Por Daniel Holl, Epoch Times
O recuo do gelo polar está abrindo caminho para o transporte marítimo através do Oceano Ártico, e a China já está de olho na região para uma eventual conquista econômica e militar. Os chineses anunciaram em janeiro do ano passado seu plano para uma “Rota Polar da Seda”, na qual promoverão o transporte através da região do Ártico e desenvolverão uma infraestrutura semelhante à iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” (OBOR, na sigla em inglês).
A China usa a iniciativa OBOR como uma armadilha de endividamento, investindo pesadamente nas áreas mais pobres para criar dívidas que não podem ser pagas financeiramente, e como saída se negociam os ativos estratégicos. Desta forma, os chineses dominam regiões estratégicas, como o porto em Sri Lanka. O Quênia também aceitou esta oferta, o que causou preocupação entre a população local, e a Malásia já desistiu de um investimento similar com o gigante asiático.
Os chineses estão usando uma abordagem semelhante com o Canadá. De acordo com um artigo da Canadian Broadcasting Company, a China está se utilizando de uma empresa pública para tentar comprar uma grande empresa canadense de construção. A aquisição da construtora Aecon foi bloqueada pelo governo canadense. Aecon é responsável por vários edifícios emblemáticos no Canadá, incluindo a CN Tower.
No entanto, empresas públicas e privadas chinesas adquiriram recursos naturais canadenses, imóveis, empresas de comunicação e de alta tecnologia, de acordo com o artigo da CBC.
Só quebrando o gelo?
A China espera recuperar o passo no Oceano Ártico. Esta é uma rota comercial viável para muitas nações, especialmente as nações do norte da Europa e da Ásia. Os chineses também podem aproveitar essa oportunidade comercial para estabelecerem uma presença militar na região norte.
Em janeiro, a China publicou um documento descrevendo seus planos para a região, dizendo que isso contribuirá para o desenvolvimento. Apesar da distância entre a China e o Círculo Polar Ártico, o gigante asiático agora se autodefine como uma “potência próxima ao Ártico”.
Elizabeth Wishnick, professora de Ciências Políticas na Montclair State University e pesquisadora do East Asia Institute Weatherhead, na Universidade de Columbia, enumerou os objetivos dos chineses no extremo norte. O relatório de 2017 descreve as estratégias e implicações dos objetivos chineses na perspectiva dos Estados Unidos.
“Dra. Wishnick salienta que a China está jogando um jogo de longo prazo no Ártico e está habilmente se associando a uma ampla diversidade de parceiros na região para garantir que o gigante asiático tenha voz nas questões do Ártico no futuro”, diz o documento.
Wishnick compara a China a um “agente imobiliário especialista” porque ela está considerando as regiões nórdicas como locais de crescimento potencial. “Os chineses se comprometeram com as áreas economicamente mais vulneráveis, como a Islândia e a Groenlândia, obtendo sua boa vontade e uma posição que lhe permite aproveitar as oportunidades que se apresentam”.
A Groenlândia seria uma grande conquista para o PCC, já que os Estados Unidos recentemente entraram em desacordo com o país por causa da Base Aérea de Thule. O regime chinês espera se aproximar da Groenlândia após esse desentendimento com os Estados Unidos.
“Também vemos que as empresas chinesas e o regime chinês perseguem no Ártico os objetivos de desenvolvimento de infraestrutura e extração de recursos, fundamentais para a iniciativa chinesa ‘Um Cinturão, uma Rota’ na Ásia Central, Meridional e no sul da Europa”, diz Wishnick.
É possível que a China já tenha concretizado seu plano para o Oceano Ártico no Mar do Sul da China. O gigante asiático invadiu disfarçadamente as áreas disputadas, estabeleceu infraestrutura e evitou conflitos. “Isso implica na expansão das capacidades militares e econômicas chinesas, no avanço gradual dos interesses chineses e na defesa da sua soberania, ao mesmo tempo evitando confrontos”, diz Wishnick.
Os chineses continuam aplicando uma política unilateral de acesso a essas áreas. “O trânsito de navios da marinha chinesa na [zona econômica exclusiva] dos Estados Unidos no estreito de Bering, em setembro de 2015, pareceu indicar a especialistas norte-americanos que a China aceitou o princípio da liberdade de navegação, que as autoridades chinesas haviam rejeitado em referência ao trânsito de navios da marinha norte-americana em áreas que a China diz estarem em suas águas territoriais no Mar do Sul”, disse Wishnick.
A ponta do iceberg
A China participa do Conselho do Ártico, única instituição de governança da região, como observador. “A China continuará defendendo que o fórum leve em conta os interesses legítimos dos Estados não-árticos e os interesses comuns da comunidade internacional”, diz Wishnick.
Também poderá haver influência militar. O relatório de Wishnick cita o analista Yang Zhirong, do Instituto de Pesquisa Naval de Pequim. “O acesso ao Ártico permitirá à China escapar da pressão do Ocidente e se destacar no cenário mundial”. O instituto pertence à Marinha do Exército Popular de Libertação.
Um estudo recente também sugere que a China pode estar planejando a fabricação de submarinos adequados para operar no Ártico. Pesquisadores chineses estão estudando como construir submarinos capazes de emergir rompendo as camadas de gelo.
Os chineses também estão formando uma parceria com a Rússia no setor de energia. Embora os russos possam não estar buscando uma aliança militar, já abriram novas rotas comerciais com a China. Os dois países já realizaram exercícios navais no Mar Báltico e no Mar Negro.