Por Zhang Ting, Epoch Times
Esta é a segunda e última parte da matéria sobre os planos do regime chinês para roubar tecnologia militar dos países ocidentais. Clique aqui para ler a primeira parte.
Estratégia 3: Influenciar profissionais com conhecimento em alta tecnologia no exterior através da Frente Unida
De acordo com o jornal do Partido Comunista Chinês (PCC), People’s Daily, o Departamento de Trabalho Frente Unida — organização do Partido que participa da subversão, fazendo alianças e isolando os inimigos — realizou uma reunião em maio de 2015 na qual deixou claro que os estudantes chineses no exterior serão o novo foco da atenção da Frente Unida e o principal alvo para a divulgação do PCC, quando declarou que é necessário treiná-los e usá-los.
Uma das iniciativas da Frente Unida dirigidas aos acadêmicos estrangeiros é o “Programa de Mil Talentos“, uma campanha de recrutamento para atrair os que trabalham nos campos da ciência e da tecnologia. O PCC furtivamente caçou talentos das melhores universidades, institutos de pesquisa e empresas reconhecidas, incluindo Zhu Huilong do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Semicondutores (SRDC, da sigla em inglês) da IBM; Chen Dongmin, ex-diretor estratégico da empresa de semicondutores norte-americana Memsic; e Shen Jian, que era pesquisador de nano-materiais magnéticos nos Laboratórios Nacionais Oak Ridge — operados pelo Departamento de Eenergia dos Estados Unidos — e também professor da Universidade do Tennessee.
Mais de 7.000 profissionais chineses e não chineses, especialistas e empresários de alto nível, foram recrutados pela China através desse programa, de acordo com o site Mil Talentos, em novembro de 2017.
O PCC os atrai com promessas tentadoras, incluindo um pacote único de um milhão de yuan (mais de 150 mil dólares); um emprego garantido em um cargo de liderança ou como professor em uma universidade, instituto de pesquisa ou empresa estatal; com subsídios para as pesquisas; além da garantia de emprego para cônjuges, e outras coisas mais.
Nos últimos anos, dentro do FBI cresceu a preocupação com os estudantes recrutados pelo Programa de Mil Talentos.
Em setembro de 2017, Yiheng Percival Zhang, professor chinês de engenharia de sistemas biológicos na universidade Virginia Tech, foi detido pelo FBI e acusado de conspirar para defraudar o governo federal.
Zhang é empregado da Virginia Tech desde 2005. Seus projetos de pesquisa cobriram áreas que tinham a ver com o Departamento de Energia dos Estados Unidos, o Departamento de Pesquisas do Exército dos Estados Unidos, o Departamento de Investigação Científica da Força Aérea no Laboratório de Pesquisa da Força Aérea e o projeto de pesquisa de instrumentos da Universidade Nacional de Defesa. Zhang também foi pesquisador do Instituto de Biotecnologia Industrial de Tianjin, que faz parte da estatal Academia Chinesa de Ciências. De acordo com o site do Instituto, Zhang foi recrutado pelo Programa de Mil Talentos.
Outro caso foi a prisão do professor Hao Zhang, da Universidade de Tianjin, quando retornou aos Estados Unidos vindo da China em maio de 2015.
De acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, enquanto estudavam para o doutorado em Engenharia Elétrica em uma universidade no sul da Califórnia, Hao Zhang e outro professor da Universidade de Tianjin, Pang Wei, realizaram pesquisas sobre tecnologia de ressonadores acústicos de película fina (FBAR, da sigla em inglês) usando fundos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Após graduar-se, Pang foi contratado pela Avago Technologies no Colorado, e Zhang trabalhou para a Skyworks Solutions em Massachusetts. Ambos trabalhavam como engenheiros de FBAR.
FBAR é uma tecnologia vital utilizada em dispositivos móveis como telefones celulares, tablets e dispositivos GPS. Também é utilizado em dispositivos de consumo, além de ter uma grande variedade de aplicações para as comunicações militares e de defesa nacional. Avago Technologies é uma empresa que projeta, desenvolve e fornece tecnologia FBAR. Pang figurava na lista de funcionários recrutados através do Programa de Mil Talentos em 2013.
Em 2008, funcionários da Universidade de Tianjin viajaram a San José, na Califórnia, para se encontrar com Pang, Zhang, e outros conspiradores, de acordo com o comunicado de imprensa do Departamento de Justiça sobre o caso. Logo após a reunião, a Universidade de Tianjin concordou em financiar a criação de uma base de produção de FBAR na China. Tanto Pang como Zhang permaneceram em suas empresas ao mesmo tempo em que colaboravam com a Universidade de Tianjin. Em 2009, Pang e Zhang deixaram seus empregos nos Estados Unidos e cada um aceitou uma oferta de cátedra completa na Universidade de Tianjin.
O Departamento de Justiça declarou que Pang, Zhang, e os co-conspiradores roubaram fórmulas, códigos-fonte, especificações técnicas, kits de design e outros documentos tidos como secretos ou patenteados por seus empregadores norte-americanos. Eles, então, compartilharam os segredos industriais roubados com a Universidade de Tianjin, permitindo-lhe construir uma “fábrica de FBAR.” Mais tarde, Pang, Zhang e outros abriram uma joint venture com a Universidade, chamada ROFS Microsystems, que produziria FBAR em série para clientes comerciais e militares.
Pang, Zhang e outros foram acusados de espionagem econômica e roubo de segredos industriais.
À parte do programa de recrutamento de Mil Talentos, o PCC introduziu uma série de outros programas similares, incluindo o Programa de Cem Talentos, o Programa de Acadêmicos de Changjiang, o Programa de Dez Mil Talentos e o Programa de Mil Especialistas Estrangeiros.
Qian Yingyi, decano da Escola de Gestão Econômica da Universidade Tsinghua, disse que a incorporação de recursos humanos estrangeiros se transformou em uma “missão estratégica” para as autoridades centrais e locais da China.
As táticas agressivas do PCC para recrutar talentos chineses no exterior fizeram com que as forças de segurança norte-americanas passassem a manter vigilância sobre as atividades dentro da comunidade sino-americana.
Vários meios de comunicação divulgaram em outubro de 2017 que uma mensagem tinha circulado dentro da comunidade científica chinesa em Washington D.C.: em um seminário sobre os casos de cientistas chineses injustamente acusados de espionagem, advogados advertiram o público de que qualquer um que aderir ao Programa dos Mil Talentos aparecerá automaticamente na lista de vigilância do FBI. Os membros da Associação Chinesa para Ciência e Tecnologia, grupo de cientistas nascidos na China que vivem nos Estados Unidos, também estavam sendo observados de perto.
Diversos estudiosos que residem nos Estados Unidos, mesmo não se unindo aos programas de Mil Talentos, continuam sendo usados pelo PCC para roubar tecnologia sensível.
Em 23 de janeiro de 2018, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou que Yi-Chi Shih e Kiet Ahn Mai haviam sido presos sob a acusação de conspiração por roubar tecnologia militar de uma empresa norte-americana, para vendê-la a uma empresa chinesa, a Chengdu Gastone Technology Co.
Entre os clientes da companhia norte-americana estão a Força Aérea dos Estados Unidos, a Marinha e a Agência de Projetos Avançados de Pesquisa da Defesa. A empresa produz chips MMIC (circuitos integrados monolíticos de microondas) usados na guerra eletrônica e nos sistemas de radar.
Em 18 de janeiro de 2018, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou que Xu Jiaqiang, um ex-desenvolvedor de software da IBM na China, foi sentenciado a cinco anos de prisão por roubar, duplicar e obter um código-fonte de propriedade da IBM.
Em 6 de dezembro de 2017, quatro ex-executivos de um fabricante norte-americano de chips, a Applied Materials, foram acusados pelo Tribunal Federal de roubar projetos de chips da empresa e tentar reutilizá-los para estabelecer uma startup na China. Eles baixaram dados, incluindo mais de 16 mil desenhos, da base de dados de engenharia interna da empresa.
Em 2012, Jin Hanjuan, engenheiro de software nascido na China e naturalizado norte-americano, foi condenado a quatro anos de prisão por roubar segredos industriais da Motorola e tentar vendê-los a uma empresa de telecomunicações chinesa que desenvolve produtos para o exército chinês.
Mais uma vez em 2012, um cidadão chinês, Liu Sixing, que trabalhou na L-3 Communications, uma grande empreiteira do setor de defesa dos Estados Unidos, foi condenado a cinco anos de prisão por roubar tecnologia da empresa, que incluía sistemas de orientação de mísseis, foguetes e drones. De acordo com o Departamento de Justiça, ele havia roubado os arquivos para preparar o caminho rumo a seu futuro emprego na China, tendo previamente entregue apresentações sobre tecnologia em várias universidades chinesas, na Academia Chinesa de Ciências e, além disso, participou de palestras feitas pelo regime chinês.
Estratégia 4: Estimular a cooperação com empresas estrangeiras
Outro modo pelo qual o PCC pode conseguir tecnologia sensível é permitindo que as empresas chinesas e estrangeiras trabalhem juntas. De acordo com o New York Times, duas empresas norte-americanas, a Advanced Micro Devices e a Hewlett Packard Enterprise, iniciaram parcerias com empresas chinesas fabricantes de chips para servidores, dando-lhes acesso à sua tecnologia. A Intel se associou com uma empresa chinesa de semicondutores para fabricar chips de telefonia móvel high-end. A IBM concordou em transferir parte de sua tecnologia informática para seus homólogos chineses.
No ano passado, a gigante chinesa da internet, a Tencent Holdings, formou uma parceria estratégica com a editora líder mundial de publicações científica Springer Nature. De acordo com Cheng Wu, vice-presidente da Tencent, ela quer ajudar a promover jovens cientistas.
A Tencent está sediando a conferência anual WE, na qual profissionais chineses e estrangeiros dos campos da Ciência e da Tecnologia compartilham de suas ideias.
O site da conferência Tencent WE 2017 afirma que nos últimos quatro anos, 45 cientistas de todo o mundo apareceram no cenário da WE. Suas experiências variam desde a exploração espacial, as ciências biológicas até a inteligência artificial (IA).
Ming Zhu, comentarista político em Nova York, observou que o regime chinês dá boas vindas a várias conferências internacionais a serem realizadas na China por seus próprios motivos ulteriores. Estas conferências são uma plataforma em que o PCC pode coletar informação e ideias relevantes dos discursos pronunciados por cientistas estrangeiros de alto nível. Tais conferências também permitem que o regime chinês detecte as empresas tecnológicas que poderiam ter alguma serventia para sua agenda, e então dar tempo às empresas chinesas para se prepararem para uma ofensiva.
Por exemplo, em 2015, a Satellogic, empresa argentina de satélites, participou da conferência WE. A Tencent, mais tarde, investiu na Satellogic em junho de 2017. Nesse mês, a Satellogic lançou seu sexto micro-satélite na cidade de Jiuquan, na China, transportado pelo foguete portador chinês Long March-4B (Chang Zheng-4B).
Em 2014, Robert Richards, cofundador da Silicon Valley think tank Singularity University, juntou-se à conferência WE e apresentou sua nova empresa, a Moon Express, uma empresa de transporte espacial. A Tencent também investiu mais tarde nela.
As empresas chinesas devem servir à estratégia do Partido
O PCC apoia as empresas chinesas em seus investimentos ultramarinos. Entretanto, seu apoio se limita a investimentos de alta tecnologia úteis aos objetivos estratégicas do PCC. Quanto às empresas chinesas que tentam investir em outras empresas no exterior, elas são submetidas a uma estrita regulamentação pelas autoridades chinesas.
No ano passado, o PCC reforçou sua regulamentação sobre os investimentos estrangeiros feitos pelas empresas chinesas. Em uma declaração emitida em 18 de agosto pelo Conselho de Estado, Pequim encorajou as empresas chinesas a investirem em empresas manufatureiras de alta tecnologia e fabricação avançada, bem como a estabelecer centros de I e D no exterior.
O mesmo comunicado também aconselhou as empresas a limitarem seus investimentos no exterior em imóveis, hotéis e indústria do entretenimento. No ano passado, o Grupo Wanda da China, que tinha investido amplamente nestas indústrias — inclusive com a compra da rede norte-americana de cinemas American Cinema Chain (AMC) foi severamente penalizada por Pequim. A empresa então procurou vender muitas de suas aquisições imobiliárias em Los Angeles, Chicago, Reino Unido e Austrália.
Em meio a problemas da empresa, o presidente do Grupo Wanda, Wang Jianlin, teve que declarar abertamente que sua empresa vai se concentrar em investimentos nacionais a partir de agora, em uma entrevista feita em julho de 2017 com a Caixin, uma revista chinesa de negócios.
Ming Zhu comentou que, sob o regime comunista chinês, as empresas privadas não são verdadeiramente privadas e não podem tomar suas próprias decisões. Pequim regula os ativos do setor privado, estabelecendo regras para eles.