Você se lembra da senhora que gritou “parem de matar” na Casa Branca? Anos depois ela ainda não desistiu

Wenyi Wang tinha conseguido entrar na Casa Branca com uma credencial de imprensa em uma missão pessoal

21/09/2018 23:22 Atualizado: 21/09/2018 23:22

Enfrentar o ditador cujos assassinatos perpetrados sobre seu próprio povo são mais numerosos que a soma daqueles que ocorrem no restante do mundo é um feito ousado, para dizer o mínimo. Embora essa proesa possa ser difícil de se conseguir uma vez  (e viver para contar a história) essa senhora conseguiu realizar o feito duas vezes. Mas como isso foi possível?

Conheça a Dra. Wenyi Wang. Ela é uma mulher corajosa com uma consciência firme. Ela não teme se fazer ouvir quando sente necessidade.

Alguns podem relembrar que a Dra. Wang foi manchete em 20 de abril de 2006, por envergonhar o ditador chinês Hu Jintao, durante seu discurso no gramado da Casa Branca.

O presidente dos EUA, George W. Bush (à direita), aplaude enquanto o ditador chinês Hu Jintao fala durante a cerimônia de recepção no gramado sul da Casa Branca em 20 de abril de 2006, em Washington, D.C (Foto por Mark Wilson / Getty Images)
O presidente dos EUA, George W. Bush (à direita), aplaude enquanto o ditador chinês Hu Jintao fala durante a cerimônia de recepção no gramado sul da Casa Branca em 20 de abril de 2006, em Washington, D.C (Foto por Mark Wilson / Getty Images)

A ex-jornalista tinha conseguido entrar na Casa Branca com uma credencial de imprensa, mas seu ex-empregador não percebeu que ela estava lá em uma missão pessoal.

 

Wang Wenyi segura uma faixa enquanto protesta durante a cerimônia de recepção ao ditador chinês Hu Jintao no gramado sul da Casa Branca, em 20 de abril de 2006  (Alex Wong / Getty Images)
Wang Wenyi segura uma faixa enquanto protesta durante a cerimônia de recepção ao ditador chinês Hu Jintao no gramado sul da Casa Branca, em 20 de abril de 2006  (Alex Wong / Getty Images)

“Presidente Bush, detenha-o em relação à matança! Presidente Bush, detenha-o em relação à perseguição ao Falun Gong”, gritou a Dra. Wang, que é uma praticante de Falun Gong.

A mulher de 47 anos foi presa pelo serviço secreto depois de emitir sua mensagem em voz alta e clara. Sua aparição repentina naquele dia atraiu a atenção internacional para as detestáveis atrocidades aos direitos humanos ocorridas na China sob a liderança de Hu.

Advogado de direitos humanos Gao Zhisheng
Advogado de direitos humanos Gao Zhisheng

Reportagens cobrindo o incidente destacaram a perseguição do Partido Comunista Chinês (PCC) ao Falun Gong – uma disciplina de meditação muito popular e cujos princípios básicos são “Verdade-Compaixão-Tolerância”.

Wang enfrentou um potencial processo por interromper o discurso de Hu. Em apoio à atitude dela, o renomado advogado de direitos humanos Gao Zhisheng escreveu uma carta aberta ao júri do caso de Wang.

“O que está acontecendo na China, um país que está sendo violentamente controlado pelo Partido Comunista? Qual é a natureza da atrocidade que acontece na China e que levou Wang Wenyi a expressar seu urgente protesto naquela ocasião? Qual é a magnitude da atrocidade? Como podemos considerar a relação entre a atrocidade que está ocorrendo na China e o grande princípio da civilização humana? Como podemos equilibrar o valor de parar essa atrocidade e a necessidade de manter a ordem no evento?”

Gao acrescenta: “[…] quando você aprende, sem preconceitos, a verdade sobre a perseguição desumana do PCC contra os praticantes do Falun Gong nos últimos seis anos [nota do editor: 18 anos a partir de 2018], você chega a uma conclusão: a Sra. Wang Wenyi é a heroína contemporânea da humanidade, sua coragem e moralidade demonstram a glória da nobre humanidade; ela representa a esperança e o futuro da civilização humana.”

A Dra. Wang Wenyi, segurando um buquê de flores de seus apoiadores, um dia depois de ter sido presa por protestar durante a visita à Casa Branca do ditador Hu Jintao (Foto por Gerald Martineau / The Washington Post / Getty Images)
Dra. Wang Wenyi, segurando um buquê de flores presenteado por seus apoiadores, um dia depois de ter sido presa por protestar durante a visita do ditador Hu Jintao à Casa Branca (Foto por Gerald Martineau / The Washington Post / Getty Images)

Wang, que passou a noite na prisão após o protesto improvisado, disse mais tarde “foi um ato de consciência e um ato de desobediência civil”, depois de sair do Tribunal Distrital dos Estados Unidos em Washington no dia seguinte. Wang foi libertada sem fiança e todas as acusações foram retiradas.

Voltando a 2001

Em Mdina, Malta, Wang enfrentou o ex-ditador Jiang Zemin, o notório principal culpado que iniciou a perseguição ao Falun Gong para “erradicar” a prática pacífica e aquele que deu a ordem para extrair os órgãos dos praticantes.

Wang abordou o líder do partido, dizendo-lhe para parar de matar os praticantes do Falun Gong.

O fotógrafo Darrin Zammit Lupi capturou o momento histórico e ganhou um prêmio de fotografia de imprensa por sua foto em tempo real.

O ditador Jiang, que ainda está vivo, é o ditador mais processado da história, com mais de 209 mil ações judiciais contra ele por orquestrar o genocídio e o assassinato em massa de praticantes do Falun Gong.

Sua política de perseguição tirânica continua a ser realizada até hoje.

A Dra. Wang, que reside nos Estados Unidos, possui mestrado em patologia e um doutorado em neurofarmacologia. Ela é membro de DAFOH (Médicos Contra a Colheita Forçada de Órgãos), uma organização sem fins lucrativos que expôs extensivamente o conluio no regime chinês na extração forçada de órgãos.

Jornalista chinês identificado como “Peter” (à esquerda), em conferência de imprensa com a médica chinesa Wang Wenyi (ao centro) em Arlington, Virgínia, em 26 de abril de 2006, e com uma mulher identificada como “Annie”, fala sobre a extração forçada de órgãos perpetrada pelas autoridades chinesas tendo como vítimas os praticantes do Falun Gong (FOTO AFP / Nicholas KAMM)
Jornalista chinês identificado como “Peter” (à esquerda), em conferência de imprensa com a médica chinesa Wang Wenyi (ao centro) em Arlington, Virgínia, em 26 de abril de 2006, juntamente com uma mulher identificada como “Annie”, ao falarem sobre a extração forçada de órgãos perpetrada pelas autoridades chinesas e tendo como vítimas os praticantes do Falun Gong (FOTO AFP / Nicholas KAMM)

Pesquisadores independentes confirmaram que os praticantes do Falun Gong, os quais definham em grande número nas prisões, são submetidos a testes sanguíneos para checagem da saúde de seus órgãos. O praticante que tem compatibilidade é morto sob demanda uma vez que um transplante tenha sido encomendado, seja por um cidadão chinês ou por um estrangeiro, a quem foi prometido um órgão compatível em questão de poucas semanas.

A extração forçada de órgãos sancionada pelo Estado é uma indústria lucrativa de bilhões de dólares na China de hoje e é realizada por meio de um conluio entre exército, polícia, médicos e políticos.

Não é de admirar por que a Dra. Wang agiu como agiu no passado. Ela não podia ignorar sua consciência.

Assista, abaixo, a uma palestra do TED sobre a extração forçada de órgãos na China: