partir de uma gama de possibilidades, mas não é exato até que a medição seja conscientemente observada.
Um experimento feito em 2000 constatou que mesmo uma observação feita no futuro de uma partícula pode afetar o comportamento de uma partícula entrelaçada (uma partícula que foi gerada no mesmo processo) no passado. Um experimento foi feito para que as partículas passassem por um aparato com duas fendas e que terminava em quatro locais diferentes. Os pesquisadores descobriram que, ao observar a localização de chegada das partículas, o comportamento delas ao passarem pelas duas fendas era afetado.
“Estou preocupado que alguns membros da comunidade de física de hoje não percebam o profundo mistério por trás de tudo isso, tal como os brilhantes fundadores da área. Os resultados experimentais têm sido ainda mais bizarros com experimentos mais refinados, mas muitos que trabalham com a física quântica esquecem o mais profundo mistério em seu nível mais básico. A mecânica quântica é uma parte fundamental de nossa vida, um terço da nossa economia (telefones celulares, GPS, televisão, computadores, toda a tecnologia de semicondutores, etc.) é baseado na física e matemática da mecânica quântica. Tem sido provado que funcionam muito bem, mas se distanciam do profundo mistério que está lá quando você olha para os resultados experimentais básicos. Eles indicam que a consciência é crucial na determinação da realidade física”, disse Alexander.
Foi recentemente descoberto que os fenômenos quânticos também acontecem em processos biológicos, tais como o olfato humano, a migração de aves, e a fotossíntese. Alexander acredita que processos quânticos também podem estar envolvidos com a consciência humana.
“Em minha opinião, o papel principal da mecânica quântica é que ela fornece a ‘prova irrefutável’ que nos mostra que há algo especial sobre a consciência na criação da realidade”, disse ele.
“Isso sugere que estamos deixando escapar um ponto fundamental sobre nossa consciência e como exatamente ela interage com a realidade. […] Até certo ponto, eu não acho que perseguir os fenômenos da mecânica quântica nos dará uma resposta sobre a mente e a consciência, embora eu ache que será muito útil para esclarecer a interação entre a mente e o cérebro.”
“Vejo a ciência e a espiritualidade avançando juntas; ciência e espiritualidade sendo uma só, e complementando-se belamente. Tanto o lado religioso e científico terão de abrir mão de alguns dos pressupostos mais simplistas e declarações dogmáticas, mas, então, a ciência e a espiritualidade, e este conhecimento mais profundo da natureza de nossa consciência individual poderão avançar. O mundo será um lugar muito melhor quando fizermos isso”, concluiu ele.
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