Ser um repórter na China envolve riscos reais

05/02/2018 23:28 Atualizado: 05/02/2018 23:28

Um incidente recente que capturou a atenção da mídia chinesa destacou os perigos que os jornalistas na China enfrentam durante o trabalho.

De acordo com uma reportagem publicada pelo portal de notícias Beijing Time em 1º de fevereiro, dois repórteres, identificados apenas como Chen e Li, de uma estação de televisão na província de Hebei, estavam trabalhando incognitamente para investigar uma fábrica, localizada num vilarejo no condado de Quzhou, suspeita de poluir irresponsavelmente a área.

Quando eles entraram na área da fábrica em 25 de janeiro, oito pessoas subitamente cercaram os repórteres e começaram a espancá-los. Os suspeitos também levaram suas câmeras, celulares e carteiras. Um dos repórteres foi amarrado e ameaçado. Um suspeito disse ao repórter que ele seria jogado num poço e afogado. Foi apenas quando o repórter disse “Se você me matar, você também terá problemas”, que o agressor recuou.

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Desde o episódio, a polícia de Quzhou já deteve os suspeitos. O proprietário da fábrica também foi detido. Quando a polícia recuperou as câmeras dos repórteres, eles descobriram que suas filmagens já haviam sido apagadas.

Os repórteres foram enviados a um hospital local para tratar seus ferimentos.

O Beijing Time soube que a fábrica de fato operava sem uma licença adequada e não tinha um sistema apropriado instalado para lidar com seus resíduos industriais.

A fábrica tinha uma sinalização na entrada da instalação indicando que era uma cooperativa para criação de cabras. Mas na verdade a fábrica fazia pintura industrial com spray em quadros de bicicletas, peças de computador e outros itens. Ela esteve em operação por dois meses. Após a violência contra os jornalistas, as autoridades locais demoliram a fábrica.

China, repórter, jornalismo, risco de morte, violência, liberdade de imprensa, censura - Um jornalista filma um mapa de Pequim e da província de Hebei em 22 de outubro de 2017 (Wang Zhao/AFP/Getty Images)
Um jornalista filma um mapa de Pequim e da província de Hebei em 22 de outubro de 2017 (Wang Zhao/AFP/Getty Images)

Os repórteres na China frequentemente correm o risco deste tipo de violência ao fazerem seu trabalho. No início deste mês, a mídia chinesa revelou que um repórter de televisão da província de Shanxi foi espancado quando cobria um hospital suspeito de cobrar taxas exorbitantes de familiares de pacientes falecidos que desejavam recuperar seus corpos do necrotério para enterrá-los. Quando o repórter chegou ao hospital, cerca de uma dúzia de homens jovens avançaram em sua direção e começaram a espancá-lo. Ele foi então jogado no necrotério hospitalar onde ficou preso por cerca de 20 minutos antes que os agressores o deixassem ir embora.

Em 2011, o repórter Li Xiang, na cidade de Luoyang, província de Henan, estava investigando o uso de óleo de esgoto (óleo reciclado a partir de resíduos que é usado para cozinhar) por negócios locais. Enquanto estava a caminho de casa em setembro, ele foi atacado e esfaqueado várias vezes. Ele morreu devido aos ferimentos. As autoridades alegaram que foi uma tentativa de assalto fracassada, mas os observadores suspeitaram que houvesse um motivo oculto ou segundas intenções por trás do assassinato.

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