Reunião de emergência em Pequim sinaliza intensificação da campanha política de Xi Jinping

10/08/2017 13:34 Atualizado: 10/08/2017 13:34

Dias antes de a cúpula do partido e de líderes aposentados do regime chinês se dirigirem a Beidaihe para desfrutar do resort e discutir acordos políticos, centenas de líderes de todo o país foram convocados a Pequim para uma reunião de emergência em um hotel que costuma hospedar conferências políticas.

De 26 a 27 de julho, cerca de 300 generais, líderes de província e anciões do partido se reuniram no Jingxi, hotel de segurança máxima, para estudar um discurso de Xi Jinping.

Xiakedao, perfil oficial no WeChat da versão internacional do jornal People’s Daily, considerou essa reunião como “a reunião mais importante da alta cúpula, antes do 19º Congresso”. A manchete do artigo diz: “Grandes coisas finalmente aconteceram”.

Xi Jinping dá uma palestra na conferência de dois dias em 26 ou 27 de julho (Reprodução/Sina)
Xi Jinping dá uma palestra na conferência de dois dias em 26 ou 27 de julho (Reprodução/Sina)

Em seu discurso, Xi Jinping compilou vários feitos alcançados nos últimos cinco anos e ponderou sobre os principais perigos nos setores econômico, político e social. Segundo Xiakedao, o presidente Xi disse que “lidamos com muitos desafios que estavam há muito tempo sem solução e estabelecemos legados que perdurarão por muito tempo”.

É praxe a elite política se reunir para dar o tom do próximo congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que escolherá o novo grupo que liderará pelos próximos cinco anos. Contudo, a reunião desse ano foi particularmente reservada. Fotos tiradas pela China Central Television, emissora estatal de televisão, revela um grupo solene de líderes políticos de pé, atrás de uma mesa perfeitamente limpa na qual estão ausentes cadernos, canetas ou, até mesmo, copos de água – um contraste gritante com a cena típica de tomada de notas frenética.

De acordo com Ming Chu-cheng, chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade Nacional de Taiwan, a última vez que uma reunião secreta do partido aconteceu sobre circunstâncias similares foi logo após a morte de Lin Biao, o principal comandante militar da China e nomeado como sucessor de Mao Zedong, em um acidente de avião ao fugir para a União Soviética.

Hu Ping, editor-chefe da revista Beijing Spring, acredita que Xi Jinping convocou a conferência para consolidar ainda mais o seu poder. Ele observa que a realização da reunião aconteceu pouco tempo depois do expurgo de Sun Zhengcai, proeminente líder da cidade de Chongqing, em 24 de julho.

Xi Jinping, afirmou Hu, pode ter desejado dar alguma explicação para a recente reorganização política e reunir o partido em torno dele.

Sun Zhengcai era o membro mais jovem do Politburo e comandou o município de Chongqing, no sudoeste da China. A história de Lin Biao se repete, indicavam Sun como o candidato mais promissor para suceder a Xi como líder do PCC, antes de destituírem-no repentinamente de seu cargo, em 15 de julho. Em pouco mais de uma semana, ele foi investigado por corrupção.

Especialistas em China entendem a expulsão de Sun como uma manobra de Xi para assegurar o seu poder, como fica claro pela quantidade de membros do partido que imediatamente demonstraram sua lealdade ao PCC, após a queda de Sun.

Todos precisam deixar claro seu posicionamento”, disse Hu Ping.

No dia seguinte à reunião, Hu Chunhua, o Secretário de Província do Partido da Província de Guangdong, sul da China, e outro possível sucessor, também manifestou o seu apoio à liderança de Xi Jinping. Declarações similares também foram dadas, após a queda de dois aliados importantes de Jiang Zemin – ex-líder do PCC – Bo Xilai e Zhou Yongkang, em meio à campanha anticorrupção do Governo Xi Jinping.

Bo, o desgraçado líder do partido da região de Chongqing, e Zhou, ex-chefe da segurança nacional do governo chinês, foram condenados à prisão perpétua em 2013 e 2015, respectivamente.

O People’s Daily e a Xinhua, duas grandes agências estatais de notícia, publicaram duas notas enfatizando “tolerância zero” à corrupção e com “membros notáveis do partido”.

Independentemente da posição, experiência ou conquistas, ninguém está livre de ser investigado ou punido por violar a lei e as regras do partido”, dizia uma das notas. “Ninguém deveria tentar a sorte.”

Zang Shan, jornalista experiente radicado em Hong Kong, acredita que o momento da reunião em Jingxi, pouco tempo antes do congresso em Beidaihe, é sinal de problemas para os anciões do partido rivais a Xi que ainda estão agindo livremente. “Não é inconcebível que Xi Jinping irá adotar algumas medidas contra Zeng Qinghong ou Jiang Zemin”, contou Zang ao Epoch Times. “Algo acontecerá nas próximas duas ou três semanas.”

O local em que ocorreu a reunião também é digno de nota. Ao contrário dos anos anteriores, quando conferências similares normalmente aconteceram na Escola Partidária do Comitê Central, para essa Xi escolheu o hotel Jingxi, que é fortemente vigiado, local reservado exclusivamente para as conferências políticas da alta cúpula.

A Escola Partidária, enquanto isso, é comandada por Liu Yunshan, aliado de Jiang Zemin, e, junto com Xi Jinping, membro do Comitê Permanente do Politburo, composto por sete homens.

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