Por Frank Fang
Nos últimos anos, diplomatas do regime chinês foram rotulados com o apelido de “guerreiros lobos” por sua retórica beligerante dirigida a seus homólogos estrangeiros.
Embora este rótulo seja relativamente novo, os comportamentos polêmicos em questão firmam suas raízes há décadas, segundo um autor sobre o tema.
“Esse tipo de espírito de luta está no DNA do Ministério das Relações Exteriores desde o início”, afirmou Peter Martin, durante um evento online organizado pela Universidade de Montana em 20 de outubro para discutir seu livro “China’s Civilian Army: The Making of Wolf Warrior Diplomacy” (Exército Civil chines: Criando a Diplomacia dos Guerreiros Lobos).
Martin, que é atualmente repórter de inteligência e política de defesa da Bloomberg, afirmou que seu livro é baseado em entrevistas e mais de 100 autobiografias de ex-diplomatas chineses.
Os comportamentos de luta, segundo Martin, começaram com o primeiro diplomata do regime comunista, Zhou Enlai, que decidiu que os diplomatas chineses deveriam “pensar e agir como o Exército Popular de Libertação em roupas civis”.
“O que ele quis dizer com isso é que os diplomatas chineses devem ser infalivelmente leais ao Partido Comunista”, declarou.
Zhou foi o primeiro Ministro das Relações Exteriores e primeiro-ministro da China em 1949, ano em que o Partido Comunista Chinês (PCC) assumiu o controle do país. A serviço do então líder Mao Tsé-Tung, Zhou encerrou sua carreira como principal diplomata da China em 1958, mas permaneceu como primeiro-ministro até sua morte em janeiro de 1976.
“Quando diplomatas chineses se sentiam encurralados, ou estavam preocupados em parecer fracos em seu país, isso significava levantar até mesmo o menor dos desprezos ou insultos à questões internacionais importantes, em grande parte, acredito que por medo de que, se não o fizessem, seriam julgados como desleais em seu país”, afirmou Martin.
“Então, esse tipo de abordagem levou ao que agora chamamos de demonstração da diplomacia dos guerreiros lobos”, acrescentou.
Houve vários incidentes no ano passado em que a diplomacia chinesa dos lobos guerreiros veio à tona.
Em outubro do ano passado, dois diplomatas chineses invadiram uma recepção da missão diplomática taiwanesa em Fiji, desencadeando um confronto físico que deixou um oficial taiwanês com um ferimento na cabeça.
Em março, diplomatas chineses repreenderam o secretário de Estado Antony Blinken e o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca Jake Sullivan em um discurso antiamericano, durante uma reunião entre os dois países no Alasca.
Recentemente a organização Repórteres Sem Fronteiras pediu ao embaixador chinês na França, Lu Shaye, que em junho declarou à mídia estatal chinesa que estava “orgulhoso” de ser chamado de “lobo guerreiro”, para “pôr fim aos seus atrevimentos apaixonados contra os meios de comunicação [franceses]”.
“Os enviados chineses se comportam de forma pouco diplomática porque são incapazes de se libertar das limitações de um sistema político hermético e paranóico que recompensa lealdade inquestionável e convicção ideológica”, escreveu Martin em seu livro.
Lobos Guerreiros
Uma das diferenças entre o passado e o presente é que os diplomatas chineses agora têm acesso ao Twitter, relatou Martin, permitindo que os diplomatas chineses destinados à países menos desenvolvidos “mostrem [suas] credenciais” a seus “chefes na China”.
“Diplomatas chineses agora têm acesso a esta plataforma [Twitter] onde podem lutar com pessoas que criticam a China, ou em alguns casos até recorrer a insultos, e podem mostrar que também estão a bordo deste projeto”, afirmou Martin.
As autoridades chinesas usaram o Twitter para defender o discurso de Pequim sobre a pandemia da COVID-19. Em março do ano passado, Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, sugeriu em um tweet que foram os militares dos EUA que “trouxeram a epidemia para Wuhan”, cidade chinesa que foi o epicentro original do vírus do PCC, comumente conhecido como o novo coronavírus que causa a COVID-19.
Também em março, a embaixada chinesa em Caracas criticou no Twitter autoridades venezuelanas não identificadas por se referirem ao vírus como “da China” ou “de Wuhan”, dizendo-lhes para “colocarem máscaras e ficarem quietos”.
Olhando para trás, Martin relatou que o termo “guerreiro lobo” pode remontar a algum momento entre 2015 e 2017. Durante este período, os diplomatas chineses provavelmente decidiram que não havia problemas em agir de forma “descarada internacionalmente”, após fazerem a suposição de que a China “não precisa mais mostrar ao mundo exterior o tipo de cautela e defesa que costumava”, segundo Martin.
Coincidentemente, 2015 marcou a estreia do primeiro dos dois filmes ultranacionalistas chineses da franquia “Lobo Guerreiro”. Os dois filmes mostram um soldado chinês como herói, lutando contra mercenários estrangeiros na fronteira sul da China e na África. O segundo filme foi lançado em 2017.
“A mídia estrangeira começou a usar a frase ‘diplomacia do guerreiro lobo’ para descrever suas ações, e é um nome que pegou”, acrescentou.
Mais adiante, Martin afirmou que essa forma de diplomacia veio para ficar, já que o regime chinês “mudou de ideia sobre a maneira como deve agir para ganhar respeito no mundo”.
“Agora ele parece pensar que ao invés de persuasão, pode contar com o tamanho de sua economia e o poder de seus militares para impor respeito, e então a ‘diplomacia do guerreiro lobo’ está, de alguma forma, embrulhada nesse pacote.”
Entre para nosso canal do Telegram
Assista também: