China começa a usar tecnologia de reconhecimento facial na criação de porcos

A causa fundamental do problema de segurança alimentar da China não é uma questão técnica, mas a enorme diferença entre ricos e pobres. As classes ricas e privilegiadas podem desfrutar de alimentos de alta qualidade, enquanto os pobres só podem escolher alimentos baratos feitos com padrões questionáveis de segurança alimentar

17/02/2019 13:17 Atualizado: 17/02/2019 13:17

Por Olivia Li, Epoch Times

Empresas chinesas de Internet estão tentando desenvolver novas tecnologias para resolver problemas de segurança alimentar relacionados a produtos suínos. Recentemente, eles criaram a tecnologia de “inteligência artificial (IA) para a criação de porcos”.

De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas da China, existem cerca de 430 milhões de porcos sendo criados em fazendas chinesas, o que representa mais da metade de todos os porcos criados em fazendas em todo o mundo.

O gigante asiático é o maior produtor e consumidor de carne suína do mundo, portanto, manter uma criação saudável de porcos é muito importante para o regime chinês.

As empresas chinesas de Internet estão agora se concentrando neste setor para a modernização de sua tecnologia. Atualmente, a empresa chinesa de Internet Netease está expandindo suas filiais para a criação de porcos, enquanto as gigantes de tecnologia JD.com e Alibaba apenas começaram a adicionar a criação assistida de porcos por tecnologia aos futuros planos de crescimento de suas empresas.

A YingZi Technology, uma empresa de Internet sediada na cidade de Guangzhou, no sul da China, foi a primeira a desenvolver a tecnologia de “reconhecimento facial de porcos”, que foi formalmente lançada em março de 2018. Com base nas características das orelhas, olhos, focinho e outras características de cada porco, estima-se que esta tecnologia é capaz de identificar cada porco de maneira individual e assim criar um arquivo informativo para cada um dos animais.

Segundo He Jingxiang, CEO da empresa, o objetivo desse projeto é garantir a segurança alimentar através do monitoramento da origem dos produtos suínos.

Ao mesmo tempo, na Conferência de Tecnologia na Nuvem do Alibaba, realizada em março, a empresa apresentou a primeira tecnologia de criação de porcos do mundo mediante inteligência artificial, desenvolvida em conjunto com a filial Alibaba Cloud e com a empresa agrícola Sichuan Tequ Grup.

A tecnologia incorpora reconhecimento facial com grandes dados para analisar o comportamento dos porcos, de acordo com um comunicado da empresa.

Em junho, o Alibaba Cloud lançou o “Cérebro Agropecuário”, uma nova tecnologia de IA que usa reconhecimento de voz e imagem para ajudar os fazendeiros a monitorar porcos vivos em tempo real. Cada porco tem sua própria ficha que inclui informações sobre raça, idade, peso, capacidade de comer (um indicador de saúde dos porcos), frequência de exercícios e muito mais.

Os desenvolvedores do “Cérebro Agropecuário” afirmaram que, ao combinar as características acústicas e a tecnologia dos raios infravermelhos para detectar a temperatura, este sistema é capaz de saber se os porcos estão doentes. Ele controla a temperatura do corpo, bem como a tosse e o choro dos porcos — detecção precoce e aviso de um possível surto de doença.

Infelizmente, essa tecnologia não chegou rápido o suficiente. Em agosto do ano passado, houve um surto de febre suína africana no nordeste da China, que desde então se espalhou para praticamente todas as regiões e províncias do país asiático. A doença é mortal para os porcos, mas não afeta os seres humanos.

Na Conferência de Descobrimento JD realizada pela JD.com em novembro do ano passado, a empresa anunciou a criação da filial JD Produção Agrícola e Pecuária e do JD Instituto de Pesquisa Agrícola. Em colaboração com a Universidade Agrícola da China em Pequim, a JD.com, originalmente uma empresa de varejo de comércio eletrônico, construirá uma “fazenda inteligente para criação de porcos” no condado de Fengning, província de Hebei.

Nessa fazenda, parâmetros como qualidade do ar, temperatura e umidade podem ser monitorados a qualquer momento. Enquanto isso, a JD.com também empregará sua própria tecnologia de “reconhecimento facial de porcos”, que mostra os pais de cada porco, sua data de nascimento, raça, peso, status de crescimento e estado de saúde.

A empresa afirma que essa tecnologia pode “realizar o controle preciso da quantidade de alimento, a fim de garantir um crescimento equilibrado para cada porco e evitar o bullying suíno”. Aqui, o bullying suíno refere-se principalmente a quando alguns porcos comem muito mais do que seu quinhão, enquanto outros porcos ficam sem o suficiente para comer.

A JD Produção Agricultura e Pecuária também desenvolveu a chamada “solução digital para fazendas de criação de porcos”, chamada Shennong, que integra IA, Internet das Coisas (IoT) e o sistema de vigilância computadorizado.

Apesar das novas tecnologias, os especialistas em agricultura apontaram os desafios para a sua aplicação efetiva. Primeiro, os humanos são capazes de ficar parados em frente a uma câmera de IA para tirar uma foto, mas os porcos não fazem isso tão facilmente. E o que é mais importante, os rostos humanos diferem muito entre si, enquanto os porcos são muito parecidos.

Como os porcos vivem em um ambiente sujo e podem facilmente ficar com a cara enlameada, isso também pode dificultar que a câmera os identifique bem.

Internautas chineses ficaram surpresos e se divertiram com a ideia dessa nova tecnologia. Um deles sugeriu: “Não é mais fácil colocar um código QR na orelha do porco?”

Alguém também disse: “Fazer uma etiqueta para cada um é a solução mais simples e barata para identificar os porcos”.

Em entrevista à Radio Free Asia em 7 de fevereiro de 2019, Ma Wenfeng, analista agrícola radicado em Pequim, ressaltou que a causa fundamental do problema de segurança alimentar da China não é uma questão técnica, mas a enorme diferença entre ricos e pobres. As classes ricas e privilegiadas podem desfrutar de alimentos de alta qualidade, enquanto os pobres só podem escolher alimentos baratos feitos com padrões questionáveis de segurança alimentar. Geralmente escândalos ocorrem quando as empresas chinesas são publicamente expostas por fazer uso de produtos químicos e outros aditivos para reduzir custos, tornando os produtos prejudiciais à saúde dos consumidores. Em 2013, descobriu-se que uma quadrilha processava carne de rato e a vendia como carne de cordeiro.