Xi consolida seu poder em Congresso marcado por expurgo do ex-presidente Hu

Por Jesús Centeno e EFE
22/10/2022 09:08 Atualizado: 22/10/2022 09:08

O aparente e inesperado expurgo público do ex-presidente Hu Jintao, antecessor imediato do atual líder chinês, Xi Jinping, convulsionou neste sábado o encerramento do 20º Congresso do Partido Comunista da China (PCCh), no qual Xi consolidou seu já enorme poder perpetuando-se por mais cinco anos à frente do gigante asiático.

O incidente com Hu, de 79 anos, ofuscou a eleição de hoje do novo Comitê Central, do qual emergirão o Politburo e o novo Comitê Permanente do PCCh, o mais alto escalão do poder chinês, cuja composição será conhecida amanhã após semanas de palpites que tentam arriscar quem acompanhará Xi no topo durante os próximos cinco anos.

Com o rosto pálido, Hu foi escoltado para fora do plenário do Grande Salão do Povo segundos depois que a imprensa entrou no local, segundo testemunhou a EFE.

As câmeras tiveram o caminho livre para registrar um bedel se aproximando do ex-presidente para forçá-lo a sair do plenário diante dos rostos atordoados de Li Zhangshu e Wang Huning, os atuais números três e cinco do Partido Comunista.

Embora Hu resistisse enquanto era levado, como pode ser visto pela situação de seu paletó, acabou saindo depois de interpelar Xi, que continuava olhando para a frente alheio ao que estava acontecendo a poucos centímetros de suas costas.

No entanto, alguns observadores não interpretaram o que aconteceu como um expurgo, mas como um possível desconforto físico que teria causado a saída do antecessor de Xi do cargo.

Um expurgo televisionado sem acusações envolvidas seria realmente algo insólito no PCCh atual, mas outros especialistas estão convencidos de que o evento encenou em uma transmissão ao vivo a laminação dessa facção, que era conhecida por ser mais liberal, pragmática e orientada ao mercado.

Além disso, já se sabe que no novo Comitê Central, do grupo de 205 membros (mais suplentes) que dirige o regime, não aparecem os mais próximos de Hu, como o atual primeiro-ministro, Li Keqiang, ou Wang Yang, vice-primeiro-ministro, que se aposentará da vida política aos 67 anos.

De fato, quando estava saindo da sala e passando atrás da primeira fila onde estava a cúpula de dirigentes, Hu tocou o ombro de Li, em um gesto que alguns interpretaram como solidariedade pela perda de influência na legenda.

Resta saber se Hu Chunghua, apelidado de “pequeno Hu” por causa de sua proximidade com o ex-presidente, tem chance de ingressar no Comitê Permanente do PCCh, embora tudo pareça indicar que seus membros serão todos aliados muito próximos de Xi.

Expurgado das redes

Hu foi até mesmo expurgado das redes sociais chinesas, e o post mais recente em que o nome do ex-presidente pode ser encontrado data de 18 de outubro, quando uma conta citou as palavras do político sobre desenvolvimento econômico.

Se o PCCh quis mostrar uma imagem de unidade, não parece ter tido sucesso com o que aconteceu hoje, ao que devem ser acrescentados os últimos dardos que Xi lançou contra seu antecessor.

“Havia dentro do partido uma falta de entendimento claro, falta de medidas efetivas e tendência à fraqueza. A burocracia, o hedonismo e a extravagância persistiram em muitos lugares e departamentos”, declarou o atual presidente chinês no discurso de abertura do conclave.

Xi também disse que “foram encontrados casos chocantes de corrupção”, que “o crescimento não foi equilibrado, sustentável ou coordenado” e que algumas pessoas “nem sequer tinham fé no sistema socialista”.

Amanhã, o comitê permanente

De qualquer forma, Xi garantirá, aos 69 anos, seu controle absoluto sobre o PCCh pelo menos nos próximos cinco anos.

Outro sinal de poder acumulado é a inclusão nos estatutos do PCCh de uma emenda que atualiza e amplia a teoria política do presidente chinês, conclamando a militância a “compreender profundamente” o significado “decisivo” de sua posição como “núcleo do Partido” e “aplicá-lo em todos os aspectos”.

A expectativa agora gira em torno de quem acompanhará o presidente nos próximos cinco anos, e se algum potencial sucessor aparecerá na nova cúpula.

Os novos membros do todo-poderoso Comitê Permanente (7 ou 9 pessoas) serão apresentados à sociedade amanhã, domingo, em outro evento paralelo após uma semana de reuniões a portas fechadas em uma Pequim blindada e sob fortes restrições para jornalistas devido às medidas draconianas contra a covid-19.

Sabe-se até agora que os números 2, 3, 4 e 7 do PCCh, Li Keqiang, Li Zhanshu, Wang Yang e Han Zheng, não estão mais no recém-nomeado Comitê Central, o que garante pelo menos quatro novos rostos para a cúpula do poder.

Quem, sim, está no Comitê Central é o ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, que poderia substituir Yang Jiechi à frente do Escritório da Comissão de Relações Exteriores do PCCh.

Também neste sábado, os delegados do partido elegeram hoje uma nova Comissão Central de Inspeção e Disciplina, que nos últimos cinco anos investigou 4,65 milhões de casos de corrupção.

 

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