O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, visitará a China pela primeira vez em 8 de novembro, pouco depois da conclusão do 19º Congresso Nacional no qual Xi Jinping, líder do Partido Comunista Chinês (PCC), consolidou seu poder. Nos três dias de reuniões que acontecerão, comércio e Coreia do Norte certamente serão o foco das conversas entre Trump e Xi.
Já há sinais na mídia chinesa de que é improvável que Trump encontre solução para um problema antigo: o déficit da balança comercial com a China. No entanto, parece haver esperança de que o presidente receba alguma forma de assistência de seu colega chinês em relação ao regime norte-coreano.
Na conferência de imprensa diária de 2 de novembro, Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, falou sobre como as duas nações “nadarão e afundarão juntas” como as duas maiores economias do mundo. Hua disse que a China nunca “tentou obter um excedente na balança comercial” e que a “situação atual do comércio China-EUA está completamente determinada pelo mercado”.
Para enfatizar seu ponto, ele disse que as importações dos Estados Unidos aumentaram 20,1% entre janeiro e agosto, enquanto o déficit comercial da China com os Estados Unidos no setor de serviços cresceu 36,1% entre o primeiro semestre de 2016 e o primeiro semestre de 2017.
De acordo com estatísticas do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, o déficit total da balança comercial com a China aumentou em US$ 347 bilhões no ano passado, uma cifra que Trump chamou de “tão grande e tão ruim que é vergonhosa”.
Em discussões com Xi sobre o desequilíbrio comercial, Trump provavelmente será pressionado para falar de uma questão de grande interesse para as empresas chinesas: os Estados Unidos têm negado a oportunidade de investimentos chineses em empresas norte-americanas.
Um artigo publicado em 30 de outubro no The Paper, um site de notícias financiado pelo regime chinês, equiparou o Comitê de Investimentos Estrangeiros dos Estados Unidos a um iceberg e relatou como a comissão negou aquisições para empresas chinesas.
Atualmente, existe um plano de investimento sendo negociado entre os dois países no valor de US$ 7 bilhões com empresas dos Estados Unidos e a Sinopec, uma das empresas estatais chinesas de petróleo, para construir um oleoduto no Texas e expandir instalações de armazenagem de petróleo existentes nas Ilhas Virgens norte-americanas, segundo informou a agência Bloomberg. As duas regiões foram devastadas por furacões recentes. O projeto criaria milhares de novos empregos nessas áreas impactados por fenômenos climáticos o que, segundo a Bloomberg, traria vantagens políticas a Trump.
De acordo com recente reportagem da CNBC, 29 executivos de empresas norte-americanas se juntarão à Trump na viagem à China, entre eles Kevin McAllister, presidente e CEO da Boeing Co.; Jack Fusco, presidente e CEO da Cheniere Energy Inc.; José Emeterio Gutiérrez, presidente e CEO da Westinghouse Electric Co. LLC; e Steve Mollenkopf, CEO da Qualcomm Inc.
Embora não esteja claro quanto será alcançado em termos de acordos comerciais entre as duas nações, a relação pessoal entre os dois líderes mundiais é cordial, disse Cui Tiankai, embaixador da China nos Estados Unidos, em uma entrevista à mídia chinesa e estrangeira em 30 de outubro.
“Os dois chefes de Estado têm um relacionamento muito bom, amizade, e um bom nível de confiança entre si. Eles podem conversar sobre seus interesses abertamente um com o outro”, disse Cui.
Quanto à questão das armas nucleares e dos programas de mísseis da Coreia do Norte, parece haver sinais de que os dois líderes têm interesses comuns. Um artigo publicado no porta-voz estatal Xinhua, em 2 de novembro, disse que a China e os Estados Unidos dependem um do outro para “garantir a estabilidade no nordeste da Ásia e tornar a península livre de armas nucleares”.
Na verdade, de acordo com o Hong Kong Economic Times, as relações entre China e Coreia do Norte deterioraram recentemente, o que levou a uma mudança na ordem em que os quatro países socialistas (Coreia do Norte, Vietnã, Laos e Cuba) foram citados quando a mídia estatal chinesa informou sobre o recebimento de mensagens de congratulações para Xi por ele se tornar o líder do Partido Comunista Chinês por mais cinco anos.
Em 2002, 2007 e 2012, a agência Xinhua mencionou a Coreia do Norte em primeiro lugar entre os quatro países. Mas este ano o regime norte-coreano foi citado por último. Colocar a Coreia do Norte no fim da lista foi um sinal de que a liderança chinesa não gostou da forma como seu vizinho ignorou repetidamente as advertências para não realizar testes nucleares.
O que também indica uma cooperação mais estreita entre China e Estados Unidos em relação à Coreia do Norte é que Zhang Zhaozhong, contra-almirante da Marinha do Exército de Libertação Popular e comentador assíduo da televisão estatal, previu que a visita de Trump “desarmaria o fusível que ameaça a segurança da região Ásia-Pacífico”, dado que os dois líderes conversarão sobre “um bom plano para eliminar mísseis nucleares balísticos da Coreia do Norte”, segundo ele relatou através de publicações em sua conta Weibo (equivalente chinês do Twitter).
Os comentários de Zhang revelam uma mudança brusca em relação à sua habitual hostilidade em relação aos Estados Unidos. Em agosto deste ano, ele comemorou abertamente a colisão entre o navio norte-americano John S. McCain, um destroyer classe Arleigh-Burke, e um petroleiro liberiano, em suas publicações na Weibo. Sendo que em 2011, em momentos em que a pressão internacional aumentava sobre a urgência de impedir o desenvolvimento de armas nucleares pela China, ele declarou que o país iniciaria uma terceira guerra mundial para proteger o Irã.
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