Em meio às tensões na Península Coreana, os dois principais apoiadores da Coreia do Norte, a Rússia e a China, lançaram uma série de exercícios conjuntos de defesa aérea que poderiam significar uma mensagem aos Estados Unidos e à Coreia do Norte.
O Ministério da Defesa Nacional da China disse que os exercícios ajudarão a China e a Rússia a fortalecerem a cooperação em defesa aérea e antimíssil, informou a Xinhua, uma mídia estatal porta-voz do regime chinês.
Os exercícios antimísseis, realizados de 11 a 16 de dezembro em Pequim, são baseados em simulações de computador, informou Wu Qian, porta-voz do ministério, a repórteres.
Segundo Wu Qian, os exercícios ajudarão os dois países a lidar com um súbito ataque de mísseis balísticos ou de cruzeiro dentro de seus territórios.
Mas enquanto o porta-voz disse que os exercícios não são direcionados a terceiros, eles de fato enviam uma mensagem, de acordo com um especialista.
O professor Carl Schuster, capitão aposentada da Marinha dos Estados Unidos e que agora leciona na Universidade do Havaí-Pacífico, diz que os exercícios fazem parte de uma nova era de cooperação militar entre os dois países e servem três propósitos.
“Um, é claro, diz respeito à postura política. O outro é enviar um aviso: ‘Temos forças lá, elas estão prontas para agir e estão melhorando.’ Com uma sugestão não tão sutil que indica, ‘Vocês não podem ignorar nossa presença e nossos interesses.’”
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“Eles sabem que as tensões estão aumentando”, acrescentou Schuster. “Eles querem que a Coreia do Norte e os Estados Unidos saibam que eles têm interesse nos resultados e na situação, e que não podem e não devem ser ignorados.”
O terceiro objetivo dos exercícios é que a Rússia e a China avaliem sua gama de opções, uma das quais é a intervenção militar, e verifiquem se estão prontos e conscientes de tudo o que precisam fazer ou identifiquem o que pode estar faltando se uma ação militar for necessária.
Os exercícios também treinam as forças russas e chinesas para cooperarem melhor, disse Schuster.
É o segundo dessa série de exercícios. Conhecido como Segurança Aeroespacial Antibalística Russo-Chinesa 2017, ou um exercício de defesa militar de mísseis em ambiente computadorizado, a mobilização deste ano se concentra principalmente em repelir mísseis e na cooperação militar, de acordo com os militares russos.
Os exercícios ocorrem num clima de relações moderadas entre os dois países após um período de amor-e-ódio que se seguiu à fundação do Partido Comunista Chinês há 100 anos com o patrocínio da União Soviética.
Desde então, os dois países foram tanto aliados como inimigos militares, lutando em guerras lado a lado e entre si.
Ultimamente, os dois países realizaram mais exercícios militares conjuntos.
O ministro da defesa da Rússia diz que o desenvolvimento da parceria estratégica com a China é “uma prioridade absoluta“.
O general russo Sergei Shoigu fez essa declaração durante diálogos em Moscou com o coronel-general Zhang Youxia, vice-presidente do Comitê Militar Central da China, em 8 de dezembro.
Essa prioridade emerge de uma das poucas coisas que a Rússia e a China estão totalmente alinhadas: sua objeção mútua ao domínio dos Estados Unidos.
“Eles têm um interesse comum em restringir e reduzir a influência dos EUA”, disse Schuster.
A grande influência dos Estados Unidos em muitos processos e instituições internacionais deixa a Rússia e a China sentindo-se reprimidas, disse Schuster.
Um exemplo no caso da China são suas reivindicações territoriais no Mar do Sul da China, que se estendem muito além dos limites territoriais definidos no direito internacional estabelecido.
No caso da Rússia, a liderança de Putin se opõe à obstrução dos Estados Unidos e da União Europeia em seus esforços na Ucrânia, onde a Rússia anexou a Península da Crimeia e apoia forças antigoverno na Ucrânia Oriental.
Mas sua cooperação é temperada por uma história de competição, sendo a Coreia do Norte um exemplo.
O atual regime norte-coreano é resultado do apoio soviético. Durante a era de Mao Tsé-tung, a China apoiou um líder norte-coreano alternativo, mas o Partido Comunista Chinês relativamente empobrecido na época não tinha os recursos para bancar sua predileção ou escolha, disse Schuster.
“A maior parte da sua cooperação é tática. Eles não confiam um no outro inteiramente”, afirmou Schuster.