Relatório dos EUA: indústria de biotecnologia da China representa ameaça à segurança nacional

A biotecnologia é um dos vários setores tecnológicos que o regime chinês denominou "Indústria Estratégica Emergente" em planos econômicos como "Made in China 2025" e o 13º Plano Quinquenal

22/02/2019 20:17 Atualizado: 22/02/2019 20:17

Por Frank Fang, Epoch Times

Os dados clínicos e genéticos de cidadãos dos Estados Unidos obtidos por empresas chinesas de biotecnologia através de suas associações com instituições norte-americanas podem representar riscos à segurança nacional, de acordo com um relatório recentemente publicado pelo Congresso.

Os riscos decorrem do “duplo uso de informações de biotecnologia”, declarou a Comissão de Análise Econômica e de Segurança dos Estados Unidos e da China (USCC) em um relatório publicado em 14 de fevereiro. Por exemplo, análises genéticas e médicas usadas na indústria de biotecnologia para desenvolver tratamentos sob medida para pacientes “podem ser usadas para fins maliciosos nas mãos de um governo estrangeiro, como a China”.

Em uma situação hipotética, Estados estrangeiros como a China podem extorquir indivíduos mediante a ameaça de expor suas informações médicas embaraçosas, de acordo com o relatório. Em outra circunstância, o Estado estrangeiro pode usar informações sobre condições de saúde, como alergias, para realizar um ataque contra diplomatas, políticos, altos funcionários federais ou líderes militares, para “induzir uma reação alérgica ou um ferimento fatal”.

Assim como os registros médicos, os dados genéticos também podem ser explorados à medida que a pesquisa sobre as ligações entre traços genéticos e traços de personalidade se tornar mais avançada no futuro. Por exemplo, oficiais de inteligência estrangeiros, sabendo antecipadamente quais indivíduos têm marcadores genéticos como lealdade ou suscetibilidade a serem lisonjeados, podem saber como se aproveitar ou como extorquir essas pessoas.

Segundo o relatório, a indústria de biotecnologia da China cresceu rapidamente na última década, com um mercado estimado atualmente entre 30 e 40 bilhões de iuanes (entre 4,7 e 6,2 bilhões de dólares), em comparação com o mercado de biotecnologia dos Estados Unidos, de 118 bilhões de dólares.

“Como um elemento importante do crescimento biotecnológico da China, as empresas de biotecnologia chinesas estão usando empresas norte-americanas para adquirir tecnologias e dados que reforcem suas capacidades atuais por meio de uma variedade de canais”, diz o relatório.

Alguns desses canais incluem investimento estrangeiro direto, fusões e aquisições, capital de risco, parcerias corporativas e acadêmicas e o recrutamento de pesquisadores estrangeiros e chineses treinados nos Estados Unidos.

O relatório também alerta que “a indústria chinesa de biotecnologia também pode ter se beneficiado da extração ilegal de tecnologia estrangeira por meio de espionagem ou roubo de segredos comerciais”.

Um exemplo confirmado foi o caso de Zhang Weiqiang, um cidadão chinês que vive em Manhattan, Kansas, condenado em abril de 2018 a 10 anos de prisão por roubar amostras de sementes de arroz geneticamente modificadas de seu empregador Ventria Bioscience, com sede no Kansas. Zhang pretendia transferir as amostras de sementes para um instituto de pesquisa de cultivos na China. O caso de Zhang foi um dos 11 casos que ocorreram entre 2001 e 2017 envolvendo espionagem chinesa e roubo de segredos comerciais nos Estados Unidos identificados no relatório.

BGI

O relatório destaca um exemplo de como a China obteve dados dos Estados Unidos: através do BGI Group, um centro privado de sequenciamento do genoma com sede na cidade de Shenzhen, no sul da China, com subsidiárias como o BGI Genomics, que está listado na Bolsa de Valores de Shenzhen, e um instituto de pesquisa. O BGI era conhecido anteriormente como Instituto de Genômica de Pequim.

Em 2011, o BGI e a Universidade Davis da Califórnia anunciaram uma parceria na qual a empresa chinesa estabeleceria um centro de sequenciamento genético no campus da universidade em Sacramento. Nesse mesmo ano, o BGI e o Hospital Infantil da Califórnia também estabeleceram um centro sobre o genoma.

Em 2013, o BGI adquiriu a empresa norte-americana de sequenciamento Complete Genomics por US$ 117,6 bilhões, segundo o relatório.

“Ao coletar dados por meio de muitas iniciativas [parcerias com entidades dos Estados Unidos], o BGI pode estar acumulando um banco de dados genômico e de saúde de norte-americanos que é maior do que o obtido por meio de qualquer trabalho de pesquisa”, de acordo com o relatório.

Embora o BGI seja uma empresa privada, ele possui vínculos óbvios com o Partido Comunista Chinês (PCC). Em janeiro de 2018, a agência estatal chinesa Xinhua informou que Du Yutao, secretário do Partido Comunista no instituto de pesquisa do BGI, falou da importância de aprender e colocar em prática “o espírito por trás do 19º Congresso Nacional”, referindo-se ao evento de troca da liderança do Partido que ocorre a cada cinco anos.

Na China, empresas e organizações são obrigadas a incorporar os órgãos do Partido Comunista dentro de suas próprias estruturas para garantir que sigam a linha do PCC. Du falou na reunião do comitê do Partido no instituto BGI estabelecido para debater o discurso do líder chinês Xi Jinping no 19º Congresso Nacional realizado em outubro de 2017.

O BGI também recebeu apoio do Estado, incluindo em 2010 um empréstimo de 10 anos no valor de 1,5 bilhão de dólares do Banco de Desenvolvimento da China.

Segundo o buscador chinês Baidu, Du foi selecionado como representante provincial da província de Guangdong, no sul da China, para participar do 19º Congresso Nacional.

O relatório da USCC também alertou que o regime chinês possui leis que exigem que empresas privadas forneçam dados a qualquer momento.

Três leis aprovadas em 2015 — a Lei de Segurança Nacional, a Lei Anti-Terrorismo e a Lei de Cibersegurança de 2016 — foram amplamente dirigidas a empresas de Internet e telecomunicações, mas “seu amplo escopo não impede sua aplicação em um âmbito mais amplo de empresas, como as que possuem dados genômicos ou outros dados pessoais”, de acordo com o relatório da USCC.

Políticas de Estado da China

A biotecnologia é um dos vários setores tecnológicos que o regime chinês denominou “Indústria Estratégica Emergente” em planos econômicos como “Made in China 2025” e o 13º Plano Quinquenal.

A China apresentou o programa “Made in China” em maio de 2015 como um plano para transformar o país em uma potência de alta tecnologia até 2025. Menos de um ano depois, em março de 2016, Pequim publicou seu mais recente Plano Quinquenal, que pretende fortalecer a implementação do “Made in China 2025” de 2016 a 2020.

O relatório da USCC identificou vários programas estatais de pesquisa e desenvolvimento (P&D) tecnológico para impulsionar o setor de biotecnologia da China, incluindo os programas “863” e “973”, o primeiro dos quais remonta a 1986 e o segundo a 1997. Segundo o relatório, Pequim destinou 630 milhões de dólares para financiar o programa 973 em 2013.

A biotecnologia também tem sido o foco dos programas de talentos de Pequim nos últimos anos, diz o relatório, que enumera vários programas em todo o país, como o Programa Cem Talentos e o Programa Mil Talentos. Os governos regionais da China também realizam centenas de programas similares.

“Dos 2.629 recrutas estimados no programa Mil Talentos até junho de 2018, 44% são especializados em ciências biológicas ou medicina”, disse o relatório, citando números de uma audiência no Congresso dos Estados Unidos.

O relatório observa que os perigos residem no sistema político fundamentalmente diferente da China: “A China é um Estado unipartidário de estilo leninista baseado em governar por decreto e não pela lei. As ambições e intenções econômicas da China apresentam desafios para as economias mais liberais”.

O relatório recomenda que os Estados Unidos adotem políticas para mitigar “os riscos econômicos e de segurança apresentados pela abordagem estatista da inovação na China sem sufocar a inovação norte-americana”.