Resgatando conceitos de arquitetura e urbanismo da antiga China

24/06/2017 06:30 Atualizado: 24/06/2017 14:55

“A China [antiga] possui uma cultura desconhecida por nós, que está muito a frente de nós do Ocidente”. Essa é uma declaração feita pelo professor Albert Speer, um reconhecido arquiteto e urbanista alemão. Os comentários vieram durante sua apresentação sobre arquitetura e urbanismo na Câmara do Comércio e Indústria de Frankfurt em 2009. O tema foi “Reflexões sobre o desenvolvimento das cidades da China”.

Ele chamou o desenvolvimento da antiga China de “completamente inesperado e fascinante” mediante seus dados históricos e descobertas arqueológicas. Ele comparou a disposição dos soldados de terracota à exatidão de comprimento e largura entre eles. Os guerreiros de terracota são conhecidos por conterem cromo, mineral que a ciência moderna diz ter sido descoberto pela primeira vez na Europa em 1920.

Uma cidade como símbolo de ordem cósmica e harmonia

Speer citou Confúcio que falou sobre a cidade como um símbolo de ordem e harmonia. As ideias do arquiteto circularam em torno do conceito chinês de se viver em “quadras”, que derivou de “li”, um quadrado que mede aproximadamente 400×400 metros. Em tempos antigos, cada cidade era cercada por um muro de proteção e portões que eram fechados todas as noites. Toda a cidade era baseada neste princípio de “quadras”, e era planejada em um eixo norte-sul definitivo em torno de uma via principal. De acordo com a tradição, o imperador era o único que podia olhar para o sul durante as grandes cerimônias enquanto que os súditos tinham que olhar para o norte, em direção ao imperador.

Planejamento Urbano Integral

Speer relatou que na China antiga existia uma regra prática para o urbanismo: a cidade é tão grande quanto à área que permite que seus habitantes sejam supridos de alimento e água a fim de manter a infraestrutura da cidade. Isto também é um princípio ecológico que deve ser reintroduzido dentro do planejamento moderno das cidades. Mas isto não ocorre nas megacidades modernas, que crescem sem planejamento. “Uma vez que você dirige duas horas de Pequim para Shanghai, você se vê em um ambiente medieval”, se referindo a falta de planejamento existem entre as duas cidades.

O primeiro imperador chinês, Qinshi Huangdi, desenvolveu o sistema de ruas unificadas, o que se tornou a base para o planejamento das cidades chinesas. Orientar-se por ângulos retos é realmente útil. Ele cita exemplos, como a cidade de Chang’na (Xi’an) e Pequim, e também faz referência a projetos antigos de Roma (Itália), Milet (Grécia) e Barcelona (Espanha), mostrando que este sistema funciona bem até hoje.

Urbanismo tipicamente alemão

A ordem veio de Shanghai para construir uma cidade planejada na região de Anting, com objetivo de abrigar trabalhares da indústria automobilística, incluindo a alemã Volkswagen. Na época, os chineses solicitaram uma cidade com um visual tipicamente alemão, ou pelo menos europeu. O desenvolvimento foi planejado para 50 mil pessoas, sem arranha-céus. Speer chama o projeto de “modesto”.

Anting, China (Gorilla Cool / Reprodução)
Anting, China (Gorilla Cool / Reprodução)

Mas por que a China está interessada no conhecimento europeu? Na superfície é porque existe prestígio associado às estruturas projetadas no estilo europeu. Entretanto, desde 1949, o regime comunista chinês vem sistematicamente acabando com a avançada cultura tradicional chinesa, que inclui conhecimentos inerentes a arquitetura e o urbanismo, assim esses conceitos precisam ser resgatados desde fora da China, como através de Speer, e isso certamente beneficiará a qualidade de vida da população chinesa.

Veja abaixo outras cidades com estilo europeu na China.

Réplica de arquitetura e urbanismo suéca, Sweden Town em Luodian, China (Gorilla Cool / Reprodução)
Réplica de arquitetura e urbanismo suéca, Sweden Town em Luodian, China (Gorilla Cool / Reprodução)
Réplica de arquitetura e urbanismo holandesa, Holland Village em Pudong, China (Gorilla Cool / Reprodução)
Réplica de arquitetura e urbanismo holandesa, Holland Village em Pudong, China (Gorilla Cool / Reprodução)
Réplica de arquitetura e urbanismo italiana, Florence Town em Tianjin, China (Gorilla Cool / Reprodução)
Réplica de arquitetura e urbanismo italiana, Florence Town em Tianjin, China (Gorilla Cool / Reprodução)
Réplica de arquitetura e urbanismo inglesa, London’s Tower Bridge em Suzhou, China (Gorilla Cool / Reprodução)
Réplica de arquitetura e urbanismo inglesa, London’s Tower Bridge em Suzhou, China (Gorilla Cool / Reprodução)
Réplica de arquitetura e urbanismo inglesa, James Town, China (Gorilla Cool / Reprodução)
Réplica de arquitetura e urbanismo inglesa, James Town, China (Gorilla Cool / Reprodução)