O casal Shivaun Raff e Adam travou uma batalha judicial de uma década e meia contra o Google. O resultado foi uma multa de € 2,4 bilhões — aproximadamente R$ 14,8 bilhões, na cotação de segunda-feira (28) — imposta pela Comissão Europeia à empresa multinacional americana de software e serviços online.
A história começou em 2006 com o lançamento do Foundem, site pioneiro em comparação de preços, fundado por Shivaun e Adam.
O casal renunciou empregos bem remunerados para trabalhar do zero na plataforma e adentrar no competitivo mundo digital.
No dia do lançamento, Shivaun e Adam estavam animados para ver o projeto se tornar realidade. No entanto, essa euforia logo se transformou em desespero quando o Google aplicou uma penalidade ao site, relegando-o a posições desfavoráveis nos resultados de busca.
“O Google essencialmente nos fez desaparecer da internet”, desabafou Adam, refletindo sobre o impacto devastador da punição em seus negócios.
Inovador em sua proposta de permitir comparações abrangentes de produtos, o Foundem encontrou severas dificuldades financeiras devido à queda no tráfego.
Shivaun, que já havia trabalhado como consultora de software, e Adam, especialista em computação, começaram a investigar os motivos.
Em entrevista ao programa The Bottom Line, da BBC Radio 4, o casal inicialmente acreditou que a situação era um erro. Porém, ao longo do tempo, as suspeitas de práticas anticompetitivas por parte do Google começaram a surgir.
“Precisávamos lutar”
Após dois anos sem resposta do Google, a dupla decidiu agir. “Precisávamos lutar”, relembrou Adam. O casal então buscou ajuda da mídia e autoridades reguladoras nos Estados Unidos e Reino Unido, levando suas queixas à Comissão Europeia (CE) em 2010, em Bruxelas, na Bélgica.
A Comissão perguntou ao casal se esse era um problema sistêmico, visto que eram as primeiras pessoas que chegavam até lá.
“Dissemos que não tínhamos 100% de certeza, mas suspeitávamos que as pessoas estavam com medo, porque todas as empresas na internet dependem essencialmente do Google para a força vital que vem do tráfego”, relatou Shivaun.
A investigação que se seguiu culminou num veredicto contra o Google, que foi considerado culpado por promover seus próprios serviços de comparação em detrimento de concorrentes.
O Google passou sete anos resistindo à condenação, que foi expedida em junho de 2017. O Tribunal de Justiça Europeu, entretanto, rejeitou todos os recursos da companhia em setembro deste ano.
O processo não foi apenas um marco na regulamentação de empresas de tecnologia, mas também uma jornada angustiante para o casal, que viu o Foundem ser encerrado em 2016, após anos de luta.
A gigante da tecnologia alegou que as mudanças implementadas em 2017 foram eficazes. “O julgamento do Tribunal Europeu de Justiça [em 2024] se refere apenas à forma como mostramos os resultados dos produtos de 2008 a 2017”, disse um porta-voz do Google.
Google continua sob investigação
Embora a Comissão Europeia tenha imposto a multa, Adam e Shivaun continuam a acreditar que as práticas anticompetitivas por parte da gigante tecnológica persistem.
Recentemente, a Comissão abriu uma nova investigação sobre a Alphabet, empresa controladora do Google, sob a nova Lei de Mercados Digitais.
O casal também se prepara para uma ação civil contra o Google, com previsão de início em 2026. O objetivo é verificar se a empresa continua dando preferência a seus próprios produtos e serviços nos resultados de pesquisa.
Shivaun e Adam, apesar das dificuldades, permanecem determinados. “Nós fomos criados sob a ilusão de que podemos fazer a diferença, e realmente não gostamos de valentões”, avisou Shivaun.
O casal reconhece, no entanto, o desgaste. “Acho que se soubéssemos que levaria tantos anos, talvez não tivéssemos feito a mesma escolha”, admitiu Adam.