Uma nova espécie de titanossauro, batizada de Tiamat valdecii, foi recentemente descoberta na Caatinga por uma equipe de pesquisadores das Universidades Federais de Goiás (UFG) e do Rio de Janeiro (UFRJ), e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). A descoberta ocorreu na região da Bacia Potiguar, próximo à cidade de Quixeré, no Ceará, marcando a primeira vez que fósseis de dinossauros foram encontrados nessa área.
A expedição responsável pela descoberta ocorreu em uma área remota e inóspita da Caatinga, a cerca de 20 quilômetros de Quixeré e próximo à fronteira com o Rio Grande do Norte. Liderada por Carlos Roberto dos Anjos Candeiro, paleontólogo da UFG.
Entre os fósseis encontrados estão três vértebras caudais anteriores, quatro vértebras caudais médias e um arco neural parcial, todos pertencentes a um titanossauro que viveu durante o início do Período Cretáceo. Esses fósseis são considerados os mais antigos do gênero no Brasil e apresentam características únicas que diferenciam Tiamat valdecii de outros titanossauros conhecidos.
(Diagrama esquelético de dinossauro Saurópode, Tiamat valdecii. Humano para escala: 180 cm. Fonte: ilustração por PaleoNooby no Wikipédia)
Características distintivas
Uma das principais distinções de Tiamat valdecii é a forma côncava das vértebras, um traço raramente observado em outros titanossauros. Além disso, a espécie apresenta uma proeminência extra nas pré-zigapófises, estruturas que ajudam a conectar as vértebras caudais médias e que permitem uma maior liberdade de movimento da cauda sem comprometer a estabilidade das articulações.
As análises realizadas pelos pesquisadores sugerem que essas características representam uma adaptação específica, possivelmente relacionada ao ambiente da Caatinga, onde o dinossauro viveu há talvez milhões de anos.
Implicações
Segundo o estudo publicado na revista científica Zoological Journal of the Linnean Society, a descoberta de Tiamat valdecii oferece novas perspectivas sobre as relações entre os dinossauros da América do Sul e da África. Durante o Cretáceo, os continentes ainda estavam unidos em uma única massa terrestre, o que permitiu a migração de espécies entre essas regiões.
Carlos Candeiro, um dos responsáveis pela pesquisa, destaca que Tiamat valdecii tem afinidades com dinossauros encontrados na Argentina e na África, reforçando a ideia de que essa região do Nordeste brasileiro foi um importante corredor de migração para os saurópodes titanossauros.
Desafios e futuro da pesquisa
A escavação dos fósseis enfrentou dificuldades significativas devido ao clima rigoroso e à topografia da Caatinga. Um dos momentos mais críticos ocorreu quando uma forte chuva inundou o local de escavação, exigindo um esforço extra da equipe para proteger e continuar a recuperação dos fósseis.
Apesar dos desafios, a descoberta de Tiamat valdecii abre novas possibilidades para a paleontologia no Brasil, especialmente na região Nordeste, que até então não era conhecida por abrigar fósseis de dinossauros. Os fósseis encontrados foram enviados para a Coleção de Répteis Fósseis do Departamento de Geologia da UFRJ, onde continuarão a ser estudados.