Ao passo que a mídia oferece pessoas perfeitas, cuja aparência, felicidade e talento nunca esperamos nos assemelhar, é fácil de naufragar em vergonha, auto-desprezo e cair em vícios, como no álcool, na comida e nas drogas.
Mas Brené Brown, Ph.D., LMSW, autora e professora de pesquisa no Colégio de Pós-Graduação em Educação Social da Universidade de Houston, diz que são precisamente nossas imperfeições e sentimentos de inadequação que nos permitem conectarmo-nos aos outros e a nós mesmos. Ao aceitar nossa condição “comum”, diz a Dr. Brown, e ter a coragem de revelar nossas vulnerabilidades para aqueles que são de nossa confiança, podemos embarcar em um modo de vida mais gratificante – que ela chama de Alívio.
Rosenberg: Em “In The Gifts of Imperfection: Let Go of Who You Think You’re Supposed to Be and Embrace Who You Are” (“Sobre os dons da imperfeição: abandone quem você pensa que deve ser e aceite quem você é”, tradução livre do título), você discute o efeito debilitante da vergonha e do sentimento de não ser suficientemente autoconfiante, sobre o crescimento e a habilidade de uma pessoa de conectar-se aos outros. Qual o papel que a grandiosidade desempenha sobre a vergonha, se houver?
Brown: Eu hesito em usar um rótulo patologizador, mas sob a assim chamada personalidade narcisista reside definitivamente uma vergonha e o medo paralisante de ser comum. Muitas vezes, é difícil as pessoas acreditarem que alguém que conhecem, que é crítico e as rejeita, está realmente sofrendo com vergonha de si mesmo. Tanto a vergonha como a grandiosidade são o mesmo sentimento: “Se eu não estou acima do restante, não sou o suficiente”.
Rosenberg: Você escreve que a canção de Leonard Cohen Anthem – “Há uma rachadura em tudo. É assim que a luz entra” – serve como um lembrete para não controlarmos tudo e tentarmos fazer tudo perfeito.
Brown: Sim, não repare as rachaduras, é como eu coloquei.
Rosenberg: Você também discute consertar as rachaduras em relação ao perfeccionismo.
Brown: Muitas pessoas pensam que o perfeccionista se esforça para dar o seu melhor, mas não se trata de autoaperfeiçoamento; trata-se de obter aprovação e aceitação. Ser viciado em perfeccionismo é realmente um processo de dependência, que não difere de ser viciado em alimentos, fofocas ou dívidas. Às vezes, isso é chamado de falso conforto.
Rosenberg: Uma parte da recuperação de dependência enfoca em compartilhar nossa vulnerabilidade e nossos segredos em doze passos, como nas associações de Alcoólicos Anônimos.
Brown: nossos segredos definitivamente nos mantêm viciados, e esta é provavelmente a razão de haver sites online onde as pessoas podem se despojar de seus segredos anonimamente. Mas, como a vergonha existe entre as pessoas, não há substituto para contar de nós mesmos, por assim dizer, à outra pessoa e nos tornarmos vulneráveis. A vulnerabilidade é o local de nascimento da conexão e o caminho para o sentimento de dignidade. Se não nos sentirmos vulneráveis, o compartilhamento provavelmente não será construtivo.
Rosenberg: No entanto, você escreve que nem todos os amigos são apropriados para esse tipo de compartilhamento. Os exemplos que você ilustra no livro são um amigo que tem simpatia, mas não empatia, uma amiga que minimiza a importância emocional do que é compartilhado, porque ela vê você como um pilar de dignidade, e uma amiga que se sente tão desconfortável com a vulnerabilidade, na verdade, te repreende por deixar acontecer algo vergonhoso.
Brown: Precisamos compartilhar com aqueles que ganharam o direito de ouvir e as pessoas que estão interessadas na amizade. As mídias sociais nos deram essa ideia de que todos deveríamos ter um monte de amigos quando, na realidade, se temos um ou dois amigos realmente bons, somos afortunados. Compartilhar e ouvir histórias íntimas também não é a “configuração padrão” da maioria das pessoas, uma vez que tendemos a nos autoproteger de coisas prejudiciais. Se alguém me enche de vergonha, é provável que eu dê uma resposta não compassiva, caso meus próprios recursos se tornem escassos.
Rosenberg: Isso nos leva ao conceito de escassez que você explora em profundidade em “The Gifts of Imperfection”.
Brown: Há momentos de ansiedade e tensão e em todos os lugares ouvimos o dicionário da escassez. Não somos ricos, magros ou belos o bastante; não somos seguros, perfeitos ou poderosos o suficiente e vidas comuns são completamente descartadas. Mas o sucesso e a alta conquista não nos satisfazem quando nossa autoestima está ligada à mentalidade da escassez. Nós pensamos que o oposto da escassez é a abundância – mais tempo, mais dinheiro – quando realmente o oposto da escassez é o “suficiente”. Somente o suficiente.
Martha Rosenberg é autora da premiada exposição “Born With a Junk Food Deficiency“. Ícone em seu país, ela lecionou em universidades e faculdades de medicina e foi entrevistada em programas de rádio e televisão.
As opiniões expressas neste artigo são opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.
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