Por Eva Fu
Uma das principais vacinas chinesas tem 50,4 por cento de eficácia, de acordo com os resultados de um teste em estágio final no Brasil, sendo um golpe para o regime chinês que busca alavancar a vacina para reforçar sua imagem global.
Os resultados do Instituto Butantan na terça-feira, financiados pelo Estado, foram apenas o suficiente para ultrapassar o limite de 50 por cento definido pela Organização Mundial da Saúde para aprovação regulatória. Foi muito menor do que as alegações iniciais anunciadas na semana passada, que anunciavam uma taxa de eficácia de 78%.
A CoronaVac, uma vacina desenvolvida pela farmacêutica Sinovac Biotech, sediada em Pequim, é uma das duas candidatas à imunização no Brasil. O governo fechou na semana passada um acordo para comprar até 100 milhões de doses da vacina chinesa.
A última revelação alimentou o ceticismo sobre as vacinas chinesas. O presidente Jair Bolsonaro, que em outubro jurou que “o povo brasileiro não será cobaia de ninguém”, disse na quarta-feira que estava certo em questionar a credibilidade das vacinas da China.
“Esses 50% são bons, não é? Todas as (críticas) que recebi pelos meus comentários, e agora eles estão vendo a verdade. Quatro meses sendo criticado por causa da vacina”, disse Bolsonaro a apoiadores fora de sua residência.
Bolsonaro disse que não teve voz na aprovação da vacina, já que o órgão regulador da saúde, Anvisa, faria a chamada final.
Na semana passada, pesquisadores do Instituto Butantan celebraram uma taxa de eficácia de 78% da vacina CoronaVac contra casos de vírus “leves a graves” e uma taxa de 100% para casos muito graves. O número caiu depois de contabilizar um grupo de casos “muito leves” entre mais de 12.000 voluntários, que não precisaram de assistência clínica, disse o instituto na terça-feira.
A mídia estatal chinesa deu pouca importância aos resultados do teste na cobertura da imprensa. Uma manchete de quarta-feira do tablóide estadual Global Times enfatizou que a vacina Sinovac foi “100% eficaz na prevenção de casos graves, poderia reduzir as hospitalizações em 80%”, citando um médico chinês que afirmou que a vacina é “boa o suficiente”. O jornal Beijing Daily, dirigido pelo Partido, deu importância à “segurança” e “eficácia” da vacina, sem mencionar os números.
Nos Estados Unidos, as vacinas desenvolvidas pela Pfizer e Moderna têm 95% de eficácia e receberam autorização do FDA em dezembro, antes de começar a administrar vacinas ao público em geral. Na China, no entanto, as autoridades têm se apressado para vacinar as pessoas desde julho sob uma política de uso de emergência que permite que vacinas que não tenham completado os testes clínicos sejam implantadas.
Yin Weidong, presidente da Sinovac Biotech, disse em uma entrevista coletiva na quarta-feira que a empresa planeja dobrar sua capacidade de produção para 1 bilhão de doses até fevereiro. Os resultados de eficácia de terça-feira foram até agora os mais baixos para a vacina. A empresa também recebeu pedidos da Turquia e da Indonésia para a CoronaVac, com dados provisórios mostrando uma taxa de eficácia de 91,25% e 65,3%, respectivamente.
Questionado sobre as preocupações em torno da vacina, Yin disse que os ensaios de estágio III no Brasil e em outros lugares “foram suficientes para provar a segurança e eficácia da vacina CoronaVac em todo o mundo”.
Em um movimento para garantir ao público, Hong Kong, que já fez pedidos de vacinas contra a Sinovac, disse na quarta-feira que faria um painel de especialistas revisar qualquer vacina com base em dados clínicos antes de seu lançamento.
O Instituto Butantan tem enfrentado críticas por sua transparência sobre os dados do ensaio CoronaVac. Ele havia inicialmente programado para divulgar os resultados do teste da vacina em meados de dezembro, mas atrasou a ação várias vezes, citando a necessidade da Sinovac coletar dados adicionais.
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