Um dos maiores físicos da história do Brasil, Cesare Mansueto Giulio Lattes, mais conhecido como César Lattes, é frequentemente lembrado por sua contribuição à ciência e, embora nunca tenha recebido um Prêmio Nobel, foi indicado por sete vezes.
Sua trajetória acadêmica e suas descobertas deixaram marcas no campo da física, mas a ausência do prestigiado prêmio levanta questões sobre reconhecimento científico.
Nascido em 1924 na cidade de Curitiba, Lattes formou-se em física e matemática pela Universidade de São Paulo (USP). Sob a orientação do professor Gleb Wataghin, começou a se destacar em pesquisas sobre física de partículas.
Sua carreira internacional teve início em 1946, quando se juntou à equipe do H. H. Wills Laboratory na Universidade de Bristol, liderada pelo físico Cecil Frank Powell.
Lattes se destacou por suas investigações sobre subpartículas, essenciais para entender a coesão do núcleo atômico. Uma de suas experiências mais notáveis ocorreu no pico de Chacaltaya, na Bolívia, onde fotografou a trajetória de partículas cósmicas.
Durante essa pesquisa, Lattes e sua equipe descobriram o méson pi — partícula fundamental para a física nuclear.
Entre 1949 e 1954, Lattes foi indicado ao Nobel de Física em sete ocasiões. Contudo, ele nunca foi agraciado com o prêmio. Em 1950, Powell recebeu o Nobel por seu trabalho com o método fotográfico de estudo dos processos nucleares, que incluía as descobertas que Lattes ajudou a realizar.
O físico brasileiro expressou sua frustração em entrevistas, apontando que a “malandragem” de Powell o havia deixado de fora da premiação. Lattes também ressaltou o papel importante do seu parceiro de pesquisa, o físico italiano Giuseppe Paolo Stanislao Occhialini, conhecido por contribuições em física de raios cósmicos.
“Sabe por que eu não ganhei o prêmio Nobel? Em Chacaltaya, quando descobrimos o méson-pi, se publicou: Lattes, Occhialini e Powell. E o Powell, malandro, pegou o prêmio Nobel pra ele. Occhialini e eu entramos pelo cano. Ele era mais conhecido, tinha o trabalho da produção de pósitrons, em 1933”, declarou Lattes ao Jornal da Unicamp em 2001.
A notoriedade de Powell contribuiu ou não para sua escolha como laureado? Este tem sido um ponto de discussão entre historiadores da ciência. Embora muitos especulassem que a nacionalidade teria influenciado o resultado das premiações, Lattes não atribuiu sua exclusão ao fato de ser brasileiro.
“Apesar de a comissão julgadora ser formada por ingleses, acredito que não foi minha nacionalidade que pesou na decisão do vencedor. Tanto na descoberta do méson pi, em 1946, como na sua criação artificial, em 1948, tive colaboração do Giuseppe Occhialini. Quem deveria ter ganho era ele”, defendeu o físico brasileiro à revista Superinteressante em 2005.
“E, em 1950, quem levou o prêmio foi Cecil Powell, que também participou do trabalho. Mas deixa isso para lá. Esses prêmios grandiosos não ajudam a ciência”, acrescentou Lattes, cujo obstáculo para ganhar o Nobel pode também ter como motivo a política interna da premiação, que até 1960 laureava apenas os líderes das equipes.
Apesar do não reconhecimento em relação ao Nobel, Lattes recebeu outras honrarias ao longo de sua vida, como o título de doutor honoris causa pela USP em 1965. Além disso, para celebrar seu legado, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) nomeou, em 1999, a plataforma de currículos acadêmicos em sua homenagem.
Falecido em 2005 em Campinas aos 80 anos, Cesar Lattes teria completado um século de existência no último 11 de julho. Ele permanece como uma referência da ciência brasileira, simbolizando tanto a excelência acadêmica quanto os desafios do reconhecimento no meio científico.