Uma equipe internacional de astrônomos, liderada pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, revelou uma descoberta surpreendente sobre a galáxia GS-10578. A investigação ilustra o impacto devastador dos buracos negros supermassivos ─ aqueles cuja massa pode ser milhões ou bilhões de vezes maior que a do Sol ─ sobre suas galáxias hospedeiras.
Publicada na segunda-feira (16) na revista Nature Astronomy, a pesquisa foi realizada utilizando o Telescópio Espacial James Webb. Ela confirma que buracos negros supermassivos podem privar suas galáxias hospedeiras do combustível necessário para a formação de novas estrelas. Na prática, isso significa “matá-las de fome”.
A galáxia GS-10578, formada há cerca de 12 bilhões de anos, é um exemplo notável de uma galáxia que já foi vibrante e produtiva em termos de formação estelar, mas que hoje está essencialmente “morta”. Análises mostraram que essa Galáxia Antiga não tem produzido novas estrelas há bilhões de anos.
Estima-se que a GS-10578 tenha aproximadamente o mesmo tamanho que a Via Láctea tinha há cerca de dois bilhões de anos após o Big Bang, além de possuir um buraco negro supermassivo em seu núcleo.
A grande surpresa dos cientistas foi descobrir que o buraco negro no centro dessa Galáxia Antiga desempenha um papel crucial em sua “morte”, ao privá-la do combustível necessário para gerar novas estrelas.
Utilizando o James Webb, os pesquisadores identificaram que a galáxia chega a expelir grandes quantidades de gás, com velocidade de 1.000 km/s. Essa rapidez é suficiente para fazer com que o material escape da atração gravitacional da galáxia e, portanto, não contribua para a formação de novas estrelas.
O líder do estudo, Francesco D’Eugenio, afirmou: “Encontramos o culpado. O buraco negro está matando esta galáxia e mantendo-a dormente, cortando a fonte de ‘alimento’ que a galáxia precisa para formar novas estrelas”.
Ele destacou que, enquanto modelos teóricos já haviam sugerido que buracos negros poderiam ter esse efeito, a observação direta desse processo ainda era inédita.
Curiosamente, embora o fim da formação estelar geralmente leve a efeitos violentos e turbulentos nas galáxias, a GS-10578 mantém suas estrelas se movendo de forma ordenada, desafiando as expectativas anteriores. Isso sugere que o impacto dos buracos negros pode variar.
O próximo passo da pesquisa é integrar os dados do James Webb com observações do Atacama Large Millimeter/Submillimeter Array (ALMA) – um conjunto de 66 antenas que pode detectar componentes gasosos frios e escuros.
Segundo o coautor do estudo, Roberto Maiolino, isso permitirá uma investigação mais aprofundada sobre a presença de possíveis reservas de combustível estelar ocultas, além de detalhar os efeitos exercidos pelo buraco negro supermassivo na galáxia.
“Nosso uso do Webb demonstrou como tivemos um salto gigante em termos de capacidade de estudar o universo primitivo e como ele evoluiu”, avaliou Maiolino.