Xi Jinping retalia facção de Jiang Zemin na televisão

28/09/2017 03:26 Atualizado: 28/09/2017 10:31

Em regimes opressivos, a mídia é uma arma perigosa que pode ser usada para distorcer a verdade e espalhar informações falsas; é uma forma de controle do pensamento.

Na China, a propaganda pode se espalhar sob a aparência de meios de comunicação aparentemente legítimos.

Embora a sede da TV Phoenix esteja em Hong Kong, onde a mídia tem o direito de operar independentemente da censura chinesa, a emissora é conhecida como porta-voz de Pequim e, especificamente, de uma facção dentro do Partido Comunista Chinês que é leal ao ex-líder Jiang Zemin, líder do partido de 1989 a 2002.

Em 13 de setembro, o jornal Apple Daily, em Hong Kong, informou que três dos principais programas de notícias da Phoenix TV foram cancelados. “Devido a ajustes na programação, ‘Por Trás das Manchetes’ terá sua transmissão interrompida temporariamente”, anunciou publicamente um dos programas em sua conta oficial do Weibo, o equivalente chinês do Twitter.

Cena de “Por Trás das Manchetes” (Captura de tela do Youtube)
Cena de “Por Trás das Manchetes” (Captura de tela do Youtube)

Com vistas ao 19º Congresso Nacional que será realizado em outubro, quando o Partido Comunista Chinês se reunirá para dar início à nova rodada de líderes, analistas de notícias disseram ao Epoch Times que as mudanças na emissora de televisão representam um esforço do atual líder Xi Jinping para silenciar a facção de Jiang.

Antecedentes da Phoenix

A emissora de televisão se apresenta como uma voz independente, encobrindo suas intenções ocultas de favorecer Pequim ao informar sobre questões consideradas proibidas na China continental, como os escândalos de segurança alimentar. Na verdade, seu fundador, Liu Changle, foi um oficial do Departamento de Propaganda do Exército Popular de Libertação que então trabalhou na rádio oficial do Partido Comunista.

Desde que Liu fundou a Phoenix TV em 1996, o canal tem consistentemente posto em prática as intenções ocultas do ex-líder Jiang Zemin. Em 1999, ao sentir-se ameaçado pela crescente popularidade da prática de meditação espiritual do Falun Dafa, Jiang lançou uma perseguição nacional para prender, encarcerar e torturar os praticantes.

Phoenix TV apoiou a campanha de propaganda de Jiang para difamar o Falun Dafa e colocar a opinião pública contra os praticantes. O Epoch Times identificou vários programas de televisão difamatórios direcionados ao Falun Dafa que são transmitidos pela Phoenix desde 1999.

Jiang assegurou-se de que seu legado de perseguição persistiria por um longo tempo depois que ele deixasse o cargo de chefe do Partido em 2002. Durante a administração do líder posterior, Hu Jintao (2002 – 2012), Jiang e seus seguidores controlaram grandes partes do regime e em particular os membros de sua facção dominaram a mídia.

Em 2008, a Phoenix TV transmitiu um programa que tentava desacreditar o relatório de dois advogados canadenses de direitos humanos que reúne evidências da extração forçada de órgãos de praticantes do Falun Dafa e de outros grupos dissidentes na China. O regime de Jiang foi responsável por começar em 2000 a remoção forçada maciça de órgãos de praticantes do Falun Dafa ainda vivos, uma atrocidade que continua até hoje.

Também é sabido que Liu é amigo próximo de Bo Xilai, ex-chefe do partido em Chongqing e membro principal da facção de Jiang, que perdeu dramaticamente seu poder em 2012. Em 2011, Liu levou uma equipe da Phoenix para Chongqing para dar a Bo cobertura positiva na mídia.

“Sem o apoio da facção de Jiang, não havia maneira de Liu estabelecer uma versão da CCTV (canal oficial do regime) no exterior”, disse Zhu Ming, comentarista radicado em Nova York.

Durante a Revolução dos Guarda-Chuvas de 2014 (protestos pró-democracia realizados em Hong Kong que dominaram as manchetes em todo o mundo), a Phoenix TV retratou os manifestantes como intolerantes que entraram em confronto intencional com a polícia e causaram tumultos na cidade. Analistas políticos disseram que exagerar a discórdia em Hong Kong atendeu os interesses políticos da facção de Jiang.

Mais recentemente, a estação de televisão transmitiu entrevistas com ativistas de direitos humanos da China continental que foram presos ou sequestrados pelas autoridades, na qual confessaram ter cometido crimes. O advogado de direitos humanos Zhang Kai fez uma declaração através do Voz da América, dizendo que havia sido “forçado a dizer essas coisas por medo”.

Implicações

O 19º Congresso Nacional é um evento muito importante para o Partido Comunista Chinês. A cada cinco anos, uma nova cúpula é escolhida. Espera-se que Xi Jinping permaneça como Secretário Geral do Partido em um segundo mandato de cinco anos.

Enquanto isso, Xi continua a consolidar seu poder ao remover funcionários leais a Jiang. Assim que assumiu o poder em 2012, ele lançou uma importante campanha anticorrupção para capturar altos funcionários da facção de Jiang, como no caso de Zhou Yongkang, que liderava o aparelho de segurança nacional do regime chinês. Zhou foi condenado por corrupção e sentenciado à prisão perpétua em 2015.

De acordo com o comentarista político Tang Jingyuan, os recentes cancelamentos de programas da Phoenix – todos os quais abordam assuntos da atualidade – deixa uma mensagem clara para a facção de Jiang: “Não tente causar confusão antes do 19º Congresso Nacional. Não tente usar questões políticas para influenciar a opinião pública e causar um incidente”.

Reportagens e traduções adicionais por Annie Wu

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