Em uma descoberta impressionante, astrônomos revelaram a existência do maior par de jatos de buracos negros já registrado, com uma extensão total de 23 milhões de anos-luz. Essa distância equivale ao alinhamento de 140 galáxias da Via Láctea.
A revelação, publicada na revista Nature, foi liderada por Martijn Oei, pós-doutorando do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech).
O jato, denominado “Porfírio” em referência ao filósofo grego, foi observado pelo radiotelescópio europeu Lofar (Low Frequency Array). Segundo Oei, trata-se da estrutura mais longa desse tipo já observada.
“Este par não tem apenas o tamanho de um sistema solar ou da Via Láctea; estamos falando de 140 diâmetros da Via Láctea no total”, explicou Oei.
Os jatos se originam de um buraco negro supermassivo localizado no coração de uma galáxia robusta, que é cerca de dez vezes mais massiva do que a nossa Via Láctea.
A origem da galáxia foi definida por um conjunto de observatórios ao redor do mundo, incluindo o Giant Metrewave Radio Telescope (GMRT), na Índia, e o projeto Desi (Dark Energy Spectroscopic Instrument), localizado no Observatório Nacional de Kitt Peak, no Arizona, EUA.
As observações indicam que a galáxia está situada a 7,5 bilhões de anos-luz da Terra.
Os fluxos de energia emitidos pelo buraco negro foram descritos como “violentos”, com produção de energia equivalente a bilhões de sóis. Essa energia é lançada em forma de jatos que se estendem “de cima e de baixo de um buraco negro supermassivo”.
Os cientistas acreditam que esses jatos podem ter influenciado a formação das galáxias ao longo do tempo e podem ter alcançado vastas porções da teia cósmica — a estrutura que conecta e alimenta as galáxias no universo.
Segundo Oei, a equipe de pesquisa, que começou a usar o Lofar em 2018 para estudar as estruturas da teia cósmica, observou diversos sistemas de jatos gigantes.
“Não tínhamos ideia de que havia tantos”, comentou Oei.
Para a avaliação das imagens geradas pelo radiotelescópio, os cientistas contaram com máquinas treinadas e com o apoio de “cientistas cidadãos” espalhados pelo mundo.
A estrutura dos jatos em Porfírio remonta ao período em que o universo tinha 6,3 bilhões de anos, ou seja, menos da metade da idade atual de 13,8 bilhões de anos.
De acordo com as observações realizadas, os buracos negros que emitem esses jatos supermassivos estavam em um modo radioativo — um estado mais comum no universo mais jovem.
Os astrônomos afirmam que os buracos negros em modo jato são mais comuns no universo atual.
Segundo George Djorgovski, professor de astronomia e ciência de dados na Caltech e co-autor do estudo, essa descoberta pode significar que os jatos de buracos negros podem influenciar o crescimento não apenas de suas galáxias hospedeiras, mas também de outras galáxias nas proximidades.
“Esta descoberta mostra que os efeitos dos jatos podem se estender muito mais longe do que pensávamos”, afirmou Djorgovski.
Os cientistas acreditam que existem outros sistemas semelhantes ao Porfírio a serem descobertos.
“Podemos estar olhando apenas para a ponta do iceberg”, destacou Oei, acrescentando que a pesquisa com o Lofar cobriu apenas 15% do céu.
A equipe agora busca entender como os jatos conseguem manter sua estabilidade e resistência por distâncias tão grandes sem desestabilizar.
Segundo Oei, é possível que o magnetismo gerado pelos jatos tenha papel crucial, permeando a teia cósmica, as galáxias, estrelas e planetas.
Antes do Porfírio, o maior sistema de jatos registrado era o Alcyoneus, com o tamanho de 100 Vias Lácteas, descoberto pela mesma equipe em 2022.