Sujeira do ex-chefe da segurança pública da China é revelada pela mídia estatal

Um sinal claro de sua queda do poder; a mídia estatal chinesa informou os ganhos ilícitos da família de Luo Gan

13/02/2018 18:59 Atualizado: 13/02/2018 18:59

Por Annie Wu, Epoch Times

Os rumores sobre o ex-chefe da segurança pública da China, Luo Gan, usando sua influência política para beneficiar sua família há muito tempo circulam na internet chinesa.

Mas com a publicação de uma exposição recente sobre os negócios ilícitos de Luo Shaoyu, o sobrinho de Luo Gan, os segredos da família Luo estão sendo revelados.

O fato de que as autoridades chinesas – que estão sempre prontas para censurar qualquer coisa que não gostam, especialmente quando diz respeito aos membros do Partido Comunista Chinês – não terem removido de circulação a história também sinaliza que a posição de Luo Gan dentro do Partido está realmente esmaecendo, apesar do seu status como um quadro sênior.

Dengshenxian, um periódico online chinês com foco em reportagens detalhadas de negócios, publicou uma história em 27 de novembro do ano passado, detalhando como a Dongyin, uma empresa de Luo Shaoyu baseada em Chongqing, e suas subsidiárias acumularam dezenas de bilhões de yuanes (um bilhão de yuanes equivale a US$ 158 milhões) em empréstimos vencidos, distribuídos entre mais de 30 bancos e instituições financeiras.

Nuvens negras se acumulam nos céus de Chongqing em 23 de agosto de 2007 (China Photos/Getty Images)
Nuvens negras se acumulam nos céus de Chongqing em 23 de agosto de 2007 (China Photos/Getty Images)

Enquanto isso, Luo Shaoyu e sua família, incluindo sua mãe, pai e irmã mais nova, criaram dezenas de empresas offshore, enquanto se sentavam no conselho administrativo ou participavam como grandes acionistas de várias empresas de Hong Kong.

Negócios da família Luo

De acordo com a lista da Forbes das pessoas mais ricas da China em 2017, a família de Luo Shaoyu estava classificada na 223ª posição com 9,25 bilhões de yuanes (US$ 1,46 bilhão) em ativos.

O artigo não mencionou as conexões de Luo Shaoyu com Luo Gan, mas ao examinar reportagens anteriores da mídia, o Epoch Times confirmou a conexão familiar de Luo Shaoyu com o poderoso político chinês.

Reportagens anteriores em língua chinesa da China continental e do exterior explicaram como Luo Shaoyu usou a posição de seu poderoso tio em benefício de suas empresas. Em 1997, Luo Shaoyu e sua mãe estabeleceram a Zhongqi, uma empresa que fabrica carros blindados e viaturas policiais.

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Logo depois, Luo Gan tornou-se chefe do aparato de segurança do país, como secretário do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL). Assim, ele assegurou que os veículos da empresa do sobrinho fossem comprados pelo Estado.

Em 1998, Luo Shaoyu definiu ambições mais altas. Ele abriu o caminho para a aquisição da Jiangdong, uma empresa estatal que fabrica peças para motores, primeiramente firmando uma parceria com a Jiangdong para formar uma empresa holding de investimentos, a Dongyin. Ele então transferiu todas as ações da Dongyin para sua empresa familiar, a Zhongqi.

Vários anos depois, em 2002, por meio das conexões de seu tio, ele persuadiu com sucesso as autoridades da cidade de Yancheng responsáveis ​​pela gestão dos ativos estatais a aprovarem a aquisição da Jiangdong pela Dongyin (Jiangdong tem sede em Yancheng). Desta forma, Luo Shaoyu adquiriu uma empresa de vários bilhões de yuanes sem gastar um único centavo.

Crimes mais sombrios de Luo Gan

Luo Gan ascendeu nas fileiras políticas quando o ex-líder chinês Jiang Zemin estava no poder como secretário-geral do Partido Comunista. Quando Jiang Zemin lançou uma campanha nacional em 1999 para perseguir os adeptos da disciplina espiritual do Falun Gong, Luo Gan foi fundamental na mobilização das forças de aplicação da lei do país para rastrear, deter, prender e torturar os praticantes do Falun Gong. Ele ajudou Jiang Zemin a estabelecer uma organização extralegal do Partido Comunista semelhante à Gestapo nazista, chamada “Agência 610”, dedicada especificamente a perseguir o Falun Gong. Luo Gan demonstrou sua lealdade política sem questionamentos, e foi recompensado com uma nomeação para o órgão decisório mais poderoso do Partido Comunista, o Comitê Permanente do Politburo.

Jiang Zemin e Luo Gan viram a popularidade do Falun Gong, que as estimativas oficiais afirmaram ter entre 70 e 100 milhões de adeptos até 1999, como uma ameaça ao controle do Partido Comunista sobre a sociedade. Luo Gan organizou investigações secretas, a partir de em 1996, infiltrando parques e espaços públicos em todo o país para coletar as identidades e endereços dos adeptos que frequentavam esses locais. O próprio Falun Gong é conhecido por não manter listas das pessoas que o praticam.

Quando adeptos do Falun Gong decidiram coletivamente apelar às autoridades centrais em 25 de abril de 1999 pela libertação de vários praticantes presos pouco antes, foi Luo Gan quem instruiu à polícia que guiasse os praticantes reunidos para se alinharem ao lado de Zhongnanhai, o complexo da liderança do Partido Comunista em Pequim, de acordo com Ethan Gutmann, autor do livro investigativo “O Massacre: assassinato em massa, extração forçada de órgãos e a solução secreta da China para o seu problema de dissidência” (tradução livre do título).

Praticantes do Falun Gong se reúnem ao redor de Zhongnanhai, o complexo da liderança do Partido Comunista Chinês em Pequim, em 25 de abril de 1999 (Cortesia do Clearwisdom.net)
Praticantes do Falun Gong se reúnem ao redor de Zhongnanhai, o complexo da liderança do Partido Comunista Chinês em Pequim, em 25 de abril de 1999 (Cortesia do Clearwisdom.net)

As imagens resultantes de adeptos formando várias filas nas calçadas opostas a Zhongnanhai tornaram-se parte da estratégia do Partido Comunista para espalhar propaganda falsa que os praticantes do Falun Gong desejavam derrubar a regime do Partido.

Em 23 de janeiro de 2001, Luo Gan encenou outro incidente para difamar os praticantes. Alguns homens e mulheres que a mídia estatal chinesa alegou serem praticantes do Falun Gong simularam uma autoimolação pública na Praça da Paz Celestial. Reportagem do Washington Post revelou que uma das mulheres sequer era uma praticante. Um documentário premiado, “Fogo Falso“, analisou a filmagem da mídia estatal e demonstrou discrepâncias que revelam que a coisa toda foi orquestrada para manipular a opinião pública contra os adeptos do Falun Gong.

Gutmann estima que, em qualquer momento, entre 450 mil e um milhão de praticantes do Falun Gong têm sido mantidos em campos de trabalho forçado, prisões e outros centros de detenção de longo prazo na China. Estima-se que milhares tenham morrido devido à tortura, de acordo com o Centro de Informação do Falun Dafa.

Outro relatório de investigação de 2016, “Colheita Sangrenta/O Massacre: Uma Atualização“, estima que, desde 2000, os hospitais da China realizaram entre 60 mil e 100 mil transplantes de órgãos por ano, sendo a maioria desses órgãos provenientes de praticantes do Falun Gong detidos arbitrariamente.

Tribunais na Espanha e na Argentina já acusaram Jiang Zemin e Luo Gan de genocídio. Este último país emitiu um mandado de prisão internacional para ambos os homens.

Mesmo depois que Jiang Zemin deixou formalmente a sua posição como chefe do Partido Comunista Chinês em 2002, ele e sua facção continuaram a influenciar e controlar o regime por trás dos bastidores. Após a transição da liderança do regime em 2012 para Xi Jinping como chefe do Partido Comunista, Xi Jinping mostrou-se cauteloso com os membros do Partido leais a Jiang Zemin, que constituíram uma poderosa oposição. Xi Jinping então iniciou uma campanha anticorrupção para purgá-los.

Quando Zhou Yongkang, um membro da facção de Jiang Zemin e sucessor de Luo Gan na posição de chefe da segurança pública, foi submetido à investigação por suborno, as reportagens da mídia chinesa deixaram emergir como as famílias de Zhou Yongkang e Luo Gan se beneficiaram tremendamente com acordos de mineração. Uma vez, eles tentaram apropriar-se de uma mina de molibdenita na cidade de Luoyang, na província de Henan, no valor de 470 bilhões de yuanes.

China, Partido Comunista Chinês, crime organizado, repressão, campanha anticorrupção, Zhou Yongkang, Jiang Zemin, gangues - Antes de sua sentença de prisão perpétua por corrupção, Zhou Yongkang participa da sessão de abertura do Congresso Popular Nacional do Partido Comunista Chinês em 5 de março de 2012 (Liu Jin/AFP/Getty Images)
Antes de sua sentença de prisão perpétua por corrupção, Zhou Yongkang participa da sessão de abertura do Congresso Popular Nacional do Partido Comunista Chinês em 5 de março de 2012 (Liu Jin/AFP/Getty Images)

No 19º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, em outubro de 2017, um importante encontro político quando Xi Jinping consolidou seu poder dentro do Partido, Luo Gan não esteve presente na cerimônia de abertura, além de outros quadros seniores. Rumores logo circularam que ele adoeceu, ou que ele estava sendo punido por suas faltas.

Seja qual for o motivo, esta última onda de más notícias sobre a família Luo mostra que Luo Gan e a facção que ele pertence realmente caíram da graça do regime.

Colaborou: Fang Xiao