O presidente norte-americano Donald Trump disse na quarta-feira, 17 de janeiro, que os Estados Unidos estavam considerando uma grande “multa” como parte de um inquérito sobre o suposto roubo de propriedade intelectual cometido pela China, a indicação mais clara até agora que sua administração tomará medidas comerciais de retaliação contra a China.
Numa entrevista com a Reuters, Trump e seu conselheiro econômico, Gary Cohn, disseram que o regime chinês forçou as empresas americanas a transferirem sua propriedade intelectual para a China como parte do custo de fazer negócios no país.
Os Estados Unidos iniciaram uma investigação comercial sobre a questão, e Cohn disse que o Representante de Comércio dos Estados Unidos faria recomendações a respeito em breve.
“Nós temos uma potencial grande multa de propriedade intelectual que sairá em breve”, disse Trump na entrevista.
Embora Trump não tenha especificado o que ele quis dizer com uma “multa” contra a China, a lei comercial de 1974 que autorizou uma investigação sobre o suposto roubo da propriedade intelectual dos EUA lhe permite impor tarifas de retaliação sobre bens chineses ou outras sanções comerciais até que a China altere suas políticas.
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Trump disse que os danos poderiam ser altos, sem elaborar sobre como os números foram obtidos ou como os custos seriam impostos.
“Estamos falando de grandes danos. Estamos falando de números que vocês nem sequer pensariam”, disse Trump.
As empresas norte-americanas dizem que perderam centenas de bilhões de dólares em tecnologia e milhões de empregos para as empresas chinesas que roubaram suas ideias, projetos e software ou as forçaram a transferir sua propriedade intelectual como parte do preço de fazer negócios na China.
O presidente Trump disse que queria que os Estados Unidos tivessem um bom relacionamento com a China, mas Pequim precisava tratar os Estados Unidos de forma justa.
Trump disse que estaria anunciando algum tipo de ação contra a China sobre o comércio e disse que discutiria a questão durante o discurso do Estado da União no Congresso dos Estados Unidos em 30 de janeiro.
Perguntado sobre o potencial de uma guerra comercial, dependendo da ação dos EUA sobre o aço, alumínio e painéis solares, Trump disse que esperava que uma guerra comercial não ocorresse.
“Eu não penso assim, espero que não. Mas se houver, assim seja”, disse ele.
Em Pequim, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lu Kang, disse que não há leis na China para forçar os investidores estrangeiros a transferirem tecnologia, mas reconheceu que essas coisas podem acontecer como parte do “comportamento do mercado” entre as empresas que trabalham em conjunto.
Jeffrey Schott, um colega sênior do Peterson Institute for International Economics, disse que as penalidades previstas na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, que autorizou a investigação sobre as práticas de propriedade intelectual da China, provavelmente incluirão um pacote de tarifas e restrições sobre o investimento chinês nos Estados Unidos.
“Eu suspeito que as medidas dos EUA envolverão restrições em áreas em que não temos obrigações da OMC [Organização Mundial do Comércio]”, disse Schott. “Trump gosta de falar sobre tarifas então elas devem fazer parte do pacote. Os chineses teriam o direito legal de retaliar contra aumentos tarifários.”
Ao longo de sua campanha eleitoral de 2016, Trump ameaçou rotineiramente impor uma tarifa global de 45% sobre os produtos chineses como forma de nivelar a competição para os trabalhadores americanos. Na época, ele também acusava a China de manipular sua moeda para obter vantagens de exportação, uma afirmação que sua gestão deixou de lado.
Trump disse na quarta-feira, 17 de janeiro, que a China deixou de preencher os critérios de manipulação da moeda após sua eleição, e disse que adotar essa designação enquanto tentava trabalhar com Pequim para restringir a Coreia do Norte seria complicado.
“Como você diria, ‘hei, quer saber, ajude-me com a Coreia do Norte e eu o chamarei de um manipulador da moeda’? Realmente não funciona”, disse Trump.
O presidente Trump também disse que ele e o líder chinês Xi Jinping não haviam discutido os planos da China em relação às compras de títulos do Tesouro dos EUA.
A mídia Bloomberg informou no início deste mês que as autoridades chinesas que avaliavam as aquisições cambiais do país recomendaram desacelerar ou interromper as compras de títulos do Tesouro dos EUA.
Trump disse que não estava preocupado que tal movimento prejudicasse a economia dos EUA.
“Nós nunca falamos sobre isso. Eles têm que fazer o que precisam fazer”, disse ele.
Coloboraram: James Oliphant, Ayesha Rascoe, Lesley Wroughton, David Lawder e Ben Blanchard
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