Pesquisadores confirmaram recentemente uma desaceleração na rotação do núcleo interno da Terra, localizado a cerca de 5.180 quilômetros de profundidade. Publicada na revista Nature Geoscience, a descoberta sugere também que o núcleo pode ter iniciado uma inversão em seu movimento.
O artigo intitulado “Multidecadal variation of the Earth’s inner-core rotation” — “Variação multidecenal da rotação do núcleo interno da Terra”, em tradução livre — descreve mudanças no comportamento de rotação do núcleo interno ao longo das últimas décadas.
Até os anos 1970, o núcleo interno da Terra girava ligeiramente mais rápido que a superfície, de acordo com o estudo. No entanto, entre 2008 e 2023, a rotação desacelerou e mudou de direção, movendo-se no sentido oposto ao manto terrestre.
Essas variações seguem um ciclo de aproximadamente 70 anos, o que pode sugerir um padrão natural e repetitivo nas dinâmicas do planeta.
O núcleo interno da Terra é uma esfera sólida composta principalmente de ferro e níquel, com temperaturas que chegam a cerca de 5.400°C. Sua rotação tem sido um enigma para os cientistas desde a sua descoberta pela sismóloga dinamarquesa Inge Lehmann, em 1936.
Para investigar as mudanças em sua rotação, os pesquisadores analisaram ondas sísmicas geradas por terremotos.
Ao estudar os dados de 121 terremotos registrados entre 1991 e 2023 nas Ilhas Sanduíche do Sul, a equipe de cientistas identificou variações no movimento do núcleo interno.
Mudanças no campo magnético
Essas oscilações podem ter efeitos principalmente no campo magnético da Terra, que é gerado pelo movimento do ferro fundido no núcleo externo.
A rotação do núcleo interno influencia diretamente a dinâmica do campo magnético. Mudanças em sua velocidade ou direção podem causar alterações nesse campo, embora os cientistas ainda não tenham um entendimento completo de suas consequências.
Um dos efeitos possíveis, ainda que mínimo, seria a alteração na duração dos dias. As variações do núcleo interno poderiam afetar a velocidade de rotação da Terra, mas os impactos seriam quase imperceptíveis no cotidiano.
No entanto, as implicações a longo prazo para o campo magnético e outros processos geofísicos ainda estão sendo estudadas.
Embora os pesquisadores enfatizem que esses fenômenos fazem parte de um ciclo natural, o estudo abre caminho para novas investigações sobre como as mudanças no núcleo da Terra podem impactar o planeta e a vida em sua superfície.