Alergia alimentar infantil está ligada a células imunológicas hiperativas

16/01/2016 07:00 Atualizado: 15/06/2019 01:01

Por Marina Dalila, Epoch Times

Um estudo realizado com sangue do cordão umbilical de 1000 bebês, do estado de Vitória, na Austrália, revelou que recém-nascidos com células do sistema imunológico hiperativas no nascimento estão mais propensos ao desenvolvimento de algumas das alergias alimentares mais comuns, incluindo ao amendoim, ao leite, aos ovos e ao trigo, ainda no primeiro ano de vida.

A pesquisa, conduzida pelo Dr. Yuxia Zhang e pelo professor Len Harrison, do Walter e Eliza Hall Institute, e pelo professor adjunto Peter Vuillermin, do Barwon Health, Deakin University and the Murdoch Childrens Research Institute, foi publicada na quinta-feira, na revista Science Translational Medicine.

O professor Harrison disse que houve grande interesse no sangue do cordão umbilical, porque este proporciona uma rica fonte de células-tronco, que se desenvolvem em vários tipos de células orgânicas diferentes, já no início da vida e durante o crescimento.

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As amostras de sangue do cordão umbilical, tiradas entre 2010 e 2013, revelaram uma “assinatura imune”, que caracteriza-se por um aumento do número de células imunológicas chamadas monócitos, que eram mais “ativadas” em bebês que desenvolveram a alergia alimentar. “Através da análise do sangue do cordão umbilical  conseguimos compreender a relação entre alergias alimentares em bebês e a ativação dos monócitos no sangue do cordão umbilical”, disse Harrison.

Os monócitos são considerados os soldados do sistema imunológico, pois eles respondem rapidamente a infecções e outras agressões ao sistema imunológico. Sua ativação ocorre algum tempo antes ou durante o parto,  e é causada por células imunitárias especializadas, conhecidas como células T, no intuito de gerar uma resposta imunológica. As células T têm sido associadas a alergias, mas como se tornaram hiperativas nos bebês é ainda um mistério.

O professor Harrison salientou que um bebê com a assinatura imune nem sempre desenvolve alergias alimentares. Ele explicou que o bebê com a “assinatura” é somente predisposto a desenvolver alergias. “Há alguns bebês com a “assinatura” que não desenvolvem alergias alimentares, o que sugere que outros fatores entram em jogo no primeiro ano de vida”, disse ele. Os bebês do estudo foram avaliados aos 6 e 12 meses de idade.

Esses outros fatores poderiam incluir o tempo de exposição da criança a alimentos sólidos, o uso de antibióticos, infecções e se elas nasceram de um parto natural ou de cesariana. A dieta da mãe – incluindo a diversidade de alimentos ingeridos e da quantidade de alimentos processados ​​ou aditivos – são também possíveis fatores.

“Nós também estamos interessados ​​em saber se existe uma suscetibilidade genética herdada para isso, mas eu acho que isso ocorre devido à uma combinação de fatores”, disse o professor Harrison.

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“Agora que nós já identificamos este fato, a pergunta é: o que está provocando esta hiper-reatividade no sistema imunológico?”, disse Harrison. “É algo que ocorreu durante o parto, ou antes? A incidência de alergia alimentar tem aumentado ao longo dos anos, por isso não podem ser apenas genes. Acreditamos ser a forma como o ambiente também influencia e muda a expressão do gene. ”

Os pesquisadores agora irão coletar dados sobre as mães e examinar fatores como dieta, estilo de vida e exposição a toxinas ambientais, para verificar se eles poderiam estar envolvidos na excitação das células do sistema imunológico hiperativo.

Incidência de Alergia Alimentar Infantil

De acordo com a ASCIA, estudos têm demonstrado que a alergia alimentar afeta 10% das crianças até 1 ano de idade; entre 4-8% das crianças de até 5 anos de idade, e aproximadamente 2% dos adultos. Internações hospitalares por reações alérgicas graves (anafilaxia) duplicaram na última década, na Austrália, nos EUA e no Reino Unido. Na Austrália, especialmente, as admissões para anafilaxia devido a alergia alimentar em crianças de 0 a 4 anos são ainda mais elevadas e severas, tendo aumentado cinco vezes durante o mesmo período.

No Brasil também houve um aumento da alergia alimentar infantil, e, principalmente, da alergia ao leite de vaca. Segundo a alergista do Hospital das Clínicas da USP, Ariana Young, em entrevista ao Fantástico, o Brasil teve um aumento de 18% desta alergia nas duas últimas décadas e já possui cerca de mais de 350 mil crianças com alergia ao leite de vaca.

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Espera-se que a descoberta possa levar a futuros tratamentos durante ou antes da gravidez, a fim de prevenir alergias alimentares na infância, que estão em ascensão. “Este estudo realmente enfatiza como é crítico  olhar para a gravidez  e para o início da vida  para realmente entender doenças imunológicas e inflamatórias crônicas, além de compreender como as alergias se desenvolvem na infância e mais tarde”, disse o professor Harrison.

Essa pesquisa foi financiada pelo Australian National Health and Medical Research Council (Conselho Médico de Pesquisas e Setor de Saúde Nacional Australiano), Walter and Eliza Hall Institute Catalyst Fund (Salão do Instituto Catalisador de Fundos Walter e Eliza) e pelo Victorian State Government Operational Infrastructure Support Program (Programa de Apoio à Infraestrutura Operacional do Governo do Estado de Vitória).