Em meio à crescente evidência das ambições da China de desenvolver tecnologia avançada para uso militar, um cidadão canadense e dois norte-americanos foram recentemente presos sob acusação de planejar o roubo de tecnologia militar de uma empresa dos Estados Unidos para exportá-la à China.
De acordo com um comunicado de imprensa emitido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos em 23 de janeiro, Yi-Chi Shih, de 62 anos, e Kiet Ahn Mai, de 63, ambos cidadãos norte-americanos naturalizados taiwanês e vietnamita respectivamente, tramavam se passar por clientes de uma empresa norte-americana com o objetivo de comprar chips de computador e exportá-los para a empresa chinesa Chengdu GaStone Technology Company.
Em 2014, a Chengdu GaStone foi incluída em uma lista, feita pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, das empresas estrangeiras que requeriam licença especial para exportar “devido à participação em atividades contrárias aos interesses da segurança nacional e da política externa dos Estados Unidos, especificamente”. A empresa estava envolvida em aquisição ilegal de produtos e tecnologias para uso final militar não autorizado na China, de acordo com declaração feita sob juramento apresentada pelas autoridades dos Estados Unidos e citada em um comunicado.
Nenhum deles tentou obter a licença necessária para exportar os chips, conhecidos como circuitos integrados monolíticos de micro-ondas (MMICs), utilizados em sistemas de guerra eletrônica e radares. A empresa norte-americana tinha entre seus clientes a Força Aérea, a Marinha, o braço de pesquisa tecnológica do Departamento de Defesa e a Agência de Projetos Avançados de Pesquisa em Defesa.
O plano consistia do seguinte: o dinheiro para comprar os chips foi canalizado de entidades chinesas para a Pullman Lane Productions, LLC, (com sede em Los Angeles), pertencente a Shih. Eles então usaram a própria empresa de Mai, a MicroEx Engineering, para se passar por clientes, pedir e pagar pela produção dos chips que Shih exportou ilegalmente para a Chengdu GaStone na China, de acordo com o Departamento de Justiça. Shih também é professor de engenharia na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
Em 25 de janeiro, a imprensa canadense divulgou que Ishiang Shih, professor de engenharia na Universidade McGill no Canadá e irmão de Shih, também participou da operação. O dinheiro foi transferido de Yi-Chi Shih para uma empresa no Canadá registrada em nome de seu irmão, de acordo com matéria do jornal Montreal Gazzette. Seu irmão também recebeu uma remessa entregue pelo correio relacionada à operação.
As autoridades norte-americanas rastrearam as viagens de Yi-Chi Shih e descobriram que ele foi para Montreal e China várias vezes ao longo de um período de 10 anos.
La Presse, jornal francês com sede em Montreal, entrou em contato com Ishiang Shih, o qual negou as acusações mas afirmou que estava contratando um advogado.
O regime chinês fez investimentos significativos em tecnologia militar durante décadas. Sua Marinha, por exemplo, testou com sucesso um porta-aviões avançado em dezembro de 2017, usando tecnologia de semicondutores de uma empresa britânica adquirida há uma década.
O regime também anunciou seu objetivo de se tornar líder mundial em inteligência artificial (IA). Um relatório do Centro para uma Nova Segurança Norte-Americana (CNAS, na sigla em inglês), publicado em novembro de 2017, descreve como a China busca obter vantagem sobre os Estados Unidos através da tecnologia IA, usada para modernizar suas forças armadas.
Em 25 de janeiro, o jornal do Exército Popular de Libertação da China, o Diário do Exército de Libertação do Povo, anunciou que havia recrutado mais de 120 pesquisadores do exército para se juntar ao instituto de pesquisa do exército e à Academia de Ciências Militares, com o objetivo de desenvolver tecnologia militar de “primeira categoria”.
Os pesquisadores são altamente especializados em áreas como veículos inteligentes não tripulados e tecnologia quântica, de acordo com o relatório. Mais de 95% têm doutorado.
Esse afã vai continuar desinibidamente até pelo menos 2030, prazo que o regime chinês estabeleceu para se tornar o principal inovador em IA do mundo.
O relatório do CNAS alertou que os Estados Unidos deverão estar preparados para esse oponente. “A China não está mais em posição de inferioridade tecnológica, mas considera-se próxima de alcançar e até mesmo ultrapassar os Estados Unidos na questão da IA”, diz o relatório.
Os Estados Unidos devem encontrar maneiras de manter suas vantagens competitivas, como a riqueza de talentos do país, concluiu o relatório.
Leia também:
• Ser um repórter na China envolve riscos reais
• Ex-chefe anticorrupção da China ganha novo posto político: o que isso significa?
• Casal de chineses acusado de exportar carvão para Coreia do Norte tentava imigrar para EUA