Uigures que escaparam da China são perseguidos por espiões chineses no estrangeiro

28/02/2018 20:46 Atualizado: 28/02/2018 20:46

Por Paul Huang, Epoch Times

Um relatório diz que uigures, o povo étnico muçulmano nativo da região chinesa de Xinjiang, que tem sido uma das minorias mais perseguidas da China, está sendo espionado pelos serviços de inteligência do regime chinês, mesmo depois de terem escapado da China e procurado asilo no exterior. O relatório vem num momento em que os Estados Unidos e outras nações estão cada vez mais alertas para os esforços do regime chinês em ampliar seu controle e influência autoritária em todo o mundo.

O regime chinês tem aumentado consistente e progressivamente a perseguição dos uigures em Xinjiang nos últimos anos, de acordo com vários observadores e relatórios de direitos humanos, como o Relatório Internacional de Liberdade Religiosa do Departamento de Estado dos EUA publicado no ano passado.

O que não tem sido frequentemente discutido, no entanto, é o fato de que o regime chinês também usou sua extensa rede de inteligência instalada em todo o mundo para espionar e prosseguir sua perseguição aos uigures que conseguiram escapar para o exterior.

“A espionagem contra a comunidade uigur no exterior é uma prioridade para os serviços de segurança chineses”, de acordo com um relatório publicado pelo Projeto de Direitos Humanos Uigures (UHRP). “Houve casos significativos de espionagem contra a comunidade uigur na Europa, mas as comunidades na América do Norte e na Austrália também estão sujeitas às tentativas chinesas de recrutamento como informantes.”

O relatório, intitulado “O Quinto Veneno: o assédio dos uigures no exterior”, foi originalmente publicado em novembro de 2017 e apresentado em 26 de fevereiro num evento sobre questões de direitos humanos uigures que ocorreu no prédio de escritórios Cannon House no Congresso dos EUA.

Nicole Morgret, a coordenadora de projeto do UHRP que apresentou o relatório na segunda-feira (26), disse que o Ministério da Segurança do Estado da China, as agências de espionagem do regime chinês e, em alguns casos, o Ministério das Relações Exteriores da China foram documentados como responsáveis por atividades contra os uigures exilados em várias partes do mundo, que vão do Egito e da Turquia até países ocidentais como Alemanha, Suécia, Canadá e Austrália.

“O esforço do governo chinês para espionar dissidentes não deve ser descartado como irrelevante para a segurança nacional”, diz o relatório. “Esse tipo de monitoramento destina-se não apenas a reunir informações sobre uigures e outros grupos dissidentes, mas também intimidá-los a não exercer seus direitos de assembleia e expressão, mesmo em países ocidentais.”

De acordo com Morgret, a espionagem do regime chinês contra os uigures nos Estados Unidos tem sido mais discreta em comparação com seus esforços em outros países. No entanto, ainda assim houve casos documentados de agentes de inteligência chineses fazendo ameaças remotas contra uigures em solo norte-americano, principalmente em maio de 2017, quando estudantes uigures em muitos países, incluindo nos Estados Unidos, receberam “ordens” para voltar à China sob ameaças de que seus pais, irmãos e familiares seriam perseguidos se eles se recusassem a cumprir.

“O assédio dos uigures no exterior é uma tática de longa data do regime chinês para tentar desencorajar qualquer atividade política entre eles e para monitorar aqueles que estão ou podem estar inclinados a se tornarem politicamente ativos”, diz o relatório.

Durante uma audiência no Congresso dos EUA em fevereiro, o diretor do FBI, Christopher Wray, disse que o regime chinês manipulava espiões não tradicionais na academia, como professores, cientistas e estudantes, para coletar informações. Enquanto Wray não especificou se essa inteligência incluía a espionagem de dissidentes chineses como os uigures, ele enfatizou que os esforços do regime se estendiam “basicamente a todas as disciplinas”.

A Radio Free Asia informou recentemente que um estudante uigur que estudava na Virgínia foi confrontado por colegas chineses da maioria han que ameaçaram denunciá-lo à embaixada chinesa por expressar pontos de vista “separatistas”. O professor nesse caso apoiou o estudante uigur e encorajou-o a denunciar esses abusos às autoridades dos EUA, como o FBI, o que levou os estudantes chineses rapidamente a recuarem.